David Blatt fala de seus primeiros passos no Cavs e como é treinar LeBron
Fábio Balassiano
15/10/2014 06h15
DAVID BLATT: Antes de falar sobre a NBA, quero dizer que estou muito feliz de estar no Brasil, um país adorável. Sobre o nosso time, estamos nos preparando há mais ou menos duas semanas. É a metade do caminho até a temporada e estamos indo muito bem. Os caras estão trabalhando muito duro, e isso é ótimo. Sobre a NBA, só posso dizer que é um ótimo lugar para estar, um lugar maravilhoso para trabalhar.
BNC: Chegou a ver ou ler algum preconceito contra a sua chegada ao Cleveland, já que você nunca havia treinado na NBA?
BLATT: Olha, eu não gosto de ler muito o que sai sobre mim na imprensa, mas sobre isso aí que você fala eu vi sim. Na minha carreira inteira eu fui a lugares e clubes que nunca tinha ido. É algo que já estou acostumado a lidar, sinceramente falando. Sempre ouvi isso no começo, nunca dei a menor bola. Fiz questão de ler para servir como motivação pessoal para mim.
BLATT: Olha, é importante dizer que o fato de meu nome ter sido considerado para Cleveland não foi apenas porque eu ganhei a última Euroliga com o Maccabi Tel-Aviv, mas sim pelo meu trabalho de décadas na Europa e nas mais diferentes situações. Tive sorte de ter sucesso na maioria destas situações e acabei me credenciando para o cargo. O processo foi muito sério e profissional, e fico feliz de meu nome ter se encaixado nas perspectivas que eles tinham para o cargo.
BNC: Fazer essa migração da Europa para a NBA foi mais ou menos difícil do que você imaginava?
BLATT: Para mim basquete é basquete. Isso não muda muito, seja na Europa ou na NBA. A adaptação mais difícil mesmo é a geográfica (risos).
BLATT: (Risos) A melhor palavra que eu posso te responder sobre isso é: maravilhado. Fiquei extremamente feliz e também um sortudo por conseguir dirigir provavelmente o melhor jogador do planeta.
BNC: Quando LeBron perdeu as finais da temporada passada contra o Miami ele disse que o San Antonio Spurs jogava um basquete "europeu", com muita inteligência, troca de passes, essas coisas. É este tipo de mentalidade que você está tentando trazer para Cleveland?
BLATT: Olha, sim, mas não exatamente pela razão dita por você (a derrota do Heat para o Spurs). Temos muitos jogadores inteligentes no elenco, e acho que por isso podemos jogar de forma parecida com a que eu vinha jogando na Europa nos últimos anos.
BLATT: Olha, basicamente eu consigo te dizer que na Europa o jogador não só depende como também procura mais o sistema. O atleta se sente mais confortável e seguro atuando dentro de uma estratégia pré-definida, sem muito espaço para improviso e consequentemente com menos chance de errar. A cultura do americano já é diferente. O erro é aceito, o improviso é valorizado e o potencial físico é assustador. Por isso as individualidades se sobressaem mais. Como eu faço para prender um jogador como LeBron James? Não posso fazer isso, seria pouco inteligente de minha parte. Na NBA o jogador sabe que precisa do sistema, mas caso ele (o sistema) não esteja ajudando ele consegue resolver com seu talento e seu físico em algumas ocasiões. Houve um caso disso que estou falando. Em um dos treinos LeBron cortou seu marcador, passou por outro e deu uma enterrada. Aquilo para mim foi meio chocante, porque era uma situação difícil e ele fez com uma naturalidade impressionante. Perguntei o porquê de ele ter driblado, queria entender sua atitude. A resposta dele foi: "Eu faço isso desde sempre, Coach". Todos riram. Foi engraçado. É a maneira como o basquete lhe foi ensinado e se ele é o melhor jogador do mundo jogando assim eu não serei maluco de mexer no seu jogo absurdamente. Tentarei ajudar a todos os jogadores do Cleveland com os métodos, mas conhecimento do jogo eles já têm.
BLATT: Não exatamente o Princeton Offense como um todo, mas elementos dele. Tento me concentrar apenas no que precisamos fazer para termos tanto um ataque quanto uma defesa seguros.
BNC: Na última semana Shawn Marion disse que uma das coisas que você tem passado a eles é da necessidade de se pensar um pouco mais antes de tomar as decisões…
BLATT: Sim, é por aí mesmo. Tenho tentado trazer um pouco das minhas ideias, do meu próprio sistema, mas minha grande vantagem é que tenho a sorte de poder dirigir grandes jogadores, que poderão desempenhar os mais variados papéis.
BLATT: Para ser bom técnico de basquete? Sim, o básico. Estudar ao máximo. E todo o possível. Para ensinar bem, é preciso conhecer a matéria. Depois disso, digo que é fundamental desenvolver a sua própria filosofia, seu próprio estilo. Ficar copiando os outros não é legal. Ser um bom líder é essencial também. E por fim, não esquecer o lado humano ao comandar pessoas com personalidades e formações tão diferentes.
BNC: Você está treinando com o Cleveland no Flamengo, que venceu o Maccabi Tel-Aviv, time que você treinava até a temporada passada, no Mundial de Clubes recentemente. Você viu o jogo?
BLATT: Sim, eu vi os dois jogos. Principalmente no segundo jogo o Flamengo jogou muito bem, fez uma partida maravilhosa. O Maccabi, por sua vez, não é o mesmo time da temporada passada, com muitas mudanças e ainda esperando um ou dois jogadores entrarem no elenco. No final das contas, o Flamengo mereceu vencer, jogou muitíssimo bem. É preciso dar o crédito ao clube por isso.
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