Começou assim o mês de março de Marcelinho Huertas no Los Angeles Lakers:
É óbvio que a atuação de ontem chamou mais atenção. Foi contra o atual campeão, contra o melhor e mais badalado elenco da atual temporada, com Steph Curry do outro lado, em uma partida de TV aberta nos Estados Unidos (e o Sportv exibindo aqui) e uma oportunidade monstruosa de mostrar trabalho.
Seus números foram ótimos, obviamente, e sua liderança, elogiada pelo técnico Byron Scott: "Ele foi o nosso MVP neste domingo. Marcou pontos quando precisávamos, coordenou as ações ofensivas, ajudou no posicionamento do ataque e encontrou seus companheiros livres para arremessos. Não podemos pedir mais nada em relação a ele", afirmou em entrevista coletiva.
É claro que está sendo apenas um começo de mês muito bom em uma temporada pra lá de difícil (em 64 jogos, Huertas só atuou em 34 – e com média de 12 minutos/jogo), mas ao menos cria um alento do que pode ser a próxima temporada (no Lakers ou não) e coloca um pouco de lado as bobagens que estavam sendo proferidas contra um dos melhores armadores que a Europa viu nos últimos anos (e ele jogou no poderoso Barcelona, não em um time de quinta categoria em uma liga pequena, não custa lembrar).
A principal crítica que se faz sobre Huertas é no setor defensivo de seu jogo. E isso me irrita um pouco. Primeiro porque ele não saiu do Velho Mundo para a NBA por ser um grande marcador. Se alguém esperava isso dele, esperava errado. Em segundo lugar, porque se é verdade que ele não é um professor de defesa (e não é mesmo), também é importante dizer que TODA marcação angelina no perímetro é ruim – com ou sem o brasileiro por lá. Lou Williams, Jordan Clarkson, D'Angelo Russell, Kobe Bryant e Nick Young fazem papel muito abaixo da crítica neste sentido. Em terceiro lugar, o basquete não pode ser dividido, fatiado. Você avalia se um atleta é bom pelo que ele produz dos dois lados da quadra, tira a média e pronto. Se o camisa 9 angelino marca não tão legal, que tal olhar quão brilhante ele pode ser do outro lado da quadra? Será que não compensa deixá-lo mais em quadra? Pelos últimos jogos, a resposta é um sonoro 'sim'.
Por fim, parece meio claro, mas acho que vale dizer: você não traz Marcelinho Huertas para seu elenco pelo que ele não tem. Você o contrata, como o Los Angeles Lakers fez, pensando no que de bom ele pode trazer para a mesa. Neste mês de março talvez esteja mais claro na Califórnia o que ele tem a acrescentar em um elenco pra lá de jovem e que precisa de alguém com quilometragem na armação. Por mais que seja o seu primeiro ano na NBA, ele não é um calouro na armação de um time profissional de alto nível. É bem diferente isso.
Com Huertas (e seus maravilhosos passes) em quadra os angelinos parecem mais bem posicionados (ou inteligentes), mais sabedores do que devem fazer e menos "loucos" com a bola (em que pese uma necessidade normal de saber o momento de acelerar ou não as jogadas). Com o camisa 9 também é possível fazer uma dupla armação entre ele e D'Angelo Russell, liberando o camisa 1 da condução da bola e de chamar as jogadas, e uma formação baixinha com ele, Russell e Clarskon também (não me agrada muito, mas pode funcionar em alguns momentos).
Huertas tem 32 anos e não precisa de um texto que explique quão bom ele pode ser em uma quadra de basquete. Seu talento, seu currículo na Europa e na seleção brasileira, sua vontade de evoluir ano após ano e o respeito que ele sempre teve de técnicos e companheiros falam por si só – e há muito tempo. Dá, por tudo o que a gente conhece dele, pra ficar triste pelo tempo que ele e o Lakers, com Byron Scott sendo bastante teimoso e punindo o brasileiro por algo que não é só ele que não tem neste elenco (uma defesa soberba no perímetro), perderam nessa chance de se conhecerem melhor, digamos assim.
Ao mesmo tempo, todos sabiam que essa temporada angelina seria de ajustes e de aprendizado (Kobe Bryant se aposentando, muita gente nova ao mesmo tempo, a necessidade urgente de buscar um pick alto no próximo Draft – e perder faz parte disso – e a ausência de alguém para assumir as partidas quando Kobe está fora). No final das contas, Marcelinho Huertas tem ainda 18 jogos para mostrar que ele pertence, sim, a melhor liga de basquete do mundo visando os próximos anos e para chegar ainda mais preparado para a Olimpíada do Rio.
Se até o começo de março o viés era negativo e de preocupação com o armador da seleção nacional nos últimos 10 anos, agora a esperança tem vez. As águas de março têm sido muito boas para Huertas. Que ele continue assim.