Valanciunas quer levar tradicional Lituânia, primeira rival do Brasil, ao pódio no Rio-2016
Fábio Balassiano
01/08/2016 01h17
Primeira adversária do Brasil no Rio-2016 (sábado, 14h15), a Lituânia, que ontem perdeu da seleção brasileira no Torneio Amistoso de Mogi por 64-62, tem em Jonas Valanciunas a principal esperança para conquistar uma medalha olímpica que não vem desde o ano 2000. O pivô de 2,13m e 24 anos do Toronto Raptors, vice-campeão europeu em 2013 e 2015 e presente na equipe nacional que foi a Londres-2012 (oitava colocação, a pior da história lituana), conversou com o blog com exclusividade a respeito das Olimpíadas. Confira!
JONAS VALANČIŪNAS: Na Lituânia a expectativa em cima da nossa seleção de basquete está sempre no mais alto nível. Os torcedores sempre esperam que fiquemos entre os melhores para trazermos medalhas para casa. Não há nada diferente disso por lá. Em 2004 e 2008 terminamos a um passo do pódio, e você sabe que o quarto lugar é o pior. Significa que você tenha perdido o seu último jogo, que não terminou com uma medalha, e isso é uma maneira muito decepcionante e triste para terminar uma participação nos Jogos. Acho que isso tudo nos dá a motivação adicional para os Jogos do Rio de Janeiro.
VALANČIŪNAS: Acho sinceramente que devemos pensar neste duelo como um jogo normal, um jogo como outro qualquer. Encararmos de forma diferente é algo que não faremos. O que não invalida o fato de dizer que jogar contra o anfitrião sempre seja uma tarefa dura. Acredito que a torcida brasileira apoiará a sua seleção com toda força. Ao mesmo tempo, vamos ser sinceros, a torcida que apoia também pode colocar pressão sobre a equipe brasileira também caso as coisas não estejam fluindo como ela, a torcida, espera.
VALANČIŪNAS: Sim, nós falamos sobre as Olimpíadas durante a temporada de vez em quando. Uma pena que eles não estejam jogando. De todo modo, eles prometeram me levar para jantar no Rio de Janeiro. Espero que eles se lembrem (risos).
VALANČIŪNAS: Jogar uma Olimpíada é provavelmente a melhor coisa que você terá como atleta profissional. Especialmente agora, quando até mesmo a qualificação para os Jogos Olímpicos é tarefa muito difícil. Muitas nações de basquete muito bom, como Itália, Turquia, Canadá e outros não conseguiram se classificar. Isso fala muito sobre o alto nível de basquete praticado mundialmente, né? Quanto a mim, acho que me desenvolvi muito nos últimos quatro anos que você cita. Jogando na NBA desde 2012/2013 e na seleção em competições internacionais me deu muita experiência, mas sobretudo a chance de melhorar minhas habilidades de basquete. Mas como atleta profissional eu sei que não posso parar. Sinto que posso ser um jogador ainda melhor em muitos aspectos do jogo. Tento não impor limite para o meu crescimento e acho que isso tem dado certo ao longo do tempo.
VALANČIŪNAS: Você sabe bem, Fábio, o Arvydas é uma lenda do basquete. Uma lenda não só na Lituânia, mas também em todo o mundo. É incrível ver como as pessoas nos cantos mais distantes do mundo reconhecem o Arvydas mesmo 10 anos depois de ele ter parado de jogar. Isso mostra um pouco do tamanho da carreira que ele teve no basquete. No nosso país, mais do que uma referência técnica ele é uma reserva moral, alguém que nunca nos decepcionou dentro e fora da quadra. Para mim é sempre uma grande honra obter conselhos dele – seja sobre técnicas de basquete na quadra, ou outras coisas, como a forma de lidar com a pressão, gerenciamento de carreira, essas coisas. É uma honra e um privilégio tê-lo por perto.
VALANČIŪNAS: Meio incrível isso, né? Algumas pessoas dizem que há algo na água que bebemos em nossas casas (risos). Mas, falando sério, acho que começa com a tradição. Ela vai como uma tocha de uma geração para a seguinte. Cada geração tem a obrigação de continuar não só com a mentalidade vencedora, mas também passar valores para o próxima – como o orgulho de jogar pela nação e o significado que o nosso time tem para todo país. Quem quer entender o que o basquete significa para o meu país deveria visitar o meu país durante um jogo da seleção. Aí sim é possível ver como a torcida fica realmente enlouquecida e emocionada ao ver a nossa equipe em quadra. Creio que durante os jogos de basquete o país inteiro se esquece das outras coisas – política, economia, tudo. Todo mundo está unido e a única coisa que importa é como os rapazes de verde estão atuando. Como um jogador, quando você tem este tipo de apoio, este tipo de tradição, você não precisa de nenhuma motivação adicional para pisar na quadra quando veste a camisa da seleção.
VALANČIŪNAS: Boa pergunta. Mas você veja. Conseguimos ir da maneira mais difícil aos Jogos quando vencemos o Pré-Olímpico da Venezuela quatro anos atrás. E ao mesmo tempo que isso te dá ritmo de jogo, te coloca em uma situação física difícil pois é preciso chegar no auge físico e também técnico duas vezes em um período muito curto. Não são muitas as seleções que conseguem administrar bem isso. Nós mesmos, em 2012, Londres, tivemos problemas em relação a isso quando chegamos apenas no oitavo lugar. O importante mesmo é jogar a Olimpíada, sabemos disso, mas creio que o ideal, ideal mesmo, é ter uma preparação sólida, com tempo para ir crescendo gradativamente, com amistosos, treinos específicos e tempo de descanso.
VALANČIŪNAS: Cara, foi muito difícil ficar sentado nos playoffs devido a minha lesão. Não ser capaz de ajudar a meus companheiros foi frustrante. Mas não há nada de muito diferente que se possa fazer, não é mesmo? Lesão é a parte mais dura e cruel de qualquer esporte. Então você só tem que se manter forte mentalmente para passar pelo período complicado da melhor maneira possível. Ainda está muito longe para falar da próxima temporada, mas estou confiante. Neste momento, minha mente está forcada somente para os próximos Jogos Olímpicos.
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