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Arnon de Mello explica estratégias da NBA no Brasil

Fábio Balassiano

05/01/2016 06h30

Arnon de Mello é o chefe do escritório da NBA no Brasil desde 2012. Aos 38 anos, pode se orgulhar de ter trazido três jogos de pré-temporada para o país, por Flamengo e Bauru terem jogado contra times da NBA nos EUA, pelo crescimento do produto NBA por aqui e de ter sido um dos principais responsáveis pela parceria envolvendo a liga norte-americana e a Liga Nacional de Basquete (que comanda o NBB e recentemente também a Liga de Basquete Feminino).

Conversei com ele no final do ano passado. Como o conteúdo ficou extenso, divido a entrevista em duas partes. Todos os assuntos foram perguntados a Arnon: avaliação do escritório da NBA no Brasil, a parceria com a Liga Nacional, a recente mudança do site institucional da NBA Brasil para o do Sportv, o lançamento de uma loja física etc. . Confira o papo com o Diretor-Executivo da NBA no Brasil.

BNC: O escritório da NBA no Brasil completou três anos e queria que você fizesse uma avaliação de tudo o que aconteceu desde que a liga decidiu fincar pé de vez no Brasil.
ARNON DE MELLO: Foram muitas conquistas nesses anos. Houve três jogos de NBA aqui no Brasil, consideramos isso muito relevante e é fundamental falar. Cada um com a sua história participar. O primeiro (Wizards x Bulls) com um mais popular (o Chicago) e outro (o Washington) com um brasileiro – e um brasileiro que abriu recentemente as portas da liga para os atletas do país. O segundo, o melhor jogo daquela pré-temporada, foi em um momento muito importante com o LeBron voltando ao Cleveland e enfrentando pela primeira vez o seu ex-time, o Miami Heat, que é bem popular por aqui. Além do jogo em si, exibido para o mundo todo, havia o Anderson Varejão, outro atleta bem carismático. Este jogo mandou a imagem do Brasil para todo planeta e isso foi muito bacana. Em 2015 tivemos pela primeira vez um time brasileiro (Flamengo) jogando contra um da NBA aqui no Brasil (o Orlando Magic). Serviu também para celebrar a parceria entre Liga Nacional de Basquete (NBB) e NBA. Esta é a primeira parceria que a NBA faz com uma Liga de basquete ao redor do mundo e mostra bem o tamanho da importância que a NBA dá ao país.

BNC: Na história da NBA esta é até então única parceria da NBA com ligas nacionais de outros países, certo?
ARNON: Já houve parcerias, digamos, mais informais, quando a NBA deu uma espécie de consultoria ou prestou algum tipo de ajuda informal a países que nos consultavam. No Brasil é diferente e tudo descrito em contrato com papéis, responsabilidades e objetivos bem transparentes para todos. Por aqui a NBA tem responsabilidades, principalmente com relação a parte econômica, de patrocínios, e estamos muito contentes com este primeiro ano de parceria. Tem muitas coisas para ajustar, para evoluir, para melhorar, e a maioria delas não são novidades.

A própria Liga Nacional já acompanhava o que a NBA fazia (seja aqui ou lá fora), e agora com essa parceria formalizada apenas se intensificou. Temos feito um trabalho, de um ano pra cá, voltado para tudo o que a gente vê na quadra, mas muito voltado para, digamos, o por trás das câmeras. As melhores práticas de marketing, administrativas, de apresentação de jogos, parte técnica com árbitros, jogadores da Liga de Desenvolvimento e treinadores, abrindo a porta para os clubes que têm interesse de conhecer mais seja das franquias da NBA ou da própria liga. Recentemente tivemos uma visita por parte da Liga no escritório central da NBA nos Estados Unidos com reuniões com todas as áreas relacionadas ao negócio. Isso é fundamental. Na NBA temos uma área chamada TMBO (Team Marketing & Business Operations), que compartilha as melhores práticas de um time com os outros. O presidente da D-League também se reuniu com a turma da Liga Nacional justamente para falar de possíveis parcerias no futuro, ideias que vão desde participação de jogadores brasileiros no Draft da D-League a uma eventual partida lá ou aqui. Tudo muito embrionário, no começo, mas o fato é: a porta da NBA está aberta para a Liga Nacional e para o NBB. Já melhoramos muito, mas sabemos que temos muito avançar em tudo.

