Penny Hardaway fala da NBA e lamenta lesões que abreviaram sua carreira
Fábio Balassiano
26/02/2015 02h57
* O Blogueiro viajou a convite do Canal Space
Só que o tempo passou, uma série de graves lesões vieram e Penny não conseguiu mais repetir o desempenho do Orlando nas outras equipes que defendeu (Phoenix Suns, Miami Heat e New York Knicks). A carreira brilhante que se apresentava no começo da década de 90 teve um fim quase que melancólico na temporada 2007/2008 quando defendia o Heat. Fiz algumas perguntas a ele no All-Star Game de Nova Iorque sobre isso tudo. Confira!
PENNY HARDAWAY: É emocionante. É um momento feliz para mim. Já passei dos 40 e a gente vê que o tempo passa, o coração vai ficando mais mole e passamos a refletir muito sobre o que passamos. Agradeço muito a NBA por me trazer para este evento. É muito legal sentir o carinho do público e rever grandes amigos.
BNC: Você ficou muito famoso quando, ao lado do Shaquille O'Neal, levou o Orlando a uma final de NBA apenas em seu segundo ano. Perderam do Houston e depois nunca mais voltaram a uma decisão. Como foi aquele seu começo de carreira? Por que depois nada deu tão certo com o Orlando?
PENNY: Ah, cara, éramos uns moleques jogando uma final de NBA. Algo muito difícil aconteceu conosco, ou seja, chegar tão longe ser ter aprendido com derrotas. Tinha 23 anos e do outro lado da quadra estavam Clyde Drexler e o Hakeem Olajuwon. Não tínhamos tanta experiência na liga, mas nosso time era bastante abusado. Não tinha medo, nada disso. O que passava na nossa frente tínhamos que ir lá e vencer. E vencíamos. Acredito que a saída do Shaq para o Lakers depois da temporada 1995/1996 foi determinante não só para a franquia desmoronar mas também para os jogadores verem que seria muito difícil chegar longe sem o nosso pivô.
PENNY: Infelizmente toda hora reprisam as imagens desse jogo, deste momento que você cita. Nas finais, então, é um caos. Parece que só lembram desse momento aí (risos). É algo muito doloroso para nós, para todos os jogadores que fizeram parte daquele time. Passa bastante em minha cabeça, sim. O que aconteceu? Fácil. Nós entramos em colapso. Vimos uma chance ser desperdiçada, perdemos um jogo e não conseguimos mentalmente nos recuperar. O Houston cresceu psicologicamente, nós desabamos, caímos e não nos levantamos. Foi uma grande dor, mas também uma grande lição. Perdíamos, àquela altura, de apenas 1-0. Poderíamos ter feito uma série dura, lutado pelo título, mas sucumbimos diante da primeira dificuldade real que vimos.
PENNY: Só pergunta fácil, hein (risos). Mas a resposta dessa é tranquila: já admirava o jogo de Jason Kidd desde os tempos de universidade e sonhava em jogar com ele. Quando o Phoenix me fez a proposta eu pensei muito menos em como minha carreira ficaria e muito mais em quão genial seria jogar ao lado de um dos caras que eu mais respeitava na NBA. Foi uma decisão emocional. Hoje em dia quando olho pra trás não é que me arrependa, mas sim vejo que era a cara de uma franquia (Orlando) e abri mão disso. Aprendi que não se deve sair do time por algo não tão certo assim. Achei, na época, que meu tempo com o Magic tinha acabado e que eu precisava de um novo capítulo, mas olhando hoje eu vejo que o Orlando era o meu time.
PENNY: Foi legal, viu. Melhor que as partidas era a camaradagem que tínhamos, o convívio de nossas famílias e a maneira como nós lidávamos com aquele grande evento no hotel, nos passeios. Todos desfrutaram muito. Foi interessante passar mais tempo com caras que normalmente eu só via em cinco, dez minutos depois dos jogos. Ter um contato maior, jogar sinuca, uma partida de ping-pong, jogar conversa fora. Fora que tinham muitas feras como Reggie Miller, John Stockton, Gary Payton, caras consagrados e que eram referências da NBA para mim. Também foi realmente interessante ter sido treinado por Jerry Sloan. Ele era do Utah Jazz e eu jamais imaginei que seria possível ser treinado por ele. O cara me parecia uma fera, meio chato até. Mas conhecendo o Sloan ao vivo tudo mudou. Grande figura, grande experiência ter convivido com ele de perto.
PENNY: Os jogadores internacionais trabalharam muito duro para chegar aqui. Isso é um grande mérito. O mercado se abriu, mas os times da NBA não trariam jogadores ruins só por uma questão econômica. Se os estrangeiros estão aqui é porque jogam bola. Nos Estados Unidos há muitas distrações, muitas opções e os jovens acabam se perdendo, não se preparando como deveriam.
PENNY: Olha, eu acho que a diferença é que aqui nos Estados Unidos os fundamentos são ensinados porque você quer a criança em quadra. Na Europa e no resto do mundo me parece que é o contrário. É mais ou menos assim: "Se você quer jogar na NBA precisa ter todos os fundamentos bem completos". E aí o cara treina o dobro, se especializa, foca em não ter defeito algum de formação nos conceitos básicos do jogo.
PENNY: Sempre digo para os mais novos: "Tenham paciência e vivam um dia de cada vez". Se não é uma lesão que acaba com a sua carreira há que ter paciência, esperar, se recuperar bem e só voltar em perfeitas condições.
BNC: Sempre foi muito difícil para você voltar de lesões, né?
PENNY: Muito, muito difícil. E por uma série de fatores. Eu acabava apressando os retornos devido às pressões minha mesmo, da franquia, do time. Sempre voltava uma semana, um mês antes. E isso certamente cobrou a conta alguns anos depois, quando meu corpo, já mais velho, sentia os resultados de eu não feito a melhor recuperação possível. Nunca pensei que eu estava voltando com 100% das minhas condições. Como pensava em ajudar a equipe me contentava em voltar e em poder entrar em quadra para ajudar meus companheiros. Se eu tivesse usado um mês, uma semana a mais certamente minha carreira teria sido muito mais longa.
PENNY: Conscientemente de verdade não. Muita gente dizia isso, mas não fazia parte da minha linha de raciocínio, posso lhe garantir. Eu só queria estar na quadra, jogar, ajudar meus companheiros.
BNC: Pra fechar. Uma vez li que você é cheio de superstições, tem muitas manias. Consegue dizer algumas pra gente?
PENNY: Ah, sim, tenho muitas. Sexta-feira 13 sempre me trouxe problemas. É terrível. Outra coisa: quando a gente ganhava um jogo e eu jogava bem, no seguinte eu fazia questão de pegar o mesmo caminho de carro para ir ao ginásio. Podia estar trânsito, o que fosse, mas faria o mesmo trajeto de qualquer maneira. Todo atleta tem suas coisas (risos).
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