Huertas fala sobre boa fase no Barcelona e ainda não descarta jogar na NBA
Fábio Balassiano
09/02/2015 01h04
BALA NA CESTA: O começo de 2015 tem sido fantasticamente avassalador para você. Teve o jogo com as seis bolas de três seguidas na Euroliga, uma partida esplêndida contra o Unicaja pela Liga ACB. Você colocou alguma meta especial para este ano? O que você está esperando deste fim de temporada 2014/2015 para você e para o Barcelona?
MARCELINHO HUERTAS: Não tenho nenhuma meta em especial. Sempre jogo para ganhar e nunca vou mudar minha mentalidade, independente do time que jogue e menos ainda jogando pelo Barcelona. Quero ganhar tudo e treino para isso. A meta é sempre lutar por todos os títulos. As competições estão chegando em momentos importantes e temos muito que melhorar como equipe para chegar ao que queremos. Seria importante também a recuperação de jogadores que estiveram machucados e estão voltando aos poucos, pois são muito importantes para o nosso esquema tático e têm peso na equipe.
HUERTAS: Existe, sim, uma possibilidade de eu continuar. Mas, sendo bem sincero, estou focado em jogar, em terminar bem esta temporada. Depois é fazer a coisa certa no momento certo.
HUERTAS: Sempre tive liberdade, mas tem que saber usá-la dentro do sistema. Somos uma equipe que não foge muito da estrutura ofensiva organizada. Não podemos jogar livremente. A responsabilidade é sempre grande e tomar mais ou menos decisões vai de acordo com cada jogo e a necessidade do time. Talvez, devido aos jogadores importantes machucados, a tomada de decisões e o meu protagonismo tenham sido maiores, o que não me impede de fazer o mesmo quando estivermos completos igualmente. Nunca fugirei de qualquer responsabilidade, pode ter certeza.
HUERTAS: Talvez não seja um grande defensor individual, mas hoje em dia as estratégias defensivas de equipe são uma chave muito importante para que as defesas sejam fortes. Diria que taticamente sempre fui muito ligado em todos os mínimos detalhes e por mais que não seja dos melhores defensores de 1×1 tenho a capacidade de coordenar uma defesa de time sabendo as movimentações rivais com o "scouting" que fazemos, comunicando regras em cada situação defensiva que em um único ataque podem variar três ou quatro vezes. É meio difícil explicar uma coisa tão tática, mas todos têm sua importância independente de sua habilidade individual, seja na defesa ou no ataque.
HUERTAS: São inúmeros armadores renomados aqui na Europa, mas acredito que Spanoulis (foto à esquerda) seja o mais complicado, pois o ataque do Olympiacos está baseado em 90% do seu jogo em situação de pick&roll. Ele é o dono da bola e tem uma leitura da quadra bem acima da média não só para sua anotação, mas também com capacidade de passe. Teodosic também é outro fora de série com uma mão certeira de três pontos, magia nos passes e com visão de quadra rara.
HUERTAS: Foi simplesmente um ato de comemoração. Nada mais que isso. Conversei com os torcedores sobre um pequeno desentendimento que houve em relação ao time um pouco antes da final, explicando o porquê das coisas. Para muitos, o Barcelona é a sua vida e nada mais justo que dividir aquele momento de euforia e glória com quem se desdobra para ver os jogos e tem um sentimento pelo time que nem mesmo nós jogadores podemos explicar.
HUERTAS: Temos, Tomic e eu, um entendimento muito bom. Ele é um jogador muito inteligente e saber ler as situações de jogo como poucos. Sem dúvida junto com o Splitter é o pivô que melhor entrosamento eu encontrei. Sendo bem claro: é um luxo poder jogar com ele.
HUERTAS: Sim, ficou. E ficou porque já tínhamos demonstrado para nós mesmo que poderíamos ter vencido a Sérvia. Só que em jogos eliminatórios não há margem de erro e tempo para ajustar como um playoff. Realmente, deixou um sabor muito ruim pois temos muito claro que poderíamos ter ido muito além das quartas-de-final. Especialmente depois da derrota da Espanha este sentimento se potencializou.
HUERTAS: Estava bem apesar desse problema pessoal. Talvez numericamente não tenha sido brilhante, mas um armador tem que saber jogar para o time que tem. Ano passado, tendo o time completo e jogadores em ótima forma como como Marquinhos e Leandrinho, você tem que ser inteligente e generoso para abdicar de coisas para o bem do time. Além disso, o nosso jogo interior estava muito forte e tinha que ser explorado mais que o habitual também.
HUERTAS: Michael Jordan, sem dúvida, e depois alguns armadores que marcaram minha adolescência como Jason Kidd e Steve Nash.
BNC: Te pergunto isso pelo seguinte. Já parou para pensar que hoje muitas crianças brasileiras que começam a jogar tem você como ídolo? Como é isso na sua cabeça? Já houve alguma situação em que você não tinha percebido o tamanho de sua importância até ser abordado por algum fã/torcedor?
HUERTAS: É estranho pensar nisso, mas acho que é uma realidade. Lógico que muitas crianças têm como ídolos LeBron James, Kevin Durant, mas existe também aquelas que se identificam e idolatraram jogadores brasileiros e se espelham em nós. É um reconhecimento de um trabalho longo e que, com certeza, dá seus frutos. Não me lembro de nenhuma situação em concreto, mas cada vez mais parece que as pessoas sabem quem você é em muitos lugares e isso é muito bacana.
HUERTAS: Não penso muito sobre o futuro, sinceramente falando. Quero viver o presente e focar no que está por vir agora. Mas não descartaria voltar a minha casa nunca. Nasci e cresci ali, aprendi a jogar basquete lá e devo muito ao Paulistano pela minha carreira.
HUERTAS: Acredito muito na força do jogador. Em primeiro lugar cada jogador deve querer aprender coisas novas e não se deixar iludir por números. Assistir basquete, principalmente europeu, no meu ponto de vista, ajuda a melhorar conceitos importantes do jogo. Exemplos: como valorizar a posse de bola, disciplina tática, timing, espaços, leituras, uma série de coisas que muitas vezes não se dão valor e que fazem toda diferença. Acredito que a base deveria ser melhor trabalhada nesses pequenos detalhes para a melhor construção de jogadores.
HUERTAS: Sempre existe essa possibilidade (de jogar na NBA) e nunca descartarei. Acho que poderia render a um bom nível tendo em conta que para o meu estilo de jogo de 'P&R' (pick-and-roll) existem muitos mais espaços e jogadores muito atléticos que facilitariam ainda mais as coisas. Resta esperar e ver o que acontece no futuro.
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