Rio-2016, a Olimpíada que o Brasil já perdeu
Fábio Balassiano
05/08/2014 00h02
A publicação falava dos cronogramas, dos prazos para conclusão das instalações (ginásios/arenas) e das obras de mobilidade urbana já atrasadas, mas sequer tocava em um ponto fundamental – a herança esportiva que os Jogos de 2016 deixarão, ou não, para o Brasil.
Três dias depois, o foco mudou. Voltou a se falar de futebol (que surpresa!). Com o perdão da palavra, mas as discussões que eu vi, com raríssimas exceções, beiram a mediocridade tão rasteiras/tacanhas (intelectualmente) que são. Discute-se o periférico, mas não a essência do problema (que é sistêmico, e não pontual ou exclusivo da seleção). Discute-se o boné usado em apoio ao Neymar, discute-se a forma de falar do Dunga, discute-se o bigode do Gilmar Rinaldi. Com todo respeito, este não é o motivo central pelo qual o futebol brasileiro está na lama há, brincando, uma década. E todos que pisam em um estádio sabem. É o Mito da Caverna, de Platão, nos dias de hoje. Não se falar o que deve ser falado TODOS os dias só ajuda a turma da CBF a permanecer com as mesmas ideias. Se não há incômodo (no sentido de incomodar quem está no poder) não há evolução. Meio óbvio isso, não?
Já são, desde a confirmação do Rio de Janeiro como cidade-sede, cinco anos para arrumar ginásios e obras de infraestrutura, mas há algo maior que sequer está sendo mencionado: como o país está se preparando esportivamente para receber o evento olímpico? Ou melhor: o Brasil se preparou para receber a Olimpíada de 2016 devidamente? Porque agora, com todo respeito, já era, já passou. Hoje, exatamente hoje, restam apenas dois (anos) para que os Jogos comecem (menos de 750 dias portanto).
Vale a pena cobrar dos atletas, que treinam muito mesmo em condições precárias, ou de quem não lhes dá o necessário subsídio para que eles duelem em condição de igualdade contra americanos, australianos ou chineses ?
Sem querer ser ainda mais chato, sem querer colocar água no chope desde já, mas não se formam equipes olímpicas em dois anos. Não se formam equipes olímpicas se duvidar nem em dez anos. Não se forma uma nação esportivamente olímpica (e não só futeboleira) em menos de duas décadas de trabalho esportivo sério, responsável e minucioso (algo que definitivamente não é feito aqui desde sempre – ou seja, a culpa não é exclusiva dos que agora estão no poder).
O Brasil (como um todo) perdeu a chance de modificar a relação de poder que há nas Confederações (quase todas elas corroídas com gestões tenebrosas – e quem acompanha este espaço sabe da de Basquete, a CBB…). Perdeu a chance de colocar o atleta como figura central e respeitada na sociedade esportiva. O Brasil, mais do que isso, perdeu a chance de mudar a sua (inexistente) política esportiva como um todo, conciliando (e massificando) esporte e educação como os países mais desenvolvidos do mundo sabem fazer há séculos (Austrália e Estados Unidos, por exemplo). Colocar o esporte na escola, com as Olimpíadas no horizonte, deveria ter virado a ordem do dia, deveria ter virado o objetivo número um (objetivo anterior à conquista de medalhas, por exemplo).
O Governo investiu milhões e milhões nas Confederações (nunca jorrou tanta grana no esporte, isso é inegável), os resultados podem até vir (e torcerei por eles, diga-se), mas não há nada idealizado para a base da pirâmide, para meninas e meninos deste país que começam a praticar esporte com 10, 11 anos. Erro bobo, mas esperado de quem só pensa no tiro curto, na medalha, em vencer rápido e não em COMO se preparar para vencer por muito tempo (sustentabilidade). E todos têm culpa nisso (Governo, Confederações, Atletas, sociedade mesmo).
A chance de se transformar em um país que faz esporte de alto nível já foi pro ralo. E isso não tem mais volta.
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