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Barbosa afirma que Érika e Clarissa serão liberadas antes da WNBA

Fábio Balassiano

02/04/2016 13h00

A Parte I você leu aqui ontem

BALA NA CESTA: Como vai ficar a questão da WNBA? As meninas serão liberadas antes?
ANTONIO CALROS BARBOSA: Aí uma notícia que lhe dou em primeira mão. A Adriana Santos (Supervisora) está sendo uma grande parceira neste sentido. Equilibrada, de ação e muito responsável. Ela conversou com o Fábio Jardine, empresário da Érika e Clarissa, e conseguiu que ambas joguem até o dia 15, chegando para se integrar ao grupo no dia seguinte e uma semana antes do previsto. Já são 21 dias antes e com elas vindo de ritmo de jogo. A questão da Damiris ainda está em aberto, mas estamos tentando a mesmíssima coisa. Quando eu fui pro Mundial da China, em 2002 e fomos sétimos lugares, a Janeth e a Helen encontraram comigo sabe aonde? Em Guarulhos, no Aeroporto. Não treinaram nada comigo. A Érika jogava no Los Angeles Sparks foi encontrar comigo no meio do caminho. Fui ter as 12 que jogariam a competição uma semana antes de começar o torneio. Já foi bem pior, viu…

BNC: Sobre a preparação, como vai ser? O que já temos de certo?
BARBOSA: A CBB tinha um esboço de programação já há muito tempo. Só que não dá culpar a Confederação por tudo porque o convênio só foi assinado recentemente. Com a confirmação da verba podemos planejar melhor. Agora a Adriana contatou Espanha, França e outras seleções para fazermos amistosos. Teremos um Sul-Americano de 21 a 27 de julho na Venezuela, iremos completos, mas sem as da WNBA. Jogaremos com Cuba, provavelmente, e estamos programando amistosos na Europa. Nós não podemos contar só com os times que chegam uma semana antes aqui. Precisa de jogo, jogo mesmo, com arbitragem, torcida, imprensa, pressão. Nós iremos acertar, pode ter certeza disso. Iremos acertar isso no Pré-Olímpico Mundial que irei com a Adriana na França. Iremos acompanhar os nossos rivais, mas também para acertar esses amistosos.

BNC: Dá pra perceber um otimismo muito grande em você com relação a esta equipe.
BARBOSA: Essas meninas não desaprenderam a jogar basquete, Bala. Temos uma base. Você não pode dizer que um time com Iziane, Adrianinha, Clarissa, Damiris, Érika e Nádia não seja uma equipe altamente competitiva. E tem mais, Bala. Você sabe disso. Eu acompanhei os últimos campeonatos aí, e na Olimpíada passada a França ficou com o vice-campeonato. Não é um timaço de bola, uma equipe brilhante, não. É um time, sim, bem treinado, organizado, que joga junto há muito tempo, que faz sempre amistosos de bom nível e que tem uma confiança muito grande. Se nós trabalharmos bem, temos chance. E o grande trabalho que temos que fazer com elas não é o técnico ou tático, não, mas sim o de resgate da confiança delas. É o resgate da autoestima delas.

BNC: Podemos esperar um Barbosa ainda mais falante, passando confiança para este grupo então?
BARBOSA: Creio que sim. Mulher é diferente de homem. Tratá-las da mesma maneira, no sentido de liderá-las, é um equívoco. O nível de sair do ponto, de sair do ponto de equilíbrio, é muito sutil. Então não adianta você perder um jogo que não estava no seu programa perder e virar um caminhão de bronca em cima das meninas. Não adianta nada, nada mesmo. Eu, por exemplo, acabo o jogo e não entro em vestiário nem pra elogiar e nem pra dar bronca. Entro no ônibus, fico lá esperando e vou falando uma a uma. Se perdemos, falo um "parabéns, você foi muito bem. Não deu hoje, mas amanhã nós vamos melhorar" e tento mostrar a elas, sutilmente, o que podemos fazer de diferente no dia seguinte no treinamento. Elas sabem que eu sou um cara que segura a bronca, e não que as expõe perante a opinião pública. Talvez estivesse faltando um pouco disso antes.

