Na semana passada Bauru anunciou a sua primeira contratação visando o Mundial Interclubes contra o Real Madrid no final deste mês (25 e 27 de setembro no Ibirapuera, em São Paulo). Trata-se do ala-pivô Rafael Mineiro, que vem cedido por Limeira somente para esta competição. Campeão do Pan-Americano com a seleção, o jogador vem para substituir a Murilo, que ficará fora da competição devido ao descolamento da retina (melhoras para ele!).
A contratação de Mineiro (assim como a de Gui Deodato, que deve acontecer também pelo que apurei) merece ser analisada de forma mais ampla. O jogador de Limeira jogará por Bauru apenas dos jogos contra o Real Madrid, voltando a sua equipe para o restante da temporada logo depois disso. Fica a pergunta: será que isso vale mesmo a pena este tipo de estratégia?
Não creio, sinceramente, que exista uma única resposta válida para isso. Talvez não seja o caso de evocar o Cruzeiro de 1997 que foi ao Mundial Interclubes contra o Borussia Dortmund recheado de "jogadores de aluguel" (Donizeti, Bebeto, Gonçalves etc.), mas é óbvio que existe uma questão maior que a esportiva que mereça, sim, ser discutida (e não é a do lado técnico, que obviamente fica mais forte com a presença de um jogador de seleção nas fileiras bauruenses). Rafael Mineiro NÃO é jogador de Bauru. Nunca vestiu a camisa da equipe. Não foi contratado para TODA temporada 2015/2016 do atual campeão da América e vice-campeão do NBB. Chega, joga o Mundial, troca o uniforme e joga o NBB por Limeira.
Uma coisa seria Bauru, visando TODA temporada (com direito a amistosos na NBA também), trazer Rafael Mineiro, Gui Deodato e qualquer outro atleta para os campeonatos duríssimos que irá enfrentar. Seria basicamente subir de patamar em relação ao time da temporada passada, algo natural e que faz parte do mundo profissional do esporte. O que acontecerá, porém, é bem distinto disso. Nada contra Rafael Mineiro, jogador valente e muito bom em termos técnicos, mas colocar em quadra um atleta sem nenhum vínculo com a cidade ou com o elenco simplesmente para fazer frente a um elenco esplêndido como é do Real Madrid apenas para "representar o basquete brasileiro da melhor maneira" (como se tem dito) não é o mais apropriado.
Entendo a importância de se ter um bom resultado internacional para o crescimento da modalidade por aqui e até torço para Bauru surpreender os espanhóis e fazer uma festa tão linda quanto a que o Flamengo fez em 2015 diante do Maccabi Tel-Aviv (Flamengo que também usou esta estratégia ao trazer o norte-americano Derrick Caracter, não custa lembrar). Mas aprovar contratações temporárias com o único objetivo de trinfar a qualquer custo é literalmente colocar a velha máxima do "fim justificam os meios" na frente de tudo – ou a de que para vencer vale tudo.
Não, não vale na minha opinião. Respeito quem pensa o contrário, mas não consigo aprovar este tipo de situação. Não é algo que eu (e aí é uma opinião muito pessoal minha) aceite como sendo algo "normal", não. Pode ser radical, mas penso que é reducionista demais pensar que é assim que faz-se um esporte crescer no Brasil. Vencer o Mundial Interclubes deveria ser a consequência daquilo que todo basquete brasileiro faz – e não algo pontual como a chegada… pontual de um atleta sugere. A ordem do produto, como se vê, está sendo invertida e há muita gente que tende a comprá-lo pela embalagem bonitinha e não pelo seu recheio.
Ampliando o olhar (e não reduzindo a questão), voltamos ao óbvio: a melhor maneira de se desenvolver o basquete brasileiro é trabalhando loucamente na formação de atletas, técnicos, dirigentes, aumentando a qualidade do produto. Isso é o longo prazo. Vencer o Mundial de Clubes é apenas um remédio que alivia a dor dos problemas que o esporte vem sentindo nos últimos anos.