Adaptação, o grande mérito de Popovich e Buford, arquitetos do Spurs
Fábio Balassiano
17/06/2014 08h00
Em 1999, o San Antonio Spurs teve uma média de 84,9 pontos na final contra o Knicks jogando um basquete que todo mundo criticava. Era travado, chato de ver, pouco criativo. Naquela temporada, média de 92,8 pontos, 22 assistências por jogo, coeficiente de 0,63 assistência por arremesso convertido e 102 posses de bola por noite. Em 2014, toda a fluidez ofensiva gerou 105,6 pontos de média na final contra o Miami. Na temporada, 105,4 pontos por jogo, 25,2 assistências, 0,70 passe por chute certo e incríveis 114 posses por partida. A velocidade, claramente, é outra. A forma de Gregg Popovich fazer o time jogar, também.
É óbvio que o técnico conduz seu time de acordo com o que o elenco lhe propicia. Isso é uma verdade. A outra é que o San Antonio Spurs, através da dupla RC Buford (gerente-geral) e Gregg Popovich (técnico), entendeu as mudanças que o basquete estava trazendo neste começo de século e conseguiu (tem conseguido, na verdade) se adaptar a ela de maneira rápida e perfeita. Talvez a palavra que melhor sirva para a dupla (da foto) seja esta mesmo – adaptação.
O "hit the open man", ou "encontre seu companheiro livre", foi mote altruísta do Knicks bicampeão de Red Holzman na década de 70 e foi reeditado brilhantemente pelo Spurs. A tática texana, abastecida com corta-luzes e mais corta-luzes, basicamente é esta mesmo: encontrar o companheiro para o arremesso mais livre possível. E quanto menos vigiado, mais chances de acertar, né. As perguntas, agora mais cristalinas do que nunca, são óbvias: se você está marcado, por que pensa em arremessar? Se há um companheiro seu em posição melhor de arremesso, por que não passar a bola a ele? As respostas são tão óbvias, elementares e simples quanto a essência do basquete (coletivo, lembram?).
Mas Buford e Pop confiaram, trabalharam e hoje o mundo olha para o Indiana imaginando como seria ter Leonard e Paul George nas alas do time. Leonard, aos 22 anos, é uma das estrelas do Spurs e todo mundo gostaria de tê-lo no elenco. Embora, obviamente, ninguém garanta que Leonard seria o Leonard MVP de hoje se não tivesse passado pelas mãos de Popovich, o melhor professor da NBA na atualidade (algo que Larry Brown já o foi em outros tempos).
Há outras coisas importantes de se citar. A primeira é o fato de o time ter apenas a 11ª maior folha salarial da NBA (e dentro do limite estabelecido pela liga). O Spurs não faz loucura com o dinheiro. Paga muito aos três craques do time (Duncan, Parker e Manu), os mantêm com contratos de longa duração e cerca os caras com uma série de contratos curtos e apostas que podem vir a ser muito acertadas (caso de Leonard). Quer contrato longo para ganhar muito dinheiro? San Antonio não é um bom local para isso se você não se chamar Ginóbili, Tony ou Tim. George Hill e Gary Neal querem muita grana? Podem ir embora. Surgem Mills, Green, Belinelli e Joseph rápido – e ninguém nota. DeJuan Blair vai procurar outras bandas? O que fazer? Boris Diaw e Jeff Ayres estão dando sopa por aí. Do time que foi campeão em 2007, última conquista do Spurs antes desta de 2014, só estava lá Matt Bonner além da santíssima trindade (Parker, Manu e Duncan).
A segunda é a absurda internacionalização do elenco. Em um basquete cada vez mais dinâmico e com a obrigação de que os atletas saibam ler o jogo como se fosse algo habitual, simples (e isso não é básico, sabemos), ter jogadores no elenco com vivência internacional ajuda muito (principalmente pela mudança nas regras recentes).
Se falta potencial físico (e falta mesmo), sobra inteligência para passar, arremessar e abrir espaços, as essências do jogo do Spurs. O time campeão de 2014 tem dois franceses (Diaw e Parker), um italiano (Belinelli), um brasileiro (Splitter), um canadense (Joseph), dois australianos (Baynes e Mills) e um argentino (Manu). É tanto gringo que é capaz de eu ter esquecido algum.
Sobre o blog
Por aqui você verá a análise crítica sobre tudo o que acontece no basquete mundial (NBB, NBA, seleções, Euroliga e feminino), entrevistas, vídeos, bate-papo e muito mais.