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Palavras ao vento e a falta de dignidade de DeAndre Jordan na NBA

Fábio Balassiano

10/07/2015 02h31

A noite de quarta-feira foi agitada na NBA. O mercado, que abriria para as assinaturas de contrato no dia 9, via os primeiros atletas e encaminhando para as habituais festas com fotógrafos e donos das franquias (foi assim com Anthony Davis e seus US$ 149 milhões até 2021 no Pelicans). Um jogador, porém, decidiu inverter a ordem das coisas. Foi DeAndre Jordan.

Pivô do Los Angeles Clippers, ele terminou a temporada passada valorizado e decidiu ouvir propostas. Gostou da do Dallas, deu o aceite ao Mavs e até onde se sabia formaria um time bem interessante com Dirk Nowitzki e (até ontem) seu amigo Chandler Parsons. Esperava-se apenas a abertura oficial do período definido para a assinatura dos contratos previsto pela NBA para que o assunto fosse sacramentado. Era para ser ontem, 9 de julho, a partir do primeiro minuto do dia.

Mas DeAndre voltou atrás. E de maneira pouco ética, educada e respeitosa com o Dallas. Como não tinha nada assinado com os Mavs devido às regras da liga ele ligou para o Clippers e avisou que estava na dúvida de sua decisão. Que estava repensando e que, sabe lá, gostaria muito de permanecer na Califórnia caso o time também o quisesse. A franquia angelina, então, fez uma operação de guerra para não perdê-lo: viajou para a casa do gigante em Houston com o dono (Steve Ballmer), o técnico (Doc Rivers), alguns bambas da equipe (Chris Paul, Blake Griffin, JJ Redick etc.) e um contrato em mãos. Sentou-se com DeAndre, mostrou a proposta, fez um carinho no jogador, disse quão bom e querido ele era por jogadores e torcidas, abriu uns petiscos, jogou videogame, esperou dar 00:01 do dia 9 de julho (quinta-feira) e assinou o novo contrato de US$ 88 milhões pelos próximos quatro anos (o último é opcional do atleta). Pronto, aí o mundo do basquete entrou em parafuso.

Em primeiro lugar porque este é um código não-verbal da NBA há séculos. Se você é um agente-livre e escuta propostas das equipes você tem duas coisas a fazer logo na sequência das reuniões: 1) pensar bastante com seus agentes. Se há dúvida, que se pense até o último fio de cabelo; e 2) avisar aos times que o contataram qual foi a decisão tomada. Independente de data de abertura para assinatura de contratos é sempre importante passar aos envolvidos a mensagem com aquilo que a imprensa fatalmente começará a divulgar rapidamente (vide o Woj no Yahoo). Foi assim que, com classe, fez LaMarcus Aldridge: o ala-pivô ouviu mais de 10 convites, foi paciente com todos os dirigentes, selecionou o melhor para a sua carreira e avisou que optou por jogar pelo San Antonio Spurs. Sempre foi assim. Até ontem sempre foi assim. Atletas com o "passe" nas mãos não podem assinar absolutamente nada com qualquer time até que o mercado abra, e era exatamente o dia 9 de julho que os Mavs esperavam para que DeAndre Jordan colocasse no papel o que suas palavras haviam garantido a Mark Cuban, dono do Dallas.

Está aí a senha da situação toda – palavra. DeAndre Jordan havia dado a sua palavra que vestiria a camisa do Dallas. O time não procurou mais pivôs para seu elenco. Considerou que este, digamos, buraco não precisaria mais ser preenchido. Sequer lutou para ter Tyson Chandler, titular da posição na temporada passada, justamente porque teria DeAndre como novo líder do garrafão. Chandler não esperou, ouviu propostas, assinou novo contrato com o Phoenix e agora o Dallas está literalmente de mãos atadas. Terá que olhar para o que restou no mercado e colocar um Kevin Serafin, um Jordan Hill ou um Amare Stoudemire para comandar as ações ofensivas e defensivas perto da cesta. Não há, obviamente, como mensurar o prejuízo dos Mavs. Não só o esportivo, mas também o financeiro, pois certamente o atleta faria com que o nível da equipe subisse. E vitórias geram ingressos vendidos, patrocinadores, mais receita de produtos licenciados etc. . E tem a questão ética/moral, a mais grave pra mim. O gigante do Clippers sequer teve a educação, honra, dignidade de ligar para Mark Cuban ou algum representante do Dallas para comunicar que estava em dúvida e que talvez fosse mudar de ideia.

Por fim, antes de fechar cabem duas observações: 1) O Clippers estava tentando manter seu jogador, mas não considero que a atitude tinha sido ética. Se havia outro time na jogava (e havia, o Clippers sabia que havia) não custava puxar o telefone e avisar ao Dallas que voltaria a negociar com o atleta devido a dúvida do próprio atleta (que foi quem recomeçou a novela ao ligar para representantes da franquia). Para uma liga que tem os dirigentes na alta conta, creio que os do LAClippers falharam; e 2) A qualidade de DeAndre Jordan não está em questão. Independente de ser craque ou um pereba ninguém deve fazer o que ele fez. Alguém com um mínimo de decência poderia até se arrepender (é até aceitável), mas falaria com TODAS as partes envolvidas para minimizar o "sangramento" que sua atitude causaria.

Em português claro: o que DeAndre Jordan fez com o Dallas foi molecagem ao simplesmente ignorar o time que havia garantido que jogaria pelos próximos anos. O pivô preferiu o contrário. Preferiu se trancar em casa com seus antigos companheiros e jogar videogame. A vida, porém, é um pouco maior que isso. Ele precisará sair nas ruas. Ele precisará jogar em Dallas. Ele certamente ouvirá algum comentário do verborrágico e genial Mark Cuban a respeito desta patética situação em que ele, Cuban, e sua equipe foram submetidos. Se já tinha fama de mimado, o agora pivô do Los Angeles Clippers ganhou nas últimas horas outra pecha (esta menos, digamos, bacana ainda). A de quem não tem palavra. A de quem as pessoas só podem confiar quando há algo escrito. É uma mancha que não sairá mais de sua vida.

Acho prudente que bom o pivô aprenda a controlar suas emoções daqui pra frente, pois a pressão em cima dele não será fácil e ele será cobrado eternamente por isso.

Que ele também comece a tratar de melhorar seus lances-livres, pois no primeiro encontro contra os Mavs eu prevejo uns 60 tiros da marca fatal sendo cobrados por ele.

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