Especial Kobe Bryant: Histórias inspiradoras sobre a força mental do craque
Fábio Balassiano
12/04/2016 17h00
Alguns detalhes: 1) Depois de um jogo jogo (reforçando); 2) O cidadão já tinha 5 anéis de campeão; 3) O Lakers liderava o Oeste na época; 4) O avião sairia em três horas. Alguns atletas preferiram sair pra jantar. Kobe preferiu treinar; 5) Ele voltou SOZINHO à quadra; 6) O rapaz já tinha 32 anos.
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"Rob, não estou atrapalhando nada, certo?"
"Não, Kobe. Tudo certo?"
"Eu estava me perguntando se você poderia me ajudar com um treino físico agora."
Olhei no relógio. 4:15 da manhã. "Sem dúvidas, chegarei ao complexo em alguns minutos".
Eu era aguardado no ginásio novamente às onze da manhã. Acordei me sentindo sonolento, um pouco tonto e com todos os outros sintomas que resultam da falta de sono. Obrigado, Kobe. Comi um pão e saí para o complexo. Todos os jogadores da Seleção estavam lá, animados para a primeira sessão de treinamentos. LeBron conversava com o Carmelo se me lembro bem e o Coach Krzyzewski explicava alguma coisa para o Kevin Durant. Do lado direito da quadra estava o Kobe sozinho treinando arremessos. Passei, o cumprimentei e disse:
"Como?"
"Quero dizer, no treino físico. Bom trabalho."
"Ah, sim, obrigado, Rob. Eu realmente agradeço."
"Então, quando foi que você terminou?"
"Terminei o quê?"
"Os arremessos. Que horas você saiu da quadra?"
"Eu não saí da quadra desde aquela hora. Queria fazer 800, então só agora, então estou desde aquele momento (4h da manhã) treinando".
Começou às 4h da manhã, eram 11h da manhã, ele não havia descansado. Meu queixo caiu".
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No dia 26 de agosto os EUA enfrentariam o Brasil. Do outro lado da quadra estaria Leandrinho, que tinha alucinado o Lakers, de Kobe, nos playoffs dos dois últimos anos (2006 e 2007). Embora não fosse uma figurinha nova para ele, o camisa 10 da seleção norte-americana não queria ser surpreendido. No final do treino conversou com Roy Williams, técnico de North Carolina e assistente de Coach K, e pediu:
– Como assim, Kobe? Você sabe como marcá-lo. Jogou contra ele não tem dois meses, não?
– Não. Preciso que você me entregue um compilado dos arremessos dele neste Pré-Olímpico e as diferenças de jogo para jogo. Amanhã não posso deixá-lo respirar.
No dia seguinte, uma das fotos mais incríveis da seleção norte-americana naquela competição (esta daqui do lado) mostra bem o que Kobe, na época um jogador com três títulos da NBA e o líder do time, queria: atazanar a vida de Leandrinho. O ala brasileiro errou seis de seus sete arremessos, desperdiçou quatro bolas e não teve forças para segurar o camisa 10 americano na defesa (Kobe teve 20 pontos). No final do jogo (113-76), Roy Williams ainda escutou: "Se não fosse o DVD e a apostila não teríamos vencido".
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"Sempre fiz questão de ser o primeiro a chegar ao trabalho. Mas Kobe sempre dava um jeito de me superar. Eu morava a dez minutos do ginásio. Ele, a 45.
Um dia, na pré-temporada de 1999, ele quebrou o punho direito. A quadra, imaginei, ficaria só para mim. Mas, para minha vergonha, na manhã seguinte lá estava ele no ginásio – um braço engessado, o outro com a bola. Enquanto o time se ajustava para a estréia, percebi que Kobe seguia uma rotina peculiar.
Ele driblava, fintava, passava e chutava com a canhota. Parecia obcecado em reaprender tudo o que fazia com a mão direita.
Certa manhã, ele me chamou para um duelo de arremessos. Fiquei insultado. Ele acreditava que podia derrotar a mim, um especialista em tiros de longa distância, e sem uma mão. A mão boa! Como assim? Topei. Seria um prazer fazê-lo engolir a mania de grandeza.
Por pouco escapei do maior vexame de minha carreira. Foi só por uma cesta que o venci. Uma só.
Mas o melhor veio não contra mim em um treino, mas quando sarou e voltou a jogar. Logo em seu primeiro lance Kobe driblou e chutou com a mão esquerda. O arremesso nem aro deu. Mas isso não importava pra ele.
O banco olhou meio assustado, achou que ele estava maluco. No ataque seguinte, um drible de canhota, um passe, outro drible e um arremesso certeiro. De canhota. Diante de milhares de pessoas e das câmeras de TV, ele quis provar que também podia brilhar com a canhota".
John Celestand, companheiro de Kobe Bryant no Lakers em 1999.
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