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Arnon de Mello detalha parceria da NBA com NBB e Globo/Sportv

Fábio Balassiano

06/01/2016 06h25

Se você perdeu a primeira parte da entrevista com Arnon de Mello, clique aqui.

BNC: Já que você falou sobre a Globo, vamos entrar nessa questão então. Queria que você falasse um pouquinho sobre como foi essa entrada do NBA.com.br, o site oficial da liga no Brasil, ir para dentro do site do Sportv, se gerou algum tipo de ruído com a ESPN e qual a estratégia que há por trás disso. Pro canal eu acho bem claro, mas queria ouvir o que há de interessante para a NBA Brasil em relação a isso.
ARNON: O que aconteceu foi um redirecionamento do nosso site, o NBA.com.br, para o site do Sportv, onde temos lá uma seção de NBA. Qual é a estratégia ou o racional por trás disso? Isso a gente já faz em alguns lugares do mundo. Se não me engano são 19 os países que usam este tipo de estratégia. Os mais conhecidos são na Espanha, com o jornal Marca, na Argentina com o Olé e no México com o Claro Deportes. Em todos esses lugares tivemos uma reação difícil no início. Difícil do heavy-user que mencionei na primeira parte da entrevista. Do cara que estava acostumado a ver estatística, calendário, programação no site da NBA. Agora estamos em um processo de adaptação para essa nova realidade que se apresenta. E essa nova realidade traz, sim, alguns pontos de reflexão.

Li inclusive o seu texto e acho que você tocou em alguns pontos muito bons, muito pertinentes e estamos indo em cima não só dos seus pontos mas de todos que temos visto, lido e escutado para melhorar a experiência dos usuários que estão sentido falta de alguma coisa no site oficial. Obviamente que isso não é do dia pra noite, porque há uma série de desenvolvimentos que precisam ser feitos, mas vamos chegar lá. Agora, com relação ao tráfego de acessos, a quantidade de notícias, ao volume de informações que passamos a ter, não dá nem para discutir. Antes a gente tinha dois, três blogueiros que escreviam por abnegação. Dependíamos da boa vontade de um ou de outro para traduzir as matérias e topicalizarmos, digamos assim, o conteúdo que vinha de lá. Tínhamos dificuldade nisso, e hoje a gente não tem mais. A parte de informação estará muito bem contemplada no site oficial. A parte de opinião, análise, teremos por exemplo no seu blog e no de outros jornalistas especializados no assunto. O fã da NBA vai saber onde procurar, e o que procurar, em cada espaço.

BNC: E a ESPN?
ARNON: Não houve ruído algum com a ESPN. A ESPN tem lá o pacote de conteúdo que eles podem usar. E o Sportv, por sua vez, também. Cada um tem a sua parte de conteúdos exclusivos e isso não interfere no andamento das coisas (Nota do Editor: a Assessoria de Imprensa da NBA Brasil informou que a ESPN foi avisada sobre o redirecionamento do site oficial da NBA para o do Sportv assim que o acordo foi firmado).

BNC:Uma provocação: neste ano de 2016 os direitos de transmissão das finais da NBA estão apenas com a ESPN. No dia do jogo o site da NBA Brasil que fica dentro do Sportv vai divulgar o horário e o canal que vai exibir a partida?
ARNON: Não sei. Não sei. Não posso garantir isso. Isso aí é a mesma pergunta que me faziam sobre a forma como seriam falados os nomes das arenas.

BNC: Mas são questões bem diferentes, concorda? Uma é o nome do patrocinador que dá nome ao ginásio. Outra é o horário e o canal que vai exibir um jogo da final da NBA…
ARNON: Sim, concordo. O que posso garantir desde já é que isso não estará escondido de forma alguma. Se não estará dentro da matéria do site da NBA Brasil, que hoje fica no Sportv.com.br , vai estar lá a informação em algum lugar. Nas redes sociais da NBA Brasil é uma certeza. No site do Sportv tem o link com a programação dos jogos que serão exibidos para cada país. Há a grade internacional de país para país e grade brasileira estará lá também como sempre esteve.

