Por amor ao jogo, campeã mundial Alessandra segue jogando aos 42 anos
Fábio Balassiano
19/09/2016 13h00
Foi a época que consolidou Hortência, Paula e Janeth como mitos do basquete mundial e que lançou ao mundo jovens como Alessandra, pivô de 2m, inteligência acima da média na quadra e dona de personalidade fortíssima para segurar a pressão de entrar em um time de veteranas que precisavam, a qualquer custo, conquistar um título de expressão.
O tempo passou, e Alessandra rodou. Atuou em dez países (da Itália a Rússia, da WNBA a Coreia do Sul) e em clubes brasileiros. Aos 42 anos se mantém em atividade por amor ao jogo. Principal reforço de Piracicaba nos Jogos Abertos do Interior, ela conversou com o blog sobre a atual fase do esporte no país, sobre o momento de parar, a falta de carinho que os dirigentes têm com ela e muito mais. Confira o revelador papo com um mito do basquete.
ALESSANDRA: Hoje o que motiva a jogar em primeiro lugar é o amor ao basquete. É meio lugar-comum, mas é a mais pura verdade, pois sem ele não sei o que eu seria. Segundo, e te falo isso muito sinceramente, faço isso para, como ainda posso, ajudar a modalidade. Isso é o mais difícil, pois a situação em que nos encontramos não é animadora. Em terceiro lugar, porque estou bem fisicamente, não tenho dores e me cuido. Faço outras atividades para me manter em forma e creio que ainda consiga jogar bem.
ALESSANDRA: Amo jogar basquete, como te disse, mas jogar LBF não é mais para mim. E te explico, Bala. Em 2013 (Nota do Editor: jogou pelo Sport-PE, onde foi campeã) me jogaram fora da Liga, essa é a verdade. Ninguém me quis e eu fiquei mal vendo o nível de certas atletas por aí. Não poder jogar naquele momento me fez perder muito a vontade e ali cheguei a pensar em parar. Só voltei a atuar porque o agora falecido padre Divo, de Jundiaí, me chamou para dar um auxílio nos Jogos Abertos de 2013. Ali voltou a vontade de jogar desde então não parei mais. O que me deixa bastante chocada é que aqui no Brasil ainda há o estigma de falar que velho não presta. O problema é que se os velhinhos não prestam, os novos talentos com 25 anos até o momento não mostraram muita coisa, né? Isso que não entendo. Irei jogar até quando meu corpo aguentar e eu me divertir.
ALESSANDRA: Tenho CREF provisionado em basquete (Nota do Editor: Diploma para ser técnica no país), estou cursando Educação Física para trabalhar com outros esportes e entender de condicionamento físico. Além disso trabalho com basquete escolar no Projeto Gibi, ministro clínicas no Brasil e também fora. Sempre que posso viajo para tentar entender o basquete moderno. Quero ser técnica, mas não aqui. Também sou madrinha do projeto Conexão Esportiva em Santa Rita do Sapucaí (MG), que acolhe 420 crianças em 7 modalidades dos 7 aos 14 anos.
BNC: Outra coisa que me deixou surpreso recentemente foi quando te vi como attaché da seleção norte-americana durante as Olimpíadas e a reverência que atletas, comissão técnica e USA Basketball tinham para com você. Te deixa feliz, mas ao mesmo tempo triste por saber que você talvez ter mais reconhecimento por outros países do que no Brasil mesmo.
BNC: O que você, como ex-jogadora, sentiu quando viu de novo a seleção feminina ser eliminada na primeira fase de uma Olimpíada?
ALESSANDRA: Melhor nem comentar. Não assisti para não machucar meu coração. Também, Bala, te respeito, mas sei que você me entende e não vou falar nada. Se eu falar a real pessoas vão me criticar e dizer que sou recalcada. Mas a realidade está aí, claríssima.
ALESSANDRA: A questão não é criticar o sistema, mas sim dizer a realidade que muitos ou não querem enxergar ou se beneficiam desta catástrofe. Falo isso desde jogadores a pessoas que trabalham ao redor. Por exemplo: o meu processo do seguro o que você acha? (Nota do Editor: na semifinal do Mundial de 2006, em São Paulo, Alessandra se machucou com gravidade e entrou com processo contra a Confederação Brasileira). Reclamei não só por mim mas porque já naquele momento os problemas que saíram recentemente publicados por você e outros jornalistas vem de muitos anos. Quem me apoiou? Ninguém. A classe dos atletas é mais desunida que já vi.
ALESSANDRA: Lógico que concordo com sua afirmação. Muitas pessoas que veem que o trabalho precisa ser mais sério, sem trocas de favores, foram colocadas pra fora do basquete. E eu também. Mas o mais importante é que estou tranquila e tentando fazer a minha parte, que é tentar dar a fantasia para as crianças gostarem de basquete.
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