Surpreendente, jovem Deryk, de 21 anos, brilha em Brasília no NBB
Fábio Balassiano
28/03/2016 01h50
DERYK RAMOS: Estou muito feliz, sem dúvida alguma. É um reconhecimento, né? Reconhecimento por parte do público pelo fato de eu estar fazendo um campeonato bom, de estar entre os melhores do NBB. Ser votado, ser escolhido me dá uma felicidade imensa. Mas da mesma forma que é muito feliz quis aproveitar ao máximo o fim de semana em Mogi. É algo muito diferente de tudo aquilo que já tinha vivido. O clima, a descontração, a ausência de pressão, é tudo muito distinto. A gente sai fora do clima tenso de jogo atrás de jogo. É bom, né? Tem as ações sociais, as crianças, o carinho dos fãs. Foi muito legal.
DERYK: Você falou bem. Primeiro veio o reconhecimento dessa galera que você citou, e isso já é muito legal e gratificante. Depois disso vem a parte da torcida. E a quantidade de votos também não foi pequena. Isso tudo me deixa mais e mais motivado a seguir evoluindo no basquete, pois o esforço está sendo acompanhado por imprensa, técnicos e torcedores.
DERYK: Primeiro que eu nunca esperava que fosse acontecer o que aconteceu em Limeira. Nunca, nunca mesmo. Da forma como o basquete era tratado, pelo profissionalismo, por tudo o que acontecia dentro e fora das quadras, jamais imaginávamos que algo daquele gênero poderia passar. Foi um baque, porque realmente do nada a gente recebeu a notícia e no momento seguinte todos estávamos sem time. Foi um tombo muito grande. Primeira vez que isso aconteceu comigo. Já tinha ouvido de companheiros, de amigos, mas comigo, comigo mesmo, foi a primeira vez. É óbvio que fiquei muito triste, sou da cidade, cresci como pessoa e atleta naquela equipe, mas logo depois comecei a pensar na minha carreira. Não tinha outra coisas pra fazer, né? O problema foi, para os atletas, o momento em que o time anunciou que não jogaria o próximo NBB. Quase todos os elencos já estavam fechados, quase todos os orçamentos já tinham sido organizados para os atletas e não era uma questão de eu escolher onde eu quereria jogar, mas sim qual clube poderia contar comigo. Não era só eu que estava sem time, né? Eram nove, dez atletas na mesma situação. Tive algumas propostas, mas eu quis ir para Brasília, e posso te dizer do fundo do meu coração que um dos motivos foi o fato de poder estar jogando junto do Fúlvio. Eu tinha muito comigo que ele, Fúlvio, tem coisas que preciso muito melhorar, ou seja, essa parte de leitura de jogo, de passes, de controle da partida. Estar convivendo com um cara assim no dia a dia, nos treinos, nos jogos, nas viagens, só poderia me trazer benefícios. Eu cresceria, eu aprenderia. Eu queria continuar evoluindo. Eu sempre tinha visto esse cara jogando e ficava maravilhado. Jogando, convivendo, ouvindo os conselhos dele é totalmente diferente. É muito melhor, claro. Além do Fúlvio, há o fato da cidade de Brasília ser um polo importante para o basquete. É um time tricampeão de NBB, com inúmeras conquistas internacionais e há uma história muito forte no basquete. Vivendo em um time desses é uma atmosfera diferente, uma pressão maior. Passar por isso é muito bom, me ajuda a amadurecer muito.
DERYK: Eu sempre fui muito observador. Joguei com vários excelentes armadores, como Nezinho, Hélio e Benite, que passaram em Limeira. Então o simples fato de estar no dia a dia com aquela pessoa te faz evoluir. Ganhei muito com esses caras do lado em Limeira. Isso também acontece com o Fúlvio, mas ele vai além. Tem a parte dos toques, dos conselhos, de explicar o porquê de ele ter feito uma determinada jogada em detrimento da outra, de perguntar o motivo pelo qual eu optei por uma ação e não outra, essas coisas. O cara sempre me ajudou muito, muito mesmo. São detalhes que parecem bobos, mas é essa diferença mínima de tempo que te faz encontrar um cara livre, um companheiro em boa condição de arremesso para ganhar o jogo como foi a jogada contra o Flamengo em que ele descobriu o Ronald passando por debaixo da perna de um adversário. Isso está agregando muito para a minha carreira. Essa questão de leitura de jogo é treinar, olhar, observar, ouvir e estar aberto a aprender. Não é só ele, né? Ele joga na minha posição, mas tem o Giovannoni, Arthur, tudo jogador de muito nome e que certamente têm muitas coisas para me passar.
