20 anos do Mundial de 1994: Assessor, Sergio Barros relembra conquista
Fábio Balassiano
06/06/2014 13h00
Por Sergio Barros (Assessor de Imprensa do time campeão mundial em 1994)
Não me lembro da primeira vez que vi Paula e Hortência, mas entendi, de cara, que eram diferentes e especiais. Elas me fizeram começar a acompanhar o basquete feminino em tempos de poucas transmissões na TV. O que passava eu via. Várias vezes as assisti jogando uma barbaridade e perdendo.
Também vi grandes vitórias e comemorei muito o título do Pan em 1991 e a classificação para as Olimpíadas de 1992. Em 1994, quando fui escalado para cobrir o Mundial, fiquei muito feliz. Mas não imaginava que ainda ficaria muito mais.
Fui mostrando o samba aos poucos para os que já estavam mais próximos. Miguel, Sergio, Hermes. Eles gostaram e eu tomei coragem pra cantar pra toda a delegação. Se não me engano, tínhamos chegado a Melbourne, onde aconteceu a adaptação ao fuso australiano. À noite, depois das preleções do Waldir Pagan e da comissão técnica, a Paula pediu a palavra e disse que não queria voltar para casa com a sensação de que poderiam ter feito mais. Logo em seguida eu cantei o samba e as meninas o adotaram.
Lembro de cada jogo: a estréia nervosa mas sem sustos contra Taipei, a atuação muito ruim contra as eslovacas, o sofrimento para ganhar da Polônia enquanto a gigante Dydek esteve em quadra. Na segunda fase, show da Janeth no passeio sobre Cuba, uma derrota esperada pra China e o jogo dramático contra a Espanha. Nesse, dois momentos me marcaram muito: Espanha melhor, Blanca Ares comendo a bola (36 pontos no total) e a Paula chuta do meio da rua no estouro do cronômetro no fim do primeiro tempo. A bola caiu e eu gritei tanto que ficou tudo preto. Quase apaguei. O jogo seguiu dificílimo e só vencemos no fim. Durante a coletiva, fiz uma pergunta ao técnico espanhol. Nesse momento, a porta que dava acesso ao corredor dos vestiários foi aberta e eu ouvi as meninas cantando o samba. Comecei a sorrir e ele, que já estava irritado, parou de responder.
Todos me fizeram sentir como membro da delegação. Eu fiz o que pude para ajudar e, principalmente, para não atrapalhar. Me sinto um pouco campeão do mundo também e vou ser eternamente grato por isso.
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Abaixo a letra do samba composto por Sergio Barros numa alusão ao da Mangueira de 1994 (aqui e aqui você pode ouvir para entender o ritmo:
Miguel da Luz e Sergio Maroneze
Vão cortando um dobrado,
Pra que o Brito não se enfeze
Raimundo Nonato
Levando essas feras para o campeonato
Marisia, Hermes,"Doutora Marli",
Zé da Banheira e o grande professor Waldir (OBA)
Helen, Roseli (foto à direita abaixo), Leila (à esquerda no final)
Ruth, Simone (à esquerda ao lado), Adriana (foto à direita) e Dalila (Bis)
Lá vem Tuiú!
Os nossos coqueiros vão brilhar
Vai Janeth, disparando, pronta pra marcar
A rainha mais audaz, é sensação
Show de graça e precisão
Hortência explode coração !
Encanto e magia, chegou !
Faz a finta, arremessa, ponto!
Cada assistência um brilho de esplendor,
Seu nome é Paula (Aplausos)
Aplausos, ao time inteiro,
Tem canguru
Virando brasileiro
(Me leva) Me leva que eu vou, seleção
Tô indo pra Austrália quero voltar campeão (Bis)
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