BNC: Nas suas entrevistas você mais do que as entrevistas tem dado recados às meninas. É assim mesmo, mais a parte psicológica do que a técnica?
BARBOSA: Olha, Bala, a qualidade técnica delas é indiscutível. A parte técnica delas é boa. Elas não são jogadoras ruins, não. Bem longe disso. A minha filosofia de jogo, você sabe como é, eu faço de acordo com as jogadoras que tenho – e não o contrário. Eu preciso me adaptar ao que terei em mão, e não fazer com que elas se adaptem ao que eu penso de basquete. Isso não faço. Se você voltar aos meus tempos de técnico, a Janeth arremessava basicamente em duas posições. Era tudo planejado para isso. As pivôs sempre recebiam bolas, muitas bolas. É algo que olho muito para este elenco. Nós temos quatro, cinco pivôs de alto nível. Qual seleção tem isso hoje em dia no mundo?

BNC: Você fala dessa questão de pivôs, e de fato uma das grandes críticas que se fazia a seleção é que não havia jogo com as meninas perto da cesta. É por aí que passa o sucesso da equipe na Olimpíada?
BARBOSA: Na Olimpíada de 2000, inclusive, a Alessandra foi uma das cestinhas. A Alessandra sempre foi muito municiada, como acredito que teremos que fazer com estas meninas. No evento-teste a Érika fez 20 pontos contra a Austrália. Há quanto tempo ela não fazia isso? O sistema precisa fazer sentido para a jogadora.

BNC: Uma coisa me chamou a atenção é que deu pra sentir a seleção feminina mais confiante em quadra no evento-teste. Por mais que não seja o time que irá a Olimpíada…
BARBOSA: Foi um catado aquilo ali, né?

BNC: Pois é. Mas tirando toda confusão que houve, qual a sua emoção de retornar à seleção depois de quase nove anos?
BARBOSA: Foi extremamente gratificante retornar. Primeiro porque eu não imaginava a aceitação imensa que eu tive das meninas e da própria imprensa. Não houve crítica, não houve barulho. O grande negócio é você ir de encontro à expectativa que se cria. O Feminino tentou inúmeras coisas: um que veio de fora, um do masculino, novo, velho e nada certo. Então eu volto sem nenhuma expectativa por resultado. Costumo dizer que um homem maduro é aquele diminui a distância entre os momentos tristes e os alegres. Hoje em sinto assim.

BNC: Eu sempre apoiei a renovação na seleção feminina, mas não simplesmente trocar a mais velha pela mais nova. O que sempre achei certo era colocar as mais jovens, dando subsídios a elas para crescer com a equipe nacional. Isso não aconteceu e pelo que vejo de você não tem essa mais de levar novinha, né? Vão as 12 melhores, mesmo que estas 12 tenham 45, 50 anos, certo?
BARBOSA: É por aí mesmo. Primeiro: a mulher, com exceção das grandes gênios que conhecemos (Hortência, Paula, Janeth etc.), chega a um amadurecimento técnico ali pelos 26, 27 anos. Então as coisas demoram. A renovação não foi mal sucedida, algumas jovens eu irei aproveitar, mas é preciso ter calma com elas. As que não foram no evento-teste perderam uma chance, não serão retaliadas, mas quem veio obviamente sai na frente. A Isabela Ramona foi muito bem, por exemplo. Estou de olho em algumas que gosto muito, como Paty, Taty Pacheco e Tainá também. Olimpíada é momento.

BNC: Por fim, qual a sua expectativa real para a Olimpíada?
BARBOSA: A gente não pode ter medo de pensar grande, de ter expectativas positivas. Se a gente não chegar ao pódio, nós iremos chegar próximos. Na minha cabeça não aceitaria ficar fora dos oito. E ali, entre os oito, é um jogo que define se você irá brigar por medalha ou não. Você lembra o que aconteceu conosco na Olimpíada de 2000? Perdemos um jogo na fase de classificação contra o Canadá que não era pra perder. Fomos cruzar contra a Rússia, segunda colocada do outro grupo, nas quartas-de-final. Ganhamos delas e depois ficamos com o bronze. Temos que ter isso em mente. Nos posicionar da melhor maneira entre os oito e, ali sim, fazermos um jogo muito bom para quem sabe almejar a medalha.

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