Com filosofias distintas na modalidade, Brasil e França jogam no Mundial
Fábio Balassiano
01/10/2014 00h30
É um duelo decisivo, eliminatório, muito importante para a modalidade e para as meninas, mas que coloca em perspectiva as duas filosofias que os dois países usam no basquete feminino desde o começo do século.
Esta não é uma história nova, e eu já contei aqui algumas vezes, mas vale repetir. No dia 26 de julho de 2003, as francesas bateram as brasileiras por 65-47 na primeira fase do Mundial Feminino Sub-21. Mas o Brasil iria bem na competição, chegando ao vice-campeonato do torneio, perdendo para os Estados Unidos por 71-55 na decisão. A prata, portanto, ficou com a seleção do técnico Paulo Bassul e que contava com a pivô Érika como sua principal estrela. Com o bronze ficou a França.
A Confederação francesa melhorou a liga local (foram 14 clubes para a temporada 2013/2014), manteve a espinha dorsal da geração-1983 ( Godin, Gomis, Dumerc, Ndongue e Lepron até hoje jogam no time nacional) e investiu nas comissões técnicas, que passam meses fazendo clínicas nos Estados Unidos. Deu certo, e elas estão aí até hoje brilhando.
Atualmente, e com o perdão da expressão, as atletas do país são muito mais vítimas do que culpadas pelo que acontece nas quadras. Se para a modalidade como um todo não há nenhum plano de desenvolvimento, não há nenhum plano de massificação, para as meninas então a situação é ainda mais catastrófica, ainda mais vexatória.
A França é um país de 65 milhões de habitantes (um terço do Brasil, praticamente), e dá algumas grandes lições ao se colocar entre os grandes do basquete. Atualmente não é exagero dizer que, depois dos Estados Unidos, temos Espanha e França devido aos últimos resultados internacionais – a seleção masculina foi bronze no Mundial recente. Foi competente e séria ao plantar, persistente pra esperar a colheita e inteligente ao desenvolver gerações que pareciam fadadas ao fracasso.
Mais do que um duelo válido pelas oitavas-de-final, brasileiras e francesas colocam frente a frente as duas filosofias, dois caminhos de basquete que têm sido implantados nos dois países neste século. De um lado a CBB, que tem literalmente levado a modalidade à bancarrota. Do outro a FFBB, que conseguiu reconstruir e dar uma cada ao basquete das (e dos) azuis.
Vale a vitória a partir das 13h. Vale uma grande reflexão além do horário do jogo sobre o que temos feito de certo e de errado por aqui há anos.
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