BNC: Vocês comunicaram essa decisão para a NBA lá dos EUA. Qual foi a reação? Nada contra o Sportv, que fique claro, mas quanto a NBA perde como marca com essa mudança?
ARNON: Isso tudo não foi comunicado, não. Foi feito todo mundo junto. Faz parte da consolidação do produto que queremos por aqui. Não consigo ver perda em marca e identidade da NBA. Vejo, sim, que precisamos melhorar em algumas coisas, mas o ganho que temos quando passamos a "esbarrar" com fãs de outros esportes dentro do mesmo site é o que vai desenvolver ainda mais o produto por aqui.

BNC: Resumindo a história então: vocês procuraram um site que tem um número gigantesco de acessos e objetivam aumentar o número próprio de acessos da NBA, aumentando assim a base de fãs do esporte no Brasil. É isso, né?
ARNON: Exatamente isso. Cada vez mais chegar a um número maior de pessoas, cada vez mais crescer o esporte.

BNC: A gente já vai falar de NBB, que já está em TV aberta, e por isso eu te pergunto: quão perto está a NBA de voltar à TV Aberta no Brasil?
ARNON: A TV Globo tem os direitos para exibir os jogos se quiser e quando quiser, mas este assunto ainda não está na pauta.

BNC: A Globo pode exibir os jogos em TV Aberta? Não sabia dessa…
ARNON: Pode, pode. Mas eu continuo achando que o nosso maior desafio, agora que temos essa quantidade boa de jogos na TV fechada, é melhorar as transmissões que estão no ar e abrir, sim, espaço na TV aberta. Não só na TV Globo e não apenas com a transmissão dos jogos, mas principalmente com conteúdo, com matérias, com informações relevantes da NBA para o público brasileiro. Se você me perguntar agora se eu prefiro ter um jogo na TV Globo a uma da manhã uma vez por semana ou ter cinco minutos da NBA em todo Globo Esporte ou em todo programa esportivo da Bandeirantes, eu prefiro essa segunda opção. Eu estou pensando nessa nova geração, nessa galera nova que está chegando e que está tendo o seu primeiríssimo contato com a NBA. Nessa época do ano, por exemplo, é muito difícil que um garoto de 15, 16 anos, que é meu foco, esteja acordado a uma, duas da manhã para ver NBA. É muito complicado.

O foco está em fazer com que a informação esteja pronta para esse garoto consumir. Não quero impor a NBA na TV aberta. Acho que esse é um movimento natural, seja da Globo ou de outro parceiro. Como foi o caso recente do UFC e também o nosso mesmo. Não vou abrir tudo para você, mas te digo: a quantidade de jogos que o Sportv deve exibir por semana é muito maior do que a que está escrita em contrato. Muito maior. Se estão colocando, é porque está dando boa repercussão. Por fim, para TV Aberta, temos uma questão que conseguimos resolver com o NBB porque os clubes estão aqui, que é a da grade de programação. Com a NBA é muito diferente. Estamos caminhando pra isso aos poucos. A Europa é um bom exemplo desse ajuste. Todo domingo há um jogo que começa ao meio-dia dos Estados Unidos para que seja exibido na Europa em um dia específico. O mercado internacional impõe este tipo de mudança, este tipo de ajuste. Um dado pra ter aí com você: um jogo da NBA é visto por cinco vezes mais pessoas na China que nos EUA. Você vê aí a importância da NBA internacional…

BNC: Para 2016, tem alguma coisa que o escritório pode antecipar? Lembro que houve a ideia de ter a primeira loja física por aqui. Vai rolar isso?
ARNON: A parte de licenciamento está crescendo bastante, e a questão da loja física temos a intenção, sim, de lançarmos uma ao menos até o final do ano. Estamos estudando o local, mas essa loja seria o que chamamos de flagship (Nota do Editor: Loja-Conceito). Lançaríamos essa e depois expandiríamos para o modelo de franquia como acontece em alguns lugares do mundo (Ásia por exemplo). É muito provável que até o final de 2016 tenhamos a nossa loja da NBA, sim.

