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Dez minutos com Vlade Divac, craque do basquete mundial

Fábio Balassiano

19/08/2016 01h30

Aguardando pra sair do Estádio de Remo ontem, onde fui acompanhar outro capítulo da saga de Isaquias Queiroz, vi um gigante suando pra caramba por causa do sol carioca cercado de gente pedindo fotos por todos os lados. Era Vlade Divac, mais paparicado que a dupla formada por Marko Tomićević e Milenko Zorić, que acabara de conseguir a medalha de prata no Caiaque duplo 1.000m e que estava ao seu lado.

Presidente do Comitê Olímpico Sérvio desde 2009, Vlade é um dos principais nomes da riquíssima história do basquete do país, que em sua primeira competição olímpica jogando com a bandeira da Sérvia conseguiu bater a Croácia na quarta-feira por 96-83 nas quartas-de-final e hoje faz a semifinal contra a Austrália a partir das 19h desta sexta-feira na Arena Carioca (no outro duelo, às 15h30, EUA x Espanha). Jogando pela Iugoslávia, Divac foi bicampeão mundial (1990 e 2002), duas vezes prata olímpica (1988 e 1996) e tricampeão europeu (1989, 1991 e 1995). Pela NBA, foram 15 anos entre Lakers, Charlotte e Sacramento Kings, franquia para a qual ele regressou ano passado como vice-presidente de operações de basquete. Falei com ele sobre tudo isso.

BALA NA CESTA: Quão emocionante é pra você ver a Sérvia, em sua primeira edição olímpica jogando com a camisa do país, jogar essa semifinal contra a Austrália nesta sexta-feira?
VLADE DIVAC: É maravilhoso. Por ser a nossa primeira Olimpíada, por ser em um lugar maravilhoso como o Rio de Janeiro, por ser através de uma trajetória bastante atribulada. Não começamos bem. Na verdade, o nosso time iniciou a competição muito mal. Perdemos da Austrália, que iremos enfrentar agora na semifinal de novo, tivemos um jogo maluco contra a França, mas depois creio que nosso time entendeu um pouco melhor o que é a Olimpíada quando enfrentou de igual para igual a seleção norte-americana. Ficamos a um arremesso de levar a partida para a prorrogação, e mesmo com a derrota creio que aquilo ali aumentou a nossa força para seguirmos em frente. Esperamos vencer o jogo desta sexta-feira contra a Austrália para chegarmos à final.

BNC: Um dos filmes mais conhecidos sobre basquete no nosso país é o "Once Brothers", em que você é um dos protagonistas (mais aqui). O documentário relata a difícil relação que você e o Drazen Petrovic acabaram tendo depois da separação da Iugoslávia no começo da década de 1990. Teve algum sabor diferente ter enfrentado, e vencido, a Croácia nas quartas-de-final, sendo que o técnico croata é Aleksandar Petrović?
DIVAC: A gente sabia que seria um jogo recheado de rivalidade, mas do meu lado eu só esperava que terminasse em paz. Por tudo o que já se viveu em relação aos dois países, meu único desejo era este. Hoje tenho uma relação cordial com a família Petrovic. Não posso dizer que sou amigo do Aleksandar, porque seria irreal, mas tenho um carinho muito grande por ele, pelo Drazen e por toda a família. Acho que isso está claro no documentário que você cita. Falei com o Aleksandar rapidamente depois do jogo e lhe dei os parabéns por ter colocado um grande time nesta Olimpíada. Você sabe bem do que estou falando, o grupo da Croácia, o mesmo do Brasil, era muito difícil e ele conseguiu levar o time a vitórias contra Brasil, Lituânia e Espanha, potências do basquete. Não é fácil. Mata-mata é muito difícil e infelizmente apenas um pode avançar. O filme, na verdade, foi uma busca minha para que pudesse fechar uma janela que incomodava bastante a minha alma. Hoje em dia creio que as duas famílias entendem bem o que se passou, do mal entendido que houve, e procuramos nos respeitar como pessoas, times e países. Foi tão bom ganhar deles como foi, é e será vencer qualquer outro país.

BNC: Muitas vezes as pessoas aqui no Brasil com mais de 40 comentam sobre quão bom era o time iugoslavo na década de 1980, e de quão épicos eram os encontros contra a seleção brasileira. O que você lembra dos jogos contra o Brasil?
DIVAC: Do que eu lembro? Que a gente levava muitos pontos do Oscar Schmidt e que precisávamos fazer muitos pontos para bater a seleção brasileira (risos). E que o técnico de vocês era uma fera. Qual era o nome dele mesmo?

