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Huertas fala sobre boa fase no Barcelona e ainda não descarta jogar na NBA

Fábio Balassiano

09/02/2015 01h04

Marcelo Tieppo Huertas (31 anos) é um dos melhores jogadores da Europa há anos. Em seu último ano de contrato, Marcelinho tem tido uma temporada exuberante pelo Barcelona, time pelo qual atua desde 2011, guiando a equipe catalã tanto na Liga ACB espanhola quanto na Euroliga. Conversei com ele sobre sua atual fase, se o sonho de jogar na NBA ainda existe

BALA NA CESTA: O começo de 2015 tem sido fantasticamente avassalador para você. Teve o jogo com as seis bolas de três seguidas na Euroliga, uma partida esplêndida contra o Unicaja pela Liga ACB. Você colocou alguma meta especial para este ano? O que você está esperando deste fim de temporada 2014/2015 para você e para o Barcelona?
MARCELINHO HUERTAS: Não tenho nenhuma meta em especial. Sempre jogo para ganhar e nunca vou mudar minha mentalidade, independente do time que jogue e menos ainda jogando pelo Barcelona. Quero ganhar tudo e treino para isso. A meta é sempre lutar por todos os títulos. As competições estão chegando em momentos importantes e temos muito que melhorar como equipe para chegar ao que queremos. Seria importante também a recuperação de jogadores que estiveram machucados e estão voltando aos poucos, pois são muito importantes para o nosso esquema tático e têm peso na equipe.

BNC: Este é seu último ano de contrato com o Barcelona. Há alguma conversa com o clube catalão para a renovação de contrato, ou isso ainda não foi pensado?
HUERTAS: Existe, sim, uma possibilidade de eu continuar. Mas, sendo bem sincero, estou focado em jogar, em terminar bem esta temporada. Depois é fazer a coisa certa no momento certo.

BNC: Nos últimos jogos a impressão que eu tive é que o Xavi Pascoal te deu mais liberdade para armar as ações ofensivas do Barcelona. É só impressão ou aconteceu isso mesmo? Talvez com os minutos reduzidos do Navarro a gente, de longe, tenha essa ideia. Mais do que nunca este parece ser o "seu" time. É por aí mesmo?
HUERTAS: Sempre tive liberdade, mas tem que saber usá-la dentro do sistema. Somos uma equipe que não foge muito da estrutura ofensiva organizada. Não podemos jogar livremente. A responsabilidade é sempre grande e tomar mais ou menos decisões vai de acordo com cada jogo e a necessidade do time. Talvez, devido aos jogadores importantes machucados, a tomada de decisões e o meu protagonismo tenham sido maiores, o que não me impede de fazer o mesmo quando estivermos completos igualmente. Nunca fugirei de qualquer responsabilidade, pode ter certeza.

BNC: A equipe do Barcelona tem comprovadamente em números a melhor defesa da Europa no século 21. No entanto no começo da sua carreira a defesa era uma das suas principais fraquezas. Como foi pra você se ajustar a esse novo estilo na Europa e no Barcelona?
HUERTAS: Talvez não seja um grande defensor individual, mas hoje em dia as estratégias defensivas de equipe são uma chave muito importante para que as defesas sejam fortes. Diria que taticamente sempre fui muito ligado em todos os mínimos detalhes e por mais que não seja dos melhores defensores de 1×1 tenho a capacidade de coordenar uma defesa de time sabendo as movimentações rivais com o "scouting" que fazemos, comunicando regras em cada situação defensiva que em um único ataque podem variar três ou quatro vezes. É meio difícil explicar uma coisa tão tática, mas todos têm sua importância independente de sua habilidade individual, seja na defesa ou no ataque.

BNC: Você hoje é considerado um dos melhores armadores do mundo fora da NBA. É frequentemente colocado no mesmo patamar de Spanoulis, Teodosic e por aí vai. Quem, na sua opinião, é o armador mais difícil de enfrentar? E quem foi o jogador mais difícil que você já teve que marcar na sua carreira?
HUERTAS: São inúmeros armadores renomados aqui na Europa, mas acredito que Spanoulis (foto à esquerda) seja o mais complicado, pois o ataque do Olympiacos está baseado em 90% do seu jogo em situação de pick&roll. Ele é o dono da bola e tem uma leitura da quadra bem acima da média não só para sua anotação, mas também com capacidade de passe. Teodosic também é outro fora de série com uma mão certeira de três pontos, magia nos passes e com visão de quadra rara.

BNC: Uma cena em especial me chamou a atenção no final da temporada passada quando vocês foram campeões da Liga ACB. Você foi a arquibancada depois que a torcida gritou loucamente seu nome, pegou uma bandeira do Barça e ficou lá com os caras. Pareceu, inclusive, uma homenagem que você havia recebido no Bilbao, uma das mais emocionantes de sua carreira. Passou pela sua cabeça que aquele momento seria sua despedida, ou nada a ver?
HUERTAS: Foi simplesmente um ato de comemoração. Nada mais que isso. Conversei com os torcedores sobre um pequeno desentendimento que houve em relação ao time um pouco antes da final, explicando o porquê das coisas. Para muitos, o Barcelona é a sua vida e nada mais justo que dividir aquele momento de euforia e glória com quem se desdobra para ver os jogos e tem um sentimento pelo time que nem mesmo nós jogadores podemos explicar.