BNC: E a loja da NBA no site, como está? Creio que o volume de vendas melhorou porque chegaram novos produtos recentemente…
ARNON: A loja cresce 100% ao ano. A base não é muito grande, mas esse é um dado relevante e que mostra o potencial que temos no Brasil. Tenho a impressão que, em termos de país, a gente deve estar no Top-3 de vendas em lojas virtuais em vendas de produtos. Há dois, três anos atrás, falava que a menina dos olhos era o League Pass, que já falamos por aqui, e hoje posso te dizer que chama a atenção o jogo de videogame 2K. Está vendendo muito bem, muito bem mesmo no Brasil. Tem um trilho de consumo muito bacana que está sendo construído por aqui. O tráfego de acesso à loja virtual tem crescido muito, mas o de vendas não acompanha este crescimento no volume de acessos. Por quê? Porque até pouco tempo atrás não tínhamos todos os produtos. Agora já temos produtos novos, parcerias diferenciadas e tudo influencia para o crescimento.

BNC: Dúvida aqui: como é feita a seleção dos produtos que estarão disponíveis para o Brasil?
ARNON: Poxa, eu tenho uma frustração enorme que são os produtos do All-Star Game. O problema todo envolve a questão alfandegária e o fluxo de pedidos. Os pedidos são feitos quase 9 meses antes. A coleção sai e 9 meses antes a Netshoes tem que fazer o pedido. E aí obviamente não tem o produto do All-Star, que ainda não foi desenvolvido, não tem o produto do campeão… Esses produtos, digamos assim, de oportunidade ficam pra trás. Agora temos que focar e trabalhar em alguma alternativa para suprir isso. Será que a Adidas não poderia produzir estes produtos aqui no Brasil? Que quantidade é essa? É difícil mensurar, mas vamos estudar a melhor maneira. Já tivemos alguns ganhos interessantes, principalmente quando conseguimos colocar as camisas de todos os brasileiros que estão na NBA. As pessoas sempre puderam entrar no site e personalizar a camisa com o nome e o número que quisessem. Era possível, por exemplo, comprar a camisa do Cleveland e colocar lá o nome 'Varejão' com o número 17. Só que eram alguns passos a mais até se chegar a isso. Agora fizemos a camisa de todos os 9 brasileiros que estão lá e dos jogadores mais relevantes de todos os times.

BNC: Você tem falado muito sobre jovens e recentemente a NBA Brasil lançou aqui o Jr. NBA, um programa voltado para crianças que foi abordado pelo Adam Silver no All-Star Game de 2015. Queria que você explicasse como ele vai funcionar no Brasil.
ARNON: Você está vendo essa imagem aqui (imagem ao lado)? Estava vendo o jogo do NBB entre Paulistano e Pinheiros na Rede TV! e tirei esse print de tela. Eu mandei essa foto pro Adam Silver (comissário-geral da NBA) e para todos os caras de lá porque creio que ela exemplifique bem o que somos por aqui. Há um menino com uma camisa de futebol e outro com uma camisa da NBA. E lembro que esse menino foi entrevistado, falou que era torcedor do Chicago, mas que era fã do Kobe Bryant, que o Kobe ia se aposentar. Ou seja: o menino sabia tudo, está tocando o esporte no dia a dia mesmo. O foco nosso é essa idade. Esse é o consumidor que eu quero, que eu busco, que eu preciso ir atrás. Queremos atrair este público aqui. O menino estava com uma blusa da NBA e vendo um jogo do NBB. Este é o retrato.

Voltando. O Jr. NBA é isso, mas elevado a milésima potência. É a gente poder estar presente nas escolas públicas incentivando os professores principalmente. Por incrível que pareça o problema não está nas quadras, ou na falta delas. Não, não é isso. Esse é o problema que a Índia, com um bilhão de pessoas, tem. Aqui, não. Aqui temos a infraestrutura, as pessoas sabem o que é uma bola e está faltando alguém com capacitação para mostrar o que é o esporte, como se joga o basquete. Tivemos dois festivais, um em São Paulo e outro no Rio de Janeiro, junto com o Projeto Gibi, e iremos atingir mais de 8 mil pessoas em escolas públicas. Uma coisa legal de se falar é que teremos, como contrapartida dos jogos que fizemos no Rio de Janeiro nos últimos anos, uma escolinha de basquete começando na Rocinha durante um ano. A intenção é atingir meninos e meninas dessa faixa etária de 10, 11, 12 anos.