DERYK: Cheguei lá e não tinha ideia de como seria. Nunca tinha saído de Brasília, Bala, nunca tinha jogado fora. Meus pais tentam fingir que está tudo bem, que estão apoiando, mas você sente que é uma situação complicada. Mas a gente sempre se falou todos os dias, mesmo nos períodos de seleção, então agora não é diferente neste sentido. A gente está longe, mas não se distancia. O engraçado é que o começo foi meio às pressas. A gente fechou em um dia à noite, no outro pela manhã eu estava viajando porque teríamos a Sul-Americana. A cabeça estava a mil, você deve imaginar. Pra você ter ideia eu não tinha nem casa pra ficar e acabei dormindo algumas noites na casa do Guilherme Giovannoni, que me acolheu como um irmão. Sou muito grato a todos de Brasília por causa dessa recepção, desse carinho comigo.
DERYK: Sem dúvida nenhuma é um sonho, é algo que penso. É uma oportunidade única de jogar uma Olimpíada no Brasil. Mas ao mesmo tempo que é uma chance única eu também não posso ficar consumido por isso. As coisas precisam acontecer naturalmente. Eu não posso forçar alguma coisa ou mudar o meu estilo de jogo para que isso aconteça. Se rolar, vai ser natural. A forma carinhosa que eu fui recepcionado em Brasília também contribui para o meu crescimento, sabia? Não tenho dúvida disso. Os atletas se envolveram pessoalmente para que eu fosse para a equipe, e uma das formas que eu tenho de retribuir esse carinho é me esforçando muito em treinos e jogos. Sobre a seleção, é isso: tem que acontecer de forma natural. Eu só preciso estar pronto para quando a oportunidade aparecer. É para isso que eu treino, me esforço.
DERYK: (Risos) É verdade, mas eu posso explicar melhor isso. Como eu ia de ônibus para o treino, eu levava a bola para ficar o dia inteiro com ela e não precisar pegar a chave para começar ou terminar a treinar. Maníaco, né? E nos fins de semana eu precisava da bola para ficar com ela o dia inteiro no clube. E meus pais e minha irmã ficavam comigo nessa. Treinando, catando bola, me ajudando nos treinos. Eu ficava jogando contra meu pai, minha mãe e minha irmã. Por isso ia e saía do clube com a bola. Em casa ela (bola) ficava no meu quarto.
DERYK: Por incrível que pareça não mudou nada, nada mesmo. Em Limeira tinha amigos e família, mas o basquete sempre esteve acima de tudo. Em Limeira sempre cheguei uma hora antes no ginásio e sempre fiquei mais de duas horas me aprimorando depois dos treinos. Sempre me dediquei muito. Em Brasília é a mesma coisa. A diferença maior é em casa. E te explico: em Limeira, por mais que estivesse em família, a gente ficava vendo basquete. Sou meio tarado, você sabe disso. Em Brasília é igual, mas acabo assistindo mais sozinho. Com o meu pai, por exemplo, a gente fala quase que o dia todo de basquete. A dedicação sempre esteve muito alta comigo e nunca será diferente.
DERYK: Na minha cabeça a Europa iria agregar muito ao meu basquete, pois meu objetivo é único: crescer, crescer e crescer. Não quero colocar limite para o que poderei crescer. Jogar na Europa é um sonho, claro. O quanto você pode aprender lá é muito incrível, pois eles estão na frente da gente. Atuar na NBA também é um sonho. Todo jogador de basquete vai te falar isso, e comigo não é a mesma coisa. Mas tento pensar muito nos passos de curto prazo. O que eu preciso fazer agora para, lá na frente, colher? O que eu gostaria pra próxima temporada? Eu não gosto muito de contar com as coisas. Não dá pra ter certeza de absolutamente nada. Procuro aproveitar o momento em que eu estou. Tem um playoff importante vindo aí e quero estar focado em como ajudar Brasília da melhor maneira possível.
DERYK: Eu e meus pais sempre estivemos muito juntos. Então toda ajuda que eu sempre precisei eles me ajudaram e todo auxílio que eles precisarem eu irei ajudar. Não houve nada específico, nada que eu possa te dizer, mas é claro que no que posso eu vou ajudando, vou contribuindo. Essa convivência pra mim já é muito emocionante. Eu faço o que posso e o que eu não posso para dar suporte a eles. Nunca fomos uma família ostentação. Sempre fomos muito simples e eles todos me apoiaram na minha decisão de me tornar um jogador de basquete. Sou grato eternamente a eles por isso.
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