Especialista sobre contas da CBB: 'Gestão Financeira deixa muito a desejar'
Fábio Balassiano
30/06/2016 06h00
Por Professor Jorge Eduardo Scarpin, Docente do Mestrado em Ciências Contábeis – UFPR (mais aqui). E-Mails para: jscarpin@gmail.com .
Um ponto negativo, antes de qualquer análise é: assim como em 2013 e 2014, a piora na evidenciação das informações por parte da CBB. Em 2015, 2014 e 2013, ao contrário dos anos anteriores, não há notas explicativas sobre as despesas da entidade, tais como Eventos, Competições Nacionais e Competições Internacionais, bem como sobre adiantamentos de cotas de patrocínio. Isto dificulta a análise e faz com que tenhamos que trabalhar com estimativas com base em outros dados do balanço.
Um ponto positivo é que, ao contrário de outros anos, não houve uma ênfase da auditoria quanto a situação econômica da entidade, o que expressa uma melhora na situação como um todo, embora ainda esteja bem ruim.
Vamos à análise técnica dos principais elementos do patrimônio da CBB:
1. Endividamento
Apesar do bom nível de contabilidade da entidade, pela própria característica da CBB, que é trabalhar com convênios, os balanços ficam um pouco confusos e um ajuste precisa ser feito para fins de análise. Tal procedimento é relativamente comum, pois a visão de um analista é diferente da visão interna de uma empresa. Sendo assim, os valores passam a ser os seguintes:
Para chegarmos ao valor total das dívidas da CBB, deve-se somar o Passivo Circulante (dívidas já vencidas ou que vencem no ano de 2015) e o Passivo não Circulante (dívidas que vencem após 31/12/2015). Considerando os valores reclassificados, observa-se um montante de dívidas no valor de R$ 17.206.453. Com exceção de 2012, quando houve uma leve melhora, os números são crescentes e preocupantes. O gráfico abaixo dá uma boa dimensão do problema.
Os empréstimos bancários totais foram reduzidos de 5,2 para 4,1 milhões de reais (20% em relação ao ano anterior). Cabe então uma questão: como a dívida cresceu se os empréstimos bancários diminuíram? A dívida cresceu principalmente por adiantamento de cotas de televisão e de patrocínio, que a CBB recebeu de forma antecipada, passando de 1,1 milhão em 2014 para 5,2 milhões em 2015. Isso significa que nos próximos anos pode haver menor entrada de recursos por conta disto. Infelizmente a nota explicativa sobre o assunto… nada explica ao dizer laconicamente "referem-se ao adiantamento de cotas televisivas e de patrocínio da temporada 2016".
No caso da CBB não é assim. Apenas de dívidas de curto prazo, com vencimento no ano de 2016, o montante é de mais de R$ 13 milhões (depois da reclassificação). Há, também, cerca de 4 milhões de reais que a CBB considera que terá que desembolsar no longo prazo.
Um fato relevante a ser considerado é que, até 2014 a CBB reconhecia um direito a receber de curto prazo de R$ 661.700 da Eletrobrás (R$ 577.941) e Bradesco (R$ 83.759) e agora já reconhece que esses valores serão recebidos apenas no longo prazo – se o forem. O gráfico abaixo mostra a piora acentuada ano a ano do endividamento da CBB ao longo dos últimos sete anos.
Em relação ao prazo da dívida com bancos, a situação piorou um pouco. Em 2012, 41% dos empréstimos eram de curto prazo e 59% de longo. Em 2013, 45% de curto prazo e 55% de longo prazo. Em 2014, 44% de curto e 56% de longo prazo. Em 2015 os números passam de 75% de curto prazo e 25% de longo prazo, o maior valor da série até aqui. Olhando os dados na nota explicativa, temos os seguintes valores de empréstimos.