BNC: Consegue citar um exemplo?
ARNON: Sim. Os jogos estarem em boas arenas, em arenas mais cheias. Principalmente nas partidas de TV. São medidas simples, rápidas e que sabemos como fazer. Os times, hoje, não possuem, infelizmente, profissionais que atuam em todas as áreas necessárias quando falamos de negócio. Precisamos saber até que ponto podemos cobrar melhorias deles neste sentido. Ao mesmo tempo, medidas simples podem ajudar rapidamente.

Vou te citar outros exemplo. É em relação a apresentação do jogo. Há times que têm mascotes, dançarinas, entre outras coisas. Mas o que chama atenção é o entretenimento quando falamos em música e apresentadores. Vamos disponibilizar para todos os times do NBB um cronograma do minuto a minuto que é feito em uma partida da NBA. Do minuto 0 de abertura do ginásio ao último minuto de jogo, o que é feito em um ginásio da NBA. Que música tocar? Que som emitir? Quando o time da casa ataca o que tocar? No primeiro intervalo, há uma atração de arremesso de camisa? E depois? Vamos dar para os times esse cronograma. Eles não serão obrigados a fazer isso, mas poderão, se quiserem, aplicar. Como boa prática, tive uma experiência com o time do Basquete Cearense. O ginásio teve bom público, boas atrações, a equipe mexeu na marca, tem um mascote bacana, um patrocinador forte (Solar, do Grupo Coca-Cola) que ajuda a capitalizar ainda mais público e tenho certeza que este cronograma do jogo ajudará ainda mais a equipe. Hoje vejo que o NBB é um programa familiar. Você vai a um jogo, olha pra trás e vê, na média, que é um programa com um pai, uma mães e uma, duas crianças. Precisamos fazer com que este programa familiar seja cada vez mais atraente.

BNC: E nesse tempo todo o que mudou no executivo Arnon de Mello? Você consegue descrever?
ARNON: Com relação ao jogo, já estou habituado. E sempre esteve muito claro que vim pra cá não porque era um profissional do basquete, mas sim porque sou um cara de negócios, com passagens maiores na área financeira, de bancos. Mas já tive uma passagem pelo meio esportivo, pelo CSA, de Alagoas, que me ajudou bem a saber como as coisas funcionam no esporte. Com a NBA aprendi a ser mais paciente. Antes de chegar à NBA Brasil vim de um período onde tinha liderado duas Start-Ups de tecnologia e em uma Start-Up todo dia você quer e precisa mostrar resultados diários principalmente para quem está investindo e bancando. Por mais que eu veja esse escritório como uma Start-Up, temos uma, digamos, empresa imensa por trás que é a NBA e que dá tranquilidade para fazermos as coisas de maneira bem planejadada. Por mais que as respostas venham rápidas, tive que aprender a ter mais paciência, mais calma. A grande vantagem é que temos uma liberdade muito grande dentro do escritório.

BNC: Sobre o ano de 2016, está descartada mesmo qualquer chance de termos um jogo de NBA aqui no Brasil devido às Olimpíadas, certo?
ARNON: Sim, é certo isso.

