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Com a NBA, a chance de o NBB mudar de patamar no esporte brasileiro

Fábio Balassiano

25/09/2014 01h10

Ontem divulguei aqui no blog em primeira mão que a NBA está muito próxima de se tornar a principal parceira do NBB pelos próximos três anos. Não tive muito tempo de dar a minha opinião devido à apuração e porque queria, primeiro, informar um fato importantíssimo para os rumos da modalidade, mas agora chegou a hora da análise completa. Vamos lá.

Antes dos pontos importantes relacionados a NBA e NBB, um dado importante. De acordo com estudo do IBOPE Repucom, 37% da população brasileira se diz fã de basquete. Realizado no primeiro semestre deste ano com internautas que afirmam ser "interessados" e "muito interessados" pelo esporte, a pesquisa também indica que 21% dos fãs de basquete disseram ter comprado algum produto oficial relacionado a esse esporte no último ano e 60% deles são propensos a gostar mais de marcas que estão envolvidas com patrocínio esportivo. Ou seja: há, sim, uma demanda reprimida fortíssima pela modalidade no Brasil. O brasileiro quer gostar de basquete, quer acompanhar basquete. Atualmente ele só não tem exatamente a melhor oferta ao seu alcance.

É justamente nisso que pensa a NBA, obviamente. Há mercado, há muita "grana deixada na mesa", há muitas formas de explorar um país de 200 milhões de habitantes e que já teve o basquete na veia (ou tenta a voltar a ter). Não é à toa que o Brasil é o quinto país com maior número de assinantes no League Pass (serviço de transmissão de jogos da NBA). Não é coincidência que a liga tenha um escritório no Rio de Janeiro. Tampouco é casual que o Flamengo esteja pronto para jogar três amistosos nos Estados Unidos em outubro. Mas não é só nisso.

A principal liga de basquete do planeta sabe que para vender melhor o seu produto (a NBA) no Brasil ela precisa, sobretudo, que a modalidade seja forte, cavalarmente forte e conhecida no país. Para isso, os norte-americanos foram procurar justamente o torneio nacional que foi recolocado nos trilhos pelos dirigentes da Liga Nacional há quase uma década. Depauperado pela gestão Grego, o campeonato ganhou nova roupagem, clubes que acreditaram no projeto, uma Liga de Desenvolvimento que tem aos poucos revelado um número razoável de atletas (a mesma LDB que ajudou Bruno Caboclo a ser escolhido pelo Toronto Raptors no Draft deste ano, diga-se) e principalmente muita credibilidade com uma gestão mais arejada, mais moderna. O terreno que a NBA está pisando é mais confiável, menos pantanoso, do que aquele que seria pavimentado 10, 15 anos atrás.

Ter o NBB forte é meio caminhado andado, portanto, para que o brasileiro passe a acompanhar, e a consumir, basquete no país. Com esse caminho trilhado, vender o produto NBA na esteira do NBB (e vice-versa) acaba sendo algo muito mais palatável. Do jeito que as coisas andam hoje, e devido às distâncias que há entre um mundo e outro, os dois campeonatos (NBB e NBA) parecem muito descolados de uma mesma realidade. Colocá-los sob o mesmo guarda-chuva pode parecer um custo muito alto para os norte-americanos. Mas não é bem assim. Lá eles certamente devem estar salivando com a oportunidade que se abre com um investimento não tão alto e com um mercado de 200 milhões de habitantes para explorar.

Pelo lado da Liga Nacional, não sei se poderia haver melhor notícia. Se por um lado houve um ganho absurdo de gestão, credibilidade e transparência com a criação da LNB 2008, por outro o produto NBB não tem conseguido, nos últimos anos, dar o passo adiante (principalmente devido a uma pouco salutar dependência que havia em relação à Rede Globo). O passo que transformaria o bom produto em um produto conhecido, com muito mais exposição, rentável e recheado de investidores. Como sempre gosto de lembrar, o NBB não tem patrocinador forte há duas temporadas. E isso, com a provável chegada da NBA para auxiliar na gestão e no aporte financeiro, parece claro que irá acontecer. Isso sem falar no intercâmbio que se abre em todas as frentes possíveis (logística, marketing, comunicação, mídias sociais, técnica etc.).

Não me parece ser coincidência, a propósito, que a tabela do próximo NBB tenha sido modificada em relação às edições anteriores, ficando muito parecida com a da NBA (com jogos em quase todos os dias da semana). Tampouco me parece uma obra do acaso que dois jogos transmitidos pela Web por semana (quarta e quinta-feira) já tenham sido anunciados (a associação com o League Pass é muito óbvia e salutar, diga-se). Transformar as partidas em espetáculo, passar a vender mais produtos dos times, cobrar cada vez mais profissionalismo das equipes, aumentar a exposição das marcas e trabalhar melhor no aspecto social são coisas que as franquias da NBA fazem muito bem e cuja consultoria da liga poderá ajudar a transformar as linhas (minguadas) de receitas dos times do NBB.

Caso realmente aconteça (e pelo que apurei apenas uma catástrofe impediria que o acordo de fato seja selado), o ciclo virtuoso do produto NBB com a chegada da NBA estará garantido para os próximos anos. As lições que David Stern, ex-comissário geral da liga, deixou em seus 30 anos de gestão ainda estão muito vivas. Cabe aos dirigentes do Brasil absorvê-las, adaptá-las ao mercado local e colher os frutos.

Não sei se este blogueiro viu uma notícia melhor que a de ontem nos últimos anos no basquete nacional, devo confessar. O túnel escuro que a Liga Nacional cavou lá atrás, aquele túnel cheio de buracos e percalços, encontra, agora, uma linda luz no final. Nada mais justo para quem trabalhou de forma tão séria e transparente quanto estes dirigentes que pegaram (insisto) um campeonato nacional quebrado, à beira do abismo.

Com a NBA como principal parceira, o NBB tem tudo para mudar o seu patamar.

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