BNC: Poderia falar um pouco do seu entrosamento com o pivô Ante Tomic? É exagero afirmar que a maneira como vocês dois têm jogado (principalmente com corta-luzes na cabeça do garrafão) lembra a maneira como você jogou por muito tempo com o Splitter no Baskonia?
HUERTAS: Temos, Tomic e eu, um entendimento muito bom. Ele é um jogador muito inteligente e saber ler as situações de jogo como poucos. Sem dúvida junto com o Splitter é o pivô que melhor entrosamento eu encontrei. Sendo bem claro: é um luxo poder jogar com ele.

BNC: Mudando um pouco de assunto. A seleção brasileira jogou um bom Mundial aí na Espanha, mas perdeu um jogo que a levaria para a parte das medalhas (contra a Sérvia nas quartas-de-final). Ficou um gosto amargo principalmente por este ter sido, provavelmente, o último mundial dessa geração?
HUERTAS: Sim, ficou. E ficou porque já tínhamos demonstrado para nós mesmo que poderíamos ter vencido a Sérvia. Só que em jogos eliminatórios não há margem de erro e tempo para ajustar como um playoff. Realmente, deixou um sabor muito ruim pois temos muito claro que poderíamos ter ido muito além das quartas-de-final. Especialmente depois da derrota da Espanha este sentimento se potencializou.

BNC: Muito se falou sobre sua condição psicológica para o Mundial da Espanha. Você teve um problema pessoal (o falecimento do seu avô), não foi muito bem na fase de amistosos e no Mundial suas médias foram de 6,9 pontos e 3,9 assistências (suas mais baixas com a seleção em Mundiais). Como você avalia sua própria participação no torneio?
HUERTAS: Estava bem apesar desse problema pessoal. Talvez numericamente não tenha sido brilhante, mas um armador tem que saber jogar para o time que tem. Ano passado, tendo o time completo e jogadores em ótima forma como como Marquinhos e Leandrinho, você tem que ser inteligente e generoso para abdicar de coisas para o bem do time. Além disso, o nosso jogo interior estava muito forte e tinha que ser explorado mais que o habitual também.

BNC: Uma pergunta que leva a outra. Vamos lá. Quem eram seus ídolos e suas referências quando você começou a jogar basquete?
HUERTAS: Michael Jordan, sem dúvida, e depois alguns armadores que marcaram minha adolescência como Jason Kidd e Steve Nash.

BNC: Te pergunto isso pelo seguinte. Já parou para pensar que hoje muitas crianças brasileiras que começam a jogar tem você como ídolo? Como é isso na sua cabeça? Já houve alguma situação em que você não tinha percebido o tamanho de sua importância até ser abordado por algum fã/torcedor?
HUERTAS: É estranho pensar nisso, mas acho que é uma realidade. Lógico que muitas crianças têm como ídolos LeBron James, Kevin Durant, mas existe também aquelas que se identificam e idolatraram jogadores brasileiros e se espelham em nós. É um reconhecimento de um trabalho longo e que, com certeza, dá seus frutos. Não me lembro de nenhuma situação em concreto, mas cada vez mais parece que as pessoas sabem quem você é em muitos lugares e isso é muito bacana.

BNC: Recentemente o NBB assinou parceria com a NBA. Você, já com 31 anos, pensa em voltar a jogar no Brasil agora que a estrutura do campeonato interno está mais organizada? Jogar uma temporada pelo Paulistano, clube que o revelou, passa pela sua cabeça?
HUERTAS: Não penso muito sobre o futuro, sinceramente falando. Quero viver o presente e focar no que está por vir agora. Mas não descartaria voltar a minha casa nunca. Nasci e cresci ali, aprendi a jogar basquete lá e devo muito ao Paulistano pela minha carreira.

BNC: Vejo como suas principais qualidades como jogador sua excelente visão de jogo, seu bom controle de bola, seu passe, sua grande facilidade em distribuir a bola. Qualidades que estão em falta no Brasil, que tem um jogo pouco cadenciado e cujas principais promessas na armação se preocupam, às vezes, mais em pontuar do que em armar o jogo/passar a bola. Pra você que está há tanto tempo na Europa qual a principal carência no basquete brasileiro? Por que temos tanta dificuldade em revelar armadores?
HUERTAS: Acredito muito na força do jogador. Em primeiro lugar cada jogador deve querer aprender coisas novas e não se deixar iludir por números. Assistir basquete, principalmente europeu, no meu ponto de vista, ajuda a melhorar conceitos importantes do jogo. Exemplos: como valorizar a posse de bola, disciplina tática, timing, espaços, leituras, uma série de coisas que muitas vezes não se dão valor e que fazem toda diferença. Acredito que a base deveria ser melhor trabalhada nesses pequenos detalhes para a melhor construção de jogadores.

BNC: Por fim, a pergunta que todos ainda se fazem no Brasil. Em 2004, com 21 anos, você colocou seu nome como elegível ao Draft e disse que um dos seus sonhos era atuar na NBA. Hoje você tem 31, está mais experiente, se tornou uma referência na Europa e o contrato com o Barcelona termina esse ano. É impossível não fazer uma comparação com o Pablo Prigioni, que aos 35 anos e com carreira sólida na Europa foi arriscar a sorte na liga norte-americana. O que você pensa sobre isso? Ficou marcado na minha cabeça o amistoso do Barcelona contra o Dallas Mavericks alguns anos atrás em que você foi peça fundamental para ajudar o Barça a vencer os texanos. Você ainda pensa em jogar um ano na NBA?
HUERTAS: Sempre existe essa possibilidade (de jogar na NBA) e nunca descartarei. Acho que poderia render a um bom nível tendo em conta que para o meu estilo de jogo de 'P&R' (pick-and-roll) existem muitos mais espaços e jogadores muito atléticos que facilitariam ainda mais as coisas. Resta esperar e ver o que acontece no futuro.

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