Analisando os valores, podemos observar que o empréstimo do Banco Itaú de curto prazo se manteve e houve uma redução do empréstimo de longo prazo, o que mostra que a CBB não deve estar renovando esta dívida. Já a dívida do Banco Bradesco diminuiu no curto prazo e zerou no longo, mostrando que o Banco passou a injetar recursos como patrocínio, não renovando as linhas de empréstimo. Além disso, um fato chama a atenção. Até 2014 a dívida da CBB era com grandes bancos de varejo (Itaú, Bradesco, Banco do Brasil etc.) e em 2015 aparece de menor porte como credora da CBB, chamada Lecca Financiamento.
Um fato que causou estranheza foi a não evidenciação, em nota explicativa, do processo judicial movido pela empresa Champion Products Europe Ltda contra a CBB referente a um contrato preliminar de patrocínio, firmado em 31/12/2008. Este processo estava em 2013 com um saldo de R$ 4.175.535 e não foi informado se o processo continua transitando na justiça ou se a CBB venceu a causa.
2. Prestação de contas
No ano de 2014 e 2015, um valor novamente me saltou aos olhos. Há R$ 690.778 referentes ao projeto "Campeonato Nacional Feminino de Basquete", competição que já não é mais organizada pela CBB. Nesta conta, o valor de 2011 a 2013 foi de 590.791 passando para os R$ 690.778 em 2014 e 2015. Entretanto, como não há abertura maior sobre a razão pela qual o valor ainda permanece no balanço, não podemos fazer afirmação nenhuma neste sentido.
3. Superávit ou Déficit
Aqui temos a melhor notícia sobre o balanço da CBB. Pela primeira vez na série que começou em 2012, a entidade apresentou superávit, ainda que pequeno. Depois de atingir um pico em 2014, houve uma melhora nas contas do ano de 2015, como mostra o gráfico a seguir.
As receitas ficaram praticamente estáveis em relação ao ano de 2014, o que evidencia que a queda ocasionada em 2014 não foi pontual, tendendo a ser um novo padrão para a CBB. O gráfico a seguir mostra bem essa realidade.
a) Juros. A CBB paga juros a bancos e paga desde 2009, e, embora tenha havido uma queda no ano de 2014, o valor voltou a subir em 2015, principalmente por conta do aumento das dívidas da entidade. Em 2009, a despesa com juros somou R$ 29.286, em 2010 somou R$ 833.234, em 2011 R$ 1.272.059, em 2012 recuou para R$ 717.950, em 2013 aumentou para R$ 2.524.094, em 2014 recuou para R$ 829.524 e em 2015 subiu para R$ 1.915.453, o segundo maior da série histórica. O gráfico a seguir exemplifica melhor essa piora.
a.1) Manutenção da estrutura da CBB: Aqui a melhor notícia do balanço. As despesas com pessoal somadas às demais despesas administrativas da CBB somaram R$ 8.315.568 (redução de 34% em relação a 2014), ou, em média, R$ 692.964 mensais. Isto tudo sem considerar os gastos com eventos propriamente ditos, só com a operação administrativa da CBB. Este número é o segundo menor da história, voltando praticamente ao nível de 2010. O gráfico a seguir mostra a evolução dos números.
b) Competições. Infelizmente, neste ponto não há muito o que comentar. A CBB não mais separou os gastos em competições nacionais e internacionais, nem mencionou especificamente os gastos em cada uma delas. Podemos apenas ver que o gasto ficou praticamente constante, passando de 13,6 milhões em 2014 para 13,5 milhões em 2015.
4. Conclusões
Ressalte-se que toda esta análise foi feita com os dados fornecidos pela própria CBB em seus balanços, sem nenhuma montagem minha quanto a números, bem como nenhum acesso a informação privilegiada.
Sobre o blog
Por aqui você verá a análise crítica sobre tudo o que acontece no basquete mundial (NBB, NBA, seleções, Euroliga e feminino), entrevistas, vídeos, bate-papo e muito mais.