BNC: Ary Vidal?
DIVAC: Sim. Ele mesmo. Grande treinador. Colocou o Brasil no topo do basquete por um tempão. Vocês têm uma tradição imensa na modalidade e sinto muito que não tenham passado para a segunda fase nesta Olimpíada. Falei sobre isso quando encontrei o Tiago Splitter essa semana. Sobre as partidas da década de 1980, lembro muito de duas partidas. No Mundial de 1986, na Espanha, vencemos o Brasil no jogo que nos deu a medalha de bronze, a nossa primeira conquista no basquete adulto. E teve outro em 1990, no Mundial da Argentina que vencemos, que enfrentamos o Brasil na primeira fase. Ali houve uma história engraçada, porque Drazen e Oscar estavam fazendo exatamente o que haviam feito na final da Recopa de 1989.

BNC: Aquele jogo doido em que o Drazen, pelo Real Madrid, e o Oscar Schmidt, pelo Caserta , fizeram 63 e 44 pontos, respectivamente, não?
DIVAC: Sim, este mesmo. O Oscar acertou alguns arremessos seguidos, o Drazen respondeu, o Kukoc começou a acertar também e no nosso banco a gente estava meio em transe por não acreditar muito naquilo que estava acontecendo. Quase todos haviam assistido a final da Recopa, e quase um ano depois estávamos na quadra praticamente em uma repetição do duelo de dois craques do basquete. Por sorte ganhamos aquele jogo também.

BNC: Deixe-me mudar um pouco de assunto. Você é vice-presidente de operações do Sacramento Kings. Qual a expectativa para a franquia na próxima temporada?
DIVAC: Olha, são muito grandes. Não jogamos um playoff desde 2006 e sabemos que temos condição técnica de estar lá. Contratamos um treinador novo, o David Joerger, em quem eu confio muito, temos alguns grandes jogadores e sabemos que a cidade, a organização e os proprietários estão esperando muito da gente nos próximos anos. Precisamos nos esforçar muito para alcançar os nossos objetivos. Não será fácil, porque a NBA é uma liga que não permite muitos erros, muitos sobressaltos, mas estamos confiantes. Nosso primeiro passo é chegar aos playoffs, sem dúvida alguma.

BNC: O dono do Sacramento Kings, o Vivek Ranadivé, está no Brasil para as Olimpíadas e vimos algumas imagens (foto ao lado) suas em alguns momentos trocando ideia com o DeMarcus Cousins, que joga pelos EUA e que é a principal peça do Kings. Essas conversas passam pouco pelo lado técnico, porque ele é um grande jogador, e mais pela questão de ele ser um líder, uma inspiração dentro e fora de quadra, de ele ser alguém confiável para torcida e companheiros?
DIVAC: Na verdade aqui a gente conversa pouco sobre a NBA, sobre o Kings, porque ele está representando o país dele e eu estou monitorando os resultados da Sérvia. Mas sempre que posso falo alguma coisa, oriento, passo alguma informação. Ele sabe o que é preciso fazer para se tornar definitivamente um jogador de impacto que traz vitórias e credibilidade a seu time. Em termos de números pessoais ele já tem. Agora é preciso que todos juntos, não só o DeMarcus, coloquemos o Kings de volta ao playoff.

BNC: Gostaria de fechar com você falando sobre o Kobe Bryant. Em 1996 você foi trocado para o Charlotte Hornets, que enviou o então menino Kobe para o Lakers. Em 2016 ele se aposentou como um dos melhores de todos os tempos. Como é pra você fazer parte disso mesmo que indiretamente?
DIVAC: Indiretamente, não. Eu tive participação fundamental na vida do Kobe (risos). Estou brincando, mas eu disse isso a ele na última vez que ele foi a Sacramento. Não sei se você sabe, mas quando o Lakers me mandou pra Charlotte eu falei pra minha esposa que iria me aposentar. Se eu tivesse feito isso, muitas coisas poderiam ser diferentes, né? Mas a verdade é que o Kobe teve uma carreira brilhante. Foi um dos melhores que já pisaram em uma quadra de basquete e tenho um respeito enorme pelo que ele acrescentou ao jogo tanto dentro quanto fora de quadra. Tivemos nossos embates na época em que eu jogava pelo Kings, ele e Shaq pelo Lakers, e posso te dizer falando que ele era tão bom quanto arremessando (risos).

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