No Podcast BNC que divulguei aqui ontem, Luis Araujo, do Blog Triple-Double, Pedro Rodrigues e eu falamos um pouco sobre a situação do próximo NBB, mas creio que caiba um texto mais profundo a respeito do que está por vir na temporada 2015/2016 do maior campeonato de basquete do país.
E este texto vem com um sinal de alerta importante porque mais uma vez temos indefinição em relação ao número de clubes que participará da oitava edição do NBB. Quantos jogarão? Quais elencos veremos? E a divisão de forças, como ficará? Com tantas dúvidas, fica difícil prever qualquer coisa e isso não é muito salutar para a modalidade.
Até onde se sabe, Uberlândia não jogará (ainda há a possibilidade de conseguir levar a franquia para outra cidade longe do Triângulo Mineiro). Com isso, o Sport-PE, vice-campeão da Liga Ouro, foi convidado em cima da hora, mas faltou tempo para conseguir R$ 1 milhão para montar o time. Campo Mourão, terceiro da Liga Ouro, foi chamado às pressas mas tampouco conseguiu a quantia.
Aqui, aliás, cabe uma observação. Quem é brasileiro e vive neste país (não naquele que os políticos vira e mexe tentam vender em entrevistas e/ou programas partidários alucinados) sabe que há uma crise financeira imensa. Falta grana, muita grana, e em todos os setores. Quem trabalha em empresa (meu caso) sabe que o momento é de apertar TODAS as torneiras. Investir em patrocínio é, hoje, extremamente difícil. Para conseguir o (quase) impossível que é fazer com que uma corporação gaste qualquer verba é preciso que tudo esteja muito bem justificado (leia-se retorno sobre o investimento, o famoso ROI). Aprovar um projeto de forma rápida (como foi com Sport-PE e Campo Mourão) é complicado e irreal. E não por conta dos clubes, mas sim por causa dos tempos, movimentos e cenários tanto do mundo empresarial como do Brasil.
Um bom reflexo do que falo é como estão formatados os times para a próxima edição do NBB. Bauru, Flamengo, Mogi e Limeira, os quatro primeiros da fase de classificação do NBB7 (mais de 70% de aproveitamento), mantiveram seus investimentos, se reforçaram (Leo Meindl, Rafa Luz, Larry Taylor e Douglas Nunes, respectivamente) e continuam fortíssimos. Não só com times estelares, mas com elencos muito profundos e com boas peças de reposição. Seguirão, portanto, brigando lá no alto da tabela. O problema está justamente nos demais, que, talvez com exceção ao Paulistano, que trouxe Caio Torres e Jason Smith, e Basquete Cearense, não conseguiram evoluir muito a ponto de assustar a turma do G4 do NBB7.
Minas e Pinheiros, dois dos melhores clubes formadores do país, vão basicamente com a molecada para o próximo NBB. Mesmo cenário se vê em um Franca que tenta se reerguer após quase fechar as portas em 2014/2015. São José, que não terá mais o técnico Zanon, mantém o pé no freio, com o mesmo acontecendo em Macaé, Rio Claro e Liga Sorocabana. Nenhum destes times conseguiu superar os 57% de aproveitamento no NBB passado. Parece difícil que qualquer um deles consiga tirar os quatro citados acima (Limeira, Bauru, Flamengo e Mogi) das posições alcançadas na mais recente temporada justamente porque não criou-se nenhuma linha extraordinária de receita.
E os clubes não conseguiram aumentar suas receitas porque ficam, sempre, apegados às verbas de patrocínio – de prefeitura ou empresas privadas. Como se fosse assim a única forma de conseguir grana no esporte. E a bilheteria? E os produtos licenciados? E o desenvolvimento de atletas, que pode render muita grana no futuro (e com o dólar assim, pensem só…)? E ganhar grana dentro do ginásio com comida/bebida? São, digamos, itens esquecidos em quase todos os times do NBB – desde os do primeiro escalão, que conseguem se virar bem com patrocinadores fortes, até os que têm dificuldade em obter investidores e ficam ano após ano vendendo o almoço para comprar o jantar (algo bem comum por aqui).
Digo isso tudo não como um cenário de terra arrasada ou de temor pela continuidade do NBB. Não é isso, até porque a Liga Nacional é organizada e bem séria. Digo isso tudo porque estamos a dois meses do começo da competição (devido ao Estatuto do Torcedor é obrigatória a divulgação da tabela e de clubes participantes da competição com no máximo 60 dias de antecedência, algo que deve ocorrer até 30/08) e não se vê nenhuma grande novidade assim. Dá, sim, para ligar o sinal de alerta e pensar no que fazer para ter formatações de campeonato mais animadoras do que a que estamos vendo.