Todas as faces da jovem Damiris - seleção, WNBA, LBF e dramas familiares
Fábio Balassiano
10/03/2015 06h02
Conversei com ela sobre seu jogo e sua vida depois do Jogo das Estrelas de sábado em Franca.
DAMIRIS: Foi mesmo. Estava engasgado desde o ano passado, essa é a verdade. Esperávamos ganhar em São José em 2014 e não iríamos deixar passar essa oportunidade aqui em Franca, não. Era uma festa, foi um evento lindo, mas nós queríamos vencer de qualquer maneira. Ainda bem que conseguimos.
BNC: E o evento em si, te chamou a atenção, né?
DAMIRIS: Ah, sim. Muitas pessoas comentando, minhas amigas todas falando disso e assistindo a partida também. Tomara que, depois dessa festa, o basquete feminino do Brasil cresça muito.
DAMIRIS: Não, não. Já está totalmente decidido isso em minha cabeça e com meus agentes. Volto para a WNBA. Só estou esperando a definição de datas em relação ao Sul-Americano Feminino de Clubes que Americana irá disputar para saber exatamente quando voltarei aos EUA.
DAMIRIS: (Risos) Faz tempo que eu deixei de ser promessa, né? E tenho consciência disso. Sinto que estou amadurecendo a cada ano e essa ida para os Estados Unidos ano passado ajudou muito também. Lá cresci bastante como pessoa, ganhei bastante responsabilidade e tinha que corresponder. Não havia outra opção. Estava sozinha em um ambiente diferente, não conhecia ninguém. Foi difícil, mas hoje vejo que aquela experiência foi muito benéfica para mim. Tive bastante tempo de quadra, voltei mais confiante e ganhei muito em termos técnicos também.
DAMIRIS: Vou te ser muito sincera: não fiquei satisfeita com meu desempenho no Mundial passado. Sei que poderia ter rendido muito mais. Posso ir muito melhor do que fui. Fiquei muito chateada que cheguei e já viajei para o Mundial. É algo que espero que nunca mais aconteça, pois a preparação é fundamental e preciso muito dela (preparação). Espero que no Pan e no Pré-Olímpico a gente possa treinar muito para ir bem. Temos uma boa equipe e tenho certeza que podemos jogar melhor do que jogamos no Mundial do ano passado. Em 2016 há as Olimpíadas, é um sonho que espero alcançar também.
DAMIRIS: De verdade ainda estou me recuperando de tudo aquilo que passei em 2014. Foi muito difícil para mim. É algo pessoal, não gosto de ficar falando, mas foi realmente complicado. Estava no meio de temporada, jogando bem, quando chegou a notícia que minha tia havia sido internada. Foi a pessoa que me criou, um elo familiar importantíssimo para mim. Arrisquei perder meu contrato com a WNBA, mas não vi outra opção que não voltar para ficar um pouco com ela no hospital. O tempo que estive foi ótimo, perfeito, ela melhorou muito enquanto estivemos juntas. Só que aí voltei, passaram dois dias e ela veio a falecer. Não foi só o falecimento da minha tia, mas tudo o que cercou aquele momento. Eu ter que consolar e cuidar dos meus primos, minhas irmãs, meu tio também. Isso foi pesado. Mais uma vez tive que ser muito forte. Quando minha mãe faleceu, tive que cuidar das minhas irmãs. Agora, de meus primos e tios. Nem sei de onde tiro tanta força para te ser sincera. Só sei que tento me manter firme.
DAMIRIS: Todos os dias me pergunto: "Por que eu?". Todo dia. Pergunto, principalmente, sobre a morte da minha mãe com a gente tão nova. Depois minha avó. Dois anos depois a minha tia. Olha, quando recebi a notícia da minha tia eu fiquei muito brava com D's. Mal, mal mesmo. Queria saber o motivo pelo qual a minha família estava passando por isso tudo. Mas depois, com mais calma, a gente reflete e agradeço por tudo o que Ele vem fazendo por mim, pelas minhas irmãs. Se está acontecendo isso comigo é por algum motivo. Alguma razão que ainda desconheço há, e sei que está em boas mãos.
DAMIRIS: Disso não tenho a menor dúvida. Quando estou na quadra estou feliz, esqueço de tudo. Não consigo ver problema algum enquanto estou treinando ou jogando. A maioria das alegrias que tive foram dentro da quadra e por causa do esporte consegui dar uma condição melhor para minhas irmãs. Vim de uma comunidade carente de São Paulo, Ferraz de Vasconcelos, tive muita dificuldade na infância e tinha tudo, tudo mesmo para ir para o lugar errado, para o caminho não muito bom. Não sei se já te contei isso, mas convivi com muitas pessoas, quando era criança, que foram pro caminho errado, acabaram morrendo. O esporte me livrou de muitas coisas ruins e me colocou em condição de proporcionar coisas boas para os que me cercam. Principalmente para minha irmã menor, que é a mais especial. Tenho muita sorte em relação a isso.
DAMIRIS: (Risos) Nunca estou satisfeita. Isso é o mais importante. Com nada. O dia que achar que estou bem está errado. Mas na parte física creio que possa ir além, possa evoluir mais. Não só nela, mas meus arremessos de média e longa distância podem cair um pouco mais. Em Americana e Minnesota tenho profissionais muito bons que me ajudam e ajudarão nisso. Torço para que os resultados sejam vistos em breve.
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