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Na severa punição a Sterling, o grande exemplo da NBA

Fábio Balassiano

30/04/2014 00h39

A esta altura dos acontecimentos você, leitor atento que é, já deve saber que a NBA puniu com rigor Donald Sterling. Se não sabe, clique aqui e aqui para ler mais a respeito. Mas em resumo: pelos insultos racistas ditos em um áudio que vazou, Sterling foi multado em US$ 2,5 milhões (pena financeira máxima) e BANIDO para sempre de TODAS de jogos, treinos e qualquer atividade que envolva a principal liga de basquete do planeta.

Isso não é tudo. Nos próximos dias a NBA convocará uma reunião extraordinária com os outros 29 donos de franquia. Lá, será votado se os demais proprietários desejam que Donald Sterling venda a franquia Clippers ou se aceitam continuar sentando ao lado dele para negociar o futuro do melhor produto de basquete do planeta. Ou seja: caso 23 ou mais donos de times (serão necessários 3/4 de votos ou mais) não queiram o racista Sterling por perto, é só apertar o botão para limá-lo de vez. Tendo em vista a repercussão e as reações de atletas, técnicos e ex-atletas, acho BEM improvável que algum magnata pense em votar pela manutenção de Sterling.

Mas, bem, há algumas coisas interessantes para se falar. Em primeiro lugar, é fundamental dar parabéns à NBA, em especial ao comissário Adam Silver (ele está em todas as fotos do texto). Silver, que assumiu há menos de seis meses, teve uma batata quente em suas mãos e precisava agir rápido e com veemência para não só punir Sterling, mas principalmente para mostrar uma carta de apresentação a atletas, técnicos, dirigentes, ex-atletas e torcedores condizente com a sua nova função.

E assim foi feito. A notícia do áudio de Sterling surgiu no sábado, Silver falou com a imprensa no domingo, analisou tudo nesta segunda-feira e ontem (terça-feira) anunciou a punição com o rigor necessário. De quebra, disse que os US$ 2,5 milhões da multa aplicada a Sterling serão destinados a Organizações que têm por objetivo combater o preconceito racial. Foram duas cestas do meio da quadra em um arremesso só.

Silver puniu quem merecia ser punido, foi firme em seu pronunciamento (aqui o vídeo completo), afirmou estar envergonhado com o que Sterling disse, extremamente ágil para evitar rumores e impaciência geral (dos atletas principalmente), e ríspido o suficiente para mostrar o nojo dele e da NBA para com a situação. Ganhou a admiração dos fãs do jogo, o respeito dos atletas, o carinho de Magic Johnson (insultado nominalmente por Sterling) não só pela punição em si, mas pela transparência e a forma como conduziu o caso (algo raro em um meio esportivo quase sempre letárgico para tratar de assuntos espinhosos), e já pode ser considerado um grande e respeitado líder do esporte mundial (principalmente no momento em que o futebol, o mais popular dos esportes, tem que lidar, embora não saiba muito bem como fazer, com atos racistas dia sim, o outro também).

A NBA, que poderia sair muito bem com sua imagem arranhada de uma situação tenebrosa como esta, sai por cima, aumenta ainda mais a sua credibilidade e mostra que agilidade, rigor e transparência são fundamentais em qualquer gestão de crise (seja em que ambiente corporativo for). A verdade é uma só neste tipo de situação: não é questão de estar com um problema imenso nas mãos, mas sim na forma como você lida, na forma como você faz questão de tratá-lo.

E a NBA fez questão de tratar o problema do racismo de Donald Sterling de frente, olhando todos de frente. Era um caso grave, um caso extremo, um caso vergonhoso não só para a liga, mas para o esporte mundial. Alguns poderiam querer jogar para debaixo do tapete. Silver preferiu olhar diante das câmeras duas vezes no período de três dias sem o menor medo, sem a menor cerimônia. A primeira para anunciar que haveria uma rigorosa investigação. A segunda para anunciar a punição. Sem erro, sem medo, sem temer nada pois todo mundo sentia que havia seriedade, comprometimento em resolver tudo rápido.

Adam Silver, o grande líder da melhor liga de basquete do planeta, começa muito bem a sua gestão e merece os parabéns pela postura firme e direta com que lidou com o caso. Em menos de uma semana ele conseguiu tirar a liga do buraco em que ela poderia ter se metido, alçou-a a outro patamar com uma punição exemplar, trouxe TODOS para seu lado (atletas, técnicos, torcedores e ex-jogadores) e enfileirou uma série de aulas e lições sobre como lidar e se comunicar em momentos de crise extrema.

É cedo, ele ainda não tem um ano no cargo, mas Adam Silver está apenas começando a sua trajetória e já deixou um legado pra lá de respeitável. Só nos resta aplaudir.

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