Isiah Thomas relembra conquistas do Detroit e fala da globalização da NBA
Fábio Balassiano
13/02/2015 02h36
* O Blogueiro viajou a convite do Canal Space
Quando acabou o treino (e consequentemente a transmissão da NBA TV) eu fui lá perto de Isiah Thomas para tentar alguma coisa. Passei, perguntei se ele poderia falar um pouco e o sorriso conhecido foi a senha para o papo de quase 10 minutos com a fera da NBA. Na entrevista, os Bad-Boys de Detroit, a globalização do basquete, o veto de Michael Jordan a sua presença no Dream Team dos Jogos Olímpicos de Barcelona em 1992 e muito mais. Confira!
ISIAH THOMAS: Não sabia que éramos tão conhecidos assim no Brasil. Obrigado. Creio que o que nos tornou assim famosos e queridos tenha sido a maneira como nós trabalhávamos, nos portávamos em quadra. Éramos muito unidos, éramos amigos mesmo dentro e fora da quadra. A maneira como jogávamos também pode ser que tenha atraído. Gostávamos do jogo rápido, "dividir" a bola entre todos, deixar todos envolvidos e defender de forma bem física – em algumas vezes até além da conta. Esse era o nosso estilo e ter feito parte daquele Detroit Pistons foi uma honra e um prazer enorme para mim.
ISIAH: Olha, o esporte sempre procura o cara ruim, o lado bom e o cara mau. Faz parte do espetáculo, faz parte de como o produto existe há muito tempo. Cada time procura uma identidade, um caráter para vencer, para ser forte. O Lakers e os Celtics eram os bonzinhos, eram o produto que a NBA queria vender. Só havia, portanto, um chapéu para colocar. O do lado bom já estava sendo usado. Nós sabíamos disso e precisávamos fazer algo diferente para derrotá-los. A postura que adotamos foi totalmente calculada. Sabíamos dos riscos de jogar daquela maneira, de assumir aquela alcunha, mas tínhamos que fazer uma escolha. Acabou dando certo porque nos unimos como nunca para chegarmos aos nossos objetivos. Foram três finais, dois títulos. Conseguimos bastante coisa.
ISIAH: (Risos) Combinava conosco, né? É o que éramos mesmo. Nós "abraçamos" a causa dos Bad-Boys e seguimos assim até o final.
BNC: Nessa década de 80 começou a internacionalização do jogo, a globalização da NBA devido ao trabalho do David Stern. Quase 30 anos se passaram, você continua vendo o jogo, agora como comentarista, e queria saber como você avalia o que se passa na quadra atualmente. É um outro jogo, certo?
ISIAH: A globalização e a chegada de mais e mais jogadores estrangeiros para a NBA fez com que o jogo ficasse melhor. Disso não tenho a menor dúvida. Mudou tudo. Desde a maneira de comunicar, de buscar conhecimento, buscar aperfeiçoamento, tudo. E isso, obviamente, gera um crescimento, gera um desenvolvimento. Antes era um jogo dos Estados Unidos, era uma NBA praticamente local. Hoje, não. É um campeonato global, mundial. Os melhores do planeta estão aqui e isso certamente fez com que o esporte mudasse, evoluísse.
ISIAH: Bem, essa é uma discussão bem interessante. Há dez anos dizia-se: "Você pode mentir usando os números". Hoje, dez anos depois, diz-se: "Só me importam os números". É complicado isso. Acho que depende muito de como você utiliza o conhecimento, os números, as estatísticas. Números podem ser manipulados a seu favor ou contra você. É bem simples isso para mim. Números são frios. O conhecimento e o estudo com eles (números) precisam estar aliados ao que se vê na quadra.
ISIAH: Sendo muito sincero: adorava competir contra Chicago e adorava competir contra Michael Jordan. E o jogo te leva a algumas vitórias memoráveis e a algumas derrotas torturantes. Não ter ido aos Jogos Olímpicos de Barcelona em 1992 me machucou demais, muito mesmo. Foi um momento de cortar o coração, que doeu bastante, um dos mais difíceis da minha carreira. Ao mesmo tempo, fiquei muito feliz que a medalha de ouro veio ao meu país. Queria muito ter estado lá, pois fiz parte daquela geração, mas como não estava eu só podia fazer uma coisa – torcer por eles. E foi o que eu fiz da minha casa.
ISIAH: (Risos) É verdade, foi isso mesmo. Isso se chama vontade, desejo de vencer. Quando se quer vencer você faz todo possível. Tínhamos uma vontade enorme de vencer e ter ficado acordado refletindo sobre o que tinha passado e o que viria pela frente não foi uma tortura para mim. Fiz o que todo atleta que quer ganhar o jogo deve fazer. Todo tipo de informação ou conhecimento que se tem durante o processo é preciso ser usado para levar a melhor na batalha seguinte. Foi o que eu e meus companheiros tentamos fazer por uma década naquele Detroit.
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