Após infância difícil, Butler brilha mas rejeita rótulo de estrela do Bulls
Fábio Balassiano
24/02/2015 01h33
* O Blogueiro viajou a convite do Canal Space
Responsável por 20,5 pontos (7 a mais que na temporada passada) e um dínamo na marcação, Butler tem uma história de vida de superação. Nascido e criado em Houston, Texas, seu pai abandonou a família quando meses após seu nascimento. Aos 13, sua mãe literalmente o tirou de casa porque dizia não aguentá-lo vê-lo por perto. O franzino rapaz ficou perambulando em casas de amigos até conseguir moradia em colégio, uma bolsa na faculdade e um contrato na NBA – quando efetivamente teve sua primeira casa para morar.
Conversei com ele sobre basquete, o All-Star Game e, claro, sobre sua linda história de vida.
JIMMY BUTLER: Derrick (Rose) está ótimo. Ele é um All-Star e só não está aqui por acaso. É o nosso líder e em breve vai voltar ao All-Star Game, pode estar certo. Mas eu não estou tão sozinho assim. O (Pau) Gasol está aqui e não me deixa ficar muito isolado. Sobre jogar com o LeBron, não há outra palavra que não 'estranho'. De todo modo, espero ver bem de perto o que ele faz em termos de treinamento, preparação. Quem sabe pode nos ajudar mais na frente.
BUTLER: Nem a gente mesmo entende (risos). O Tom (Thibodeau, o técnico) tem conversado com a gente para sermos mais constantes, regulares e tenho certeza que vamos nos acertar nesta segunda metade. A NBA não é uma liga fácil, há ótimos times mesmo fora da zona de classificação ao playoff e perder a concentração é um erro que não podemos cometer.
BNC: E a defesa, por que piorou tanto em relação a temporada passada?
BUTLER: A minha ou a da equipe?
BUTLER: Acho que a defesa não piorou tanto assim quanto os números dizem. A imprensa daqui ama analisar os times através dos números, mas basquete não é só isso. A defesa do Golden State leva muitos pontos e é ótima, né? Levam muitos pontos porque o jogo deles baseia-se em velocidade, muitos arremessos, chutes rápidos. Há mais posses de bola disponíveis para todos. Puxando para o nosso lado agora. Com o Derrick Rose somos mais rápidos, e acabamos dando mais posses de bola para o adversário também. Além disso, Pau Gasol chama muitas jogadas de isolação e nem sempre estamos agrupados para a transição defensiva. Faz parte da nossa tão necessária evolução ofensiva, que acaba gerando efeitos do outro lado da quadra. Como eles agridem muito a cesta, a chance de levarmos contra-ataque também aumenta. Não podemos esquecer, também, que temos dois novos titulares na rotação (Gasol e o próprio Rose de volta), o Joakim (Noah) se machucou e no banco há dois calouros (Doug McDermott e Nikola Mirotic) e um jogador de segundo ano (Tony Snell). Tudo isso influencia. Vocês acham que desaprendemos? Não mesmo. Precisamos apenas encontrar o equilíbrio necessário entre atacar com sabedoria e agredir na defesa na mesma medida.
BUTLER: Treinei muito antes dessa temporada. Foi um trabalho duro, pesado mesmo, mas eu precisava fazer porque sabia que tinha muitos tijolos a acrescentar na minha casinha. Quando começou a pré-temporada percebi que meu chute estava caindo, que todos me olhavam felizes e decidi arriscar. O Thibodeau me deu carta-branca, disse pra atacar a cesta sem medo e é isso o que estou fazendo desde então. Minha principal função será sempre a de defender o principal pontuador de perímetro do adversário, mas isso não tem me impedido de conseguir atacar a cesta. Considero que isso me torna um atleta mais completo.
BUTLER: Essa do Magic foi legal, né? Vindo dele, um ídolo, me deixou muito feliz. Mas não me considero o craque da franquia. Essa posição é do Derrick Rose. Eu sou um batalhador, um jogador de grupo. O que o técnico me pedir para fazer em quadra eu farei sem problema algum.
BUTLER: (Risos) Em que mês estamos?
BNC: Em que mês? Fevereiro…
BUTLER: Temos muito tempo até definir isso. Ali em junho, julho é o momento de falar de renovação de contrato. Agora temos uma missão, que é ganhar o título da NBA, e é por ela que iremos. Qualquer coisa fora dessa alçada esportiva não me interessa agora.
BUTLER: A verdade é que meu passado difícil me fez ficar mais forte. Principalmente no lado mental. Não é qualquer coisa que me abala. Sei bem que a vida, digamos, real é muito mais difícil do que uma simples torção de tornozelo. No basquete por vezes somos muito mimados e perdemos o contato com a realidade que nos cerca. Isso comigo não acontece, e posso lhe garantir que com nossa equipe também não. Manter os pés no chão é fundamental para não nos descolarmos daquilo que realmente somos e daquilo que realmente pretendemos ser.
BUTLER: Te digo: não gosto de ficar lembrando do passado, porque parece que você quer contar uma história triste, mas é o que é e preciso aceitar. Sou muito grato a todas as famílias que me acolheram, principalmente ao Jordan Leslie, um verdadeiro irmão para mim. O basquete sempre foi minha tábua de salvação na vida. A única. Na época da faculdade e do colégio, eu jogava porque o basquete me dava bolsa de estudo, comida, academia e moradia. Não sonhava com muito mais do que aquilo. Era, naqueles momentos conturbados, o meu máximo, o maior prêmio que poderia pedir. Ter uma bolsa de estudo para, sei lá, ter uma profissão mais adiante. Nunca pensei em ser jogador de basquete até que em Marquette (Faculdade) eu percebi que poderia seguir como atleta profissional. Hoje jogo porque amo e porque quero ser campeão da NBA. É uma diferença grande. Na quadra você me vê como realmente sou fora dela – batalhador, disciplinado e disposto a fazer qualquer coisa para ver meu time vencer.
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