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Sobre a falta de espaço dos jovens no basquete do país - há solução?

Fábio Balassiano

04/12/2014 03h21

Após a vitória sobre o Paulistano em São Paulo na semana passada o armador Henrique Coelho (foto à esquerda) foi perguntado pelo Sportv sobre o surpreendente começo do Minas no NBB. E ele, ótimo com a bola nas mãos, saiu-se muito bem com as palavras também ao dizer que jovens como ele só precisam de espaço, de uma chance, de técnicos que os incentivem, ensinem e cobrem. Tudo que tem ocorrido na equipe comandada por Demetrius neste início de temporada.

E aí fiquei pensando nesta situação dos jovens de uma semana pra cá. Este tema é recorrente no blog, aliás. Quem está sempre por aqui já leu algumas linhas sobre isso principalmente no feminino, onde a zona de conforto dos clubes em contratar veteranas e não efetivar as mais novas é uma obsessão sem fim que merece estudos mais profundos.

Tratando especificamente do masculino a verdade é que, de fato e conforme Coelho disse, dificilmente você verá jovens de até 23, 24 anos liderando as estatísticas do NBB em minutos em quadra. Nesta temporada de 2014/2015 são 16 times e entre os 35 que mais jogam apenas 4 estão abaixo dos 25 anos de idade. É algo que merece uma reflexão, não? Reflexão por parte da Liga Nacional, dos clubes, dos técnicos, dos jogadores, da Associação de Atletas (cujos diretores são todos veteranos, mas tudo bem…) e principalmente da Confederação.

fiz essa pergunta aqui uma vez e repito: onde estão os atletas de 24, 25, 26 anos que deveriam estar "puxando o carro" tanto de seus times quanto da seleção brasileira? Não há, pode procurar aí. Nas franquias do NBB os "caras" são veteranos – brasileiros ou não. Na equipe nacional de Rubén Magnano, o time titular inteiro e os reservas de mais peso têm mais de 30 anos (a exceção do grupo que teve média de mais de 30 no Mundial da Espanha foi justamente Raulzinho, de 22 – na foto à direita). É uma clara consequência da falta de qualidade no trabalho de base da CBB (ou de qualquer tipo de trabalho…) nas últimas duas décadas, isso é muito óbvio, mas não dá pra ficar parado esperando uma solução cair do céu – porque não vai cair, desculpe avisar isso.

Não sei exatamente o que os envolvidos nesta questão têm na cabeça em relação ao assunto. Mas a presença de jovens não é uma ameaça aos veteranos que dominam o basquete nacional desde o começo do NBB (Giovannoni, Marcelinho, Alex, Nezinho, Helinho etc.), mas sim uma necessidade e quase que uma tábua de sobrevivência do produto NBB em si para os próximos anos do campeonato.

Se a turma dos 30+ foi FUNDAMENTAL para ajudar a recolocar o basquete brasileiro nos trilhos com a criação do NBB, é com a molecada que hoje tem entre 17 e 22 que o campeonato dará maior salto de qualidade no futuro próximo. Deveria, portanto, haver espaço para todos e não (como ocorre hoje) vício em apenas dar espaço, e chance, aos mais velhos.

Não sei como fazer para que os jovens joguem por mais tempo, tenham mais oportunidades de mostrar seus talentos. O caso do Minas mesmo é exemplar. Grande produtor de talentos em todas as modalidades olímpicas, a molecada só teve espaço quando o dinheiro dos patrocinadores minguou para esta temporada. Foi muito mais situacional do que opção da diretoria por um modelo esportivo diferente, portanto.

Uma boa alternativa seria criar, como existe na Austrália através do Instituto de Esporte (AIS), times que jogassem o NBB (e também a LBF) apenas com atletas Sub-23 (no AIS os jovens ficam por dois anos sendo treinados e jogando a liga adulta local). Foi lá, por exemplo, que surgiu Liz Cambage, primeira mulher a enterrada em uma Olimpíada (2012 em Londres). Isso, na verdade, não é novo e já ocorreu no começo do século com o Maranhão no (agora extinto) Nacional Feminino de 2001 (veja mais aqui). Paulo Bassul, hoje Gerente Técnico da Liga Nacional, era o técnico da equipe à época (e também da seleção feminina Sub-21).

Poderiam ser criados times que jogassem as duas ligas (NBB e LBF) atuando na mesma cidade e sendo treinados por técnicos com experiência em garimpar e desenvolver jovens. Seria bom para os clubes, que veriam os atletas formados tendo as chances que normalmente não têm em suas fileiras, para os atletas, que teriam o tão sonhado tempo de quadra e principalmente para o basquete brasileiro, que veria um número maior de jogadores "aptos" a desempenhar bom papel tanto no mercado de trabalho interno quanto nas seleções brasileiras.

Não é, eu sei bem, uma questão fácil e sei que demandaria não só investimentos (CBB, asfixiada financeiramente mas a maior interessada no final das contas, bancaria isso?), mas principalmente uma grande quebra de paradigma nos clubes, que acabariam formando os atletas e veriam suas principais peças ficar longe por duas temporadas.

Mesmo que não joguem, os times do NBB/LBF preferem, e isso também é bem estranho, manter estes atletas apenas treinando no adulto a, por exemplo, emprestar estes jovens jogadores a outros times na mesma temporada. Imaginar que eles ficariam muito tranqüilos ao ceder seus atletas por dois anos para um time só de moleques é loucura, obviamente.

O modelo que propus acima talvez não seja o melhor, mas o que Henrique Coelho falou passa pela cabeça de TODOS os jovens do país, de boa parte da imprensa que cobre a modalidade também e acabou motivando este texto. Não duvido que alguns técnicos e dirigentes também pensem no assunto.

Acho, por isso tudo que expus acima, que cabe uma grande discussão a respeito do tema. Como fazer os atletas de 17 a 23 anos terem tempo de jogo nas quadras do país hoje povoadas por veteranos? Vale o debate, concordam comigo? Comentem!

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