BNC: Mas existe a possibilidade de, tal qual já aconteceu com Flamengo e Bauru, algum time brasileiro ir para os Estados Unidos participar da pré-temporada da NBA lá nos Estados Unidos?
ARNON: Sim, existe e está sendo estudada a possibilidade, sim. Mais que a possibilidade. Estamos trabalhando fortemente nisso. Vamos tentar mais uma vez levar time daqui para jogar a pré-temporada lá. Neste caso específico não pensamos muito no marketing, não. Vale mesmo o lado esportivo de ter um time do NBB jogando lá. Nós entendemos que hoje, realmente, o basquete do Brasil está em um nível diferente daquele que estivemos no passado. Houve dois times brasileiros que já foram lá e fizeram bom papel. Ainda não vencemos um jogo mas isso é questão de tempo, não tenho a menor dúvida disso. Há equipes da Europa que já ganham de franquias da NBA e vamos chegar lá também. O mais importante mesmo é que vamos lá e disputamos boas partidas, somos elogiados. É muito legal isso. Essa experiência internacional é muito válida. E para eles é importante que a gente vá abrindo a cabeça deles quando um time nosso vai lá e faz um jogo de alto nível. Quem sabe mais jogadores de lá não possam vir pra cá no futuro.

BNC: Você uma vez falou que o Brasil era o quinto país em número de assinantes de NBA League Pass no mundo (Nota do Editor: League Pass é o serviço em que é possível ver todos os jogos da liga pelo computador). Isso é muito nítido quando estou online durante os jogos, coloco algo no Twitter ou Facebook e a reação é imediata. Como está esse número hoje? Cresceu mais ainda? Ou diminuiu com a entrada de mais um player importante na televisão? Com a chegada do Sportv, temos hoje quase cinco, seis jogos de NBA por semana…
ARNON: O crescimento da base de assinantes de League Pass no Brasil encontra-se estável. O que quer dizer isso? Ele está crescendo conforme o planejado. Não está acima e também não está abaixo. Há, de fato, dois impactos importantes para vermos este crescimento. O primeiro é o número de jogos na TV, que da metade da temporada passada pra cá cresceu muito. Só que muita gente na temporada passada já havia comprado o League Pass quando a oferta de partidas na televisão aumentou. Isso aliás merece ser comentado. De um ano pra cá nossas audiências têm aumentado muito em todos os canais. No Sportv, na ESPN e antes no Space, que exibia a NBA. O produto está sendo mais visto, consumido, comentado mesmo. A gente acha que esse crescimento vem através de pessoas novas, de pessoas diferentes daquelas que já consumiam o basquete.

Outro fator que precisa ser visto é como a questão econômica do Brasil impacta no número de League Pass vendidos por aqui. A gente sabe que é um produto muito bom, mas que é atrelado ao dólar. É caro e sabemos que é um produto não para aquele cara que acabou de chegar à NBA. O League Pass, hoje, ainda é um produto daquele cara que é fã de muito tempo. O que chamamos de heavy-user (Nota do Editor: os viciados em basquete). Temos cinco jogos na TV, mas esse cara normalmente tem um time e acompanha este time. Um exemplo que gosto de falar. Até a temporada passada o Miami Heat estava quase sempre na TV. Esta temporada diminuiu. Este consumidor vai, então, naturalmente para o League Pass. Neste ano o foco acabou indo para o Golden State, o campeão, e o Cleveland, do LeBron.

Não é coincidência que o Stephen Curry tenha sido o segundo jogador que mais vendeu camisas no Brasil. O impacto dele aqui tem sido muito grande. Acho muito difícil de um cara da nossa idade, já com time definido, comprar uma camisa do Curry. Mas pra quem está chegando agora acho muito natural. De novo: acredito que estamos vendo nascer essa nova onda daqueles que estão começando a assistir e escolhendo um novo time para torcer. O League Pass está indo bem, temos agora essa parceria com o Grupo Globo que se estende a isso também e em breve, provavelmente em janeiro, teremos propagandas do League Pass no Sportv, maior visibilidade do produto no Sportv.com.br e no site da NBA. Éramos o vigésimo-segundo em venda de League Pass no mundo, passamos a ser o quinto em dois anos. Só que mais importante do que isso é ver que a relevância do Brasil tem crescido demais para a NBA. Muito mais do que países que vendem mais League Pass. Por exemplo: a Austrália vende muito League Pass. Mas não temos escritório lá, não temos jogo lá, a questão do fuso horário influencia para ter menos jogo na TV. Por isso tudo creio que não só o League Pass, mas a relevância do Brasil como um todo só cresce para a NBA.

Continua amanhã…

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