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As ótimas lições que Bauru deixa após o vice-campeonato mundial

Fábio Balassiano

28/09/2015 01h47

Muita gente imaginava (muita gente mesmo!) que o Real Madrid viria ao Brasil para passear e atropelar Bauru no Mundial Interclubes. "Será só formalidade, porque os caras ganham de Bauru de 30 fácil, fácil". Era o que se ouvia e lia por aí. O primeiro jogo veio, os 17 pontos de vantagem ficaram estampados no placar e a previsão ganhou ainda mais força na sexta-feira no Ibirapuera. Mas Bauru virou, venceu o jogo 1, mostrou força e fez o Real cortar um dobrado para ficar com o título Mundial no domingo.

Pode parecer clichê mas essa é a graça do esporte. Um time se superar, um time tentar enfrentar outro de maior poderio. Mas tem mais que isso. Talvez o cansaço de uma semana intensa de trabalho aqui em São Paulo me impeça de traduzir em palavras o sentimento que se viu no Ibirapuera (lindíssimo e quase lotado no domingo), mas noves fora o fato de os bauruenses terem caído de pé o que fica pra mim é a sensação que o tal "desnível técnico" entre os dois principais continentes do basquete não é tão absurdo assim. É grande? É sim. É algo de outro planeta, tipo a NBA? Não, não é não.

Existem times que praticam bom basquete por aqui (e o próprio Andres Nocioni cansou de ressaltar isso em suas falas no país), existem times que investem pesado por aqui (Flamengo e Bauru são os dois melhores exemplos) e pouco a pouco o basquete brasileiro vai dando sinais que pode se reencontrar com seus melhores dias (nos clubes, claro). Nem tudo que se faz é bom (óbvio), mas tampouco tudo o que temos por aqui é uma porcaria. Nestes tempos em que criticar tudo e todos é de praxe, creio ser salutar manter um olhar um pouco mais amplo em relação ao que estamos vendo no basquete brasileiro através do NBB (não confundir com falta de senso crítico, algo que tento manter sempre em riste) Não é coincidência que nos últimos três anos houve três Mundiais por aqui. Pinheiros, Flamengo e Bauru fizeram seis partidas pra lá de equilibradas com Olympiacos, Maccabi (derrotado pelo rubro-negro) e Real Madrid. Não houve, como se presumia, nenhuma lavada, nenhuma surra, nenhum atropelamento. Não há, aliás, times de outros países (leia-se Argentina) vencendo Liga Sul-Americana ou Liga das Américas como em outros anos (algo que deixa a diretoria da FIBA, composta de hermanos, bem desesperada aliás…).

Quanto mais intercâmbio houver será melhor para o basquete brasileiro, e as evoluções de Bauru e Flamengo, os dois principais do NBB no momento, nos dois últimos anos é bem nítida tanto em quadra quanto fora dela. Pouca gente repara, mas um influencia diretamente no outro quando vemos Ricardo Fischer, Leo Meindl e Gui Deodato jogando um Mundial Interclubes anos depois de terem saído da Liga de Desenvolvimento, né? Mas, bem, voltando. Com estilos táticos bem diferentes, cada um joga à sua maneira e tem se dado bem.

O Flamengo bateu o Maccabi com um jogo cadenciado. Bauru levou o fortíssimo Real Madrid à loucura com sua sanha nos tiros de três pontos. Não há só uma forma de atuar no basquete. Não há certo e errado em basquete. Há situações treinadas e não treinadas pelas equipes. É possível, obviamente, ganhar chutando muito de três (Warriors) ou forçando o jogo no garrafão como se não houvesse amanhã (Lakers do Shaquille O'Neal de anos atrás). A graça do esporte também está nisso, né? É possível ser competitivo jogando de diversas formas dependendo do elenco que você tenha em mãos.

Não há vitória moral, dizem os americanos. Pode ser. Mas Bauru deixa uma série de lições que podem ser aprendidas pelo basquete brasileiro após enfrentar de igual para igual um dos elencos mais caros e poderosos do planeta.

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