BNC: Sei que tem um lado social bacana, mas no fundo a NBA olha mesmo pelo lado financeiro da coisa. Como fazer com que esse menino que hoje estuda em escola pública consuma a NBA, um produto que hoje ainda é muito caro no Brasil?
ARNON: Ele vai consumir pela internet. Ele vai consumir vendo os melhores momentos na TV Aberta. Ele vai consumir, sei lá, na TV fechada também. Essa preocupação que você está colocando eu vou ter, com esse menino, daqui a 15 anos. A preocupação agora é fazer com que ele veja e goste de basquete. A preocupação de consumo não é com ele. O objetivo, agora, é fisgar esse garoto para que ele goste do basquete pra sempre.

BNC: Agora entrando no basquete brasileiro. Quanto você acha que impactaria no crescimento do basquete do Brasil uma medalha na Olimpíada de 2016, por exemplo?
ARNON: Com certeza impactaria muito. Faria uma grande diferença ter uma medalha, mas não ter uma medalha não significa que todos os nossos esforços foram por água abaixo. Não, não é isso. Nos últimos dois anos temos atletas campeões da NBA. Acho inclusive que eles deveriam ter uma relevância maior por aqui. Nas Olimpíadas vamos falar naturalmente deles.

E no basquete eu aprendi quando fui ao último Mundial na Espanha é que do segundo ao décimo é tudo muito próximo. Tanto é que lá na Copa do Mundo o Brasil venceu a Sérvia e depois perdeu da mesma Sérvia. O que quero dizer com isso? Não dá pra apostar em uma medalha porque é tudo muito no detalhe. Vai depender da preparação e da capacidade deles. Eu torço demais para eles terem sucesso, só isso. Torço, também, para que tenhamos o time completo e que esta equipe encaixe. Um bom resultado seria uma espécie de turbo no trabalho que fazemos aqui atualmente. Agora, uma coisa precisa ser dita. Temos uma dificuldade no basquete que é a de juntar a seleção. Não de jogadores, mas sim a do calendário. Não é igual ao vôlei por exemplo. O vôlei eu tenho a impressão que eu ligo a televisão e todos os dias tem um jogo de seleção. No vôlei são quase seis meses de seleção, e isso ajuda muito na visibilidade do esporte. No basquete é diferente. É basicamente a cada dois anos. E no basquete, hoje, temos mais astros do que o vôlei tem mundialmente. Sei que tem uma certa confusão no feminino aí, mas tenho uma grande esperança das meninas se apresentarem bem na Olimpíada também. Seria muito importante. Aliás, isso é interessante. No Jr. NBA a gente vê muita menina participando. Quase metade a metade. Isso é muito legal.

BNC: A NBA fez um ano de parceria da Liga Nacional de Basquete. Como você avalia o NBB hoje e quais os frutos dessa parceria? O NBB está sem patrocinador há três anos, por exemplo.
ARNON: Vamos por partes. Cada time tem a sua responsabilidade de se desenvolver. Não é um patrocinador para a Liga Nacional que vai resolver a vida dos times. Um patrocinador vai melhorar a Liga, o produto NBB, todos os times por consequência. Quanto mais apoios tivermos, é natural que os times melhorem aos poucos. Mas não é do dia pra noite, não. E como você disse, este ano de 2016 será muito difícil em termos econômicos no Brasil. Devem inclusive mexer na nossa parte comercial. Dito isso, vale dizer que o ciclo é longo. A gente sabe disso. Não é da noite para o dia. Parcerias que a gente fechou para a NBA Brasil, por exemplo a Budweiser, eu trabalho nisso há três anos. O ciclo é longo. Você não bate na porta e acontece. Principalmente no Brasil. Precisamos ter paciência.

Não estamos focando em coisas pontuais e pequenas, mas sim em ganhos importantes para o NBB. E isso leva mais tempo mesmo. Falo diariamente com a parte comercial e com a direção da Liga Nacional. O contato é muito bom e muito fluído. Aos poucos as coisas vão acontecer. O campeonato começou bem, está se desenvolvendo bem e temos um desafio grande que é fazer a parte financeira acompanhar este crescimento técnico também. Há uma novidade bacana que posso te antecipar também. Estamos trazendo um profissional da NBA Entertainment, que é como se fosse a nossa produtora de conteúdo da NBA TV, para aumentar essa produção de conteúdo no Brasil. Este profissional ficará aqui por dois anos e creio que a melhoria será significativa. O foco será no conteúdo local.

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