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'Professor', Sergio Hernandez fala da primeira temporada com o Brasília

Fábio Balassiano

01/04/2014 00h26

Aos 51 anos, o argentino Sergio Hernandez é uma das principais atrações deste NBB. Em sua primeira temporada com Brasília, o Ovelha, como é conhecido, teve dificuldade no começo, mas guiou a equipe ao título sul-americano e emplacou vaga nos playoffs na terceira posição com a campanha de 21-11. Conversei com ele no Rio de Janeiro, nas finais da Liga das Américas, sobre a performance da turma da capital, as diferenças do basquete brasileiro para o argentino e o vício de seu time em atirar de três pontos. Confira o papo completo.

BALA NA CESTA: Como você avalia a sua primeira temporada com Brasília até aqui?
SERGIO HERNANDEZ: Olha, estou gostando, estou gostando muito. Há algumas situações muito similares com as que eu passava na Argentina anos atrás. Eu vejo o basquete brasileiro, através do NBB, crescendo muito e seguramente eu posso dizer: a Liga Nacional daqui começou muito melhor que a da Argentina de anos atrás. A liga argentina tem mais de 30 anos. A brasileira, seis. E hoje as duas se equivalem, se equiparam. Tem o lado econômico pelo qual os dois países passam, sem dúvida, mas fala muito sobre o bom trabalho que os dirigentes da Liga Nacional de Basquete têm feito por aqui e do bom trabalho dos clubes também. Aqui jogam 17 anos na divisão de elite e já temos uma segunda divisão, que é uma ideia ótima e que em breve precisará crescer, ter uma quantidade de times maior. O momento é sem dúvida favorável para estar no Brasil. O basquete brasileiro tem um potencial incrível, e se tiver paciência para seguir evoluindo, dando um passo de cada vez, será uma potência da modalidade em pouquíssimo tempo. Quanto a isso não tenho dúvida e nenhum problema em afirmar.

BNC: Você falou muito sobre a Liga, mas e o Brasília, como está o tricampeão do NBB? Vocês fecharam a fase de classificação jogando um pouco melhor, mas o começo foi duro…
HERNANDEZ: Nós tivemos um começo ruim, de fato, mas ganhamos 18 dos 22 últimos jogos, fomos campeões sul-americanos e teremos boas chances nos playoffs. Era um início diferente para todos, né. Para os atletas, com uma nova filosofia de trabalho por parte do treinador, e para mim, que teria um grupo novo para dirigir. Todos sabíamos que passaríamos por essa fase de adaptação. Como vocês dizem por aqui, "faz parte". O que acontece é que o nosso time tem uma pressão imensa de ser campeão, tal qual o Flamengo também tem. E o Flamengo está fazendo uma temporada espetacular, incrível, o que só aumenta a nossa pressão.

BNC: Mas já é o time que você gostaria de ver em quadra? Já é o time com a cara do Ovelha?
HERNANDEZ: Ah, sim, sim. Tem vezes que mais, tem vezes que menos, mas é o meu time. Sim…

BNC: Mas seu time não está chutando demais dos três pontos, Sergio? São 30,6 tentativas por jogo, maior índice do NBB6, e apenas 33,9 de dois pontos. Isso não é uma característica muito mais do basquete brasileiro do que sua?
HERNANDEZ: Sabia que você me perguntaria isso. Vim preparado (risos). Mas, vamos lá, o que você quer dizer com isso? Vamos ver…

BNC: Olha, no jogo contra São José, o seu pivô Goree arremessou 10 vezes de três, e apenas uma de dois pontos. Este é um exemplo. Mas que de longe demonstra um vício, me entende?
HERNANDEZ: Te entendo perfeitamente. E sei que você acompanha o basquete daqui com afinco, com muita vontade, com desejo que melhore. Mas o Goree é um quatro arremessador, e não um pivô de ofício. Além do mais, e este é um problema grande, como vocês não assistem aos jogos, porque não são transmitidos, a análise fica quase sempre para as estatísticas, o que não é bom. Não é culpa de vocês, mas há explicação. Neste jogo, São José tinha Caio Torres no garrafão. Quando Goree saía, Caio não conseguia marcá-lo. Sabe de quem veio a ordem para Goree sair do garrafão para arremessar? De mim. Foi uma opção tática, para criar problemas, para colocar Alex no jogo interior, gerando problemas para a defesa deles. Os tiros de Goree foram bons, mas nem todos entraram. A ideia era essa mesmo, dar problemas para Caio e abrir espaços para Alex jogar no garrafão com maior espaço e tranquilidade. Neste jogo perdemos porque não defendemos, simples.

BNC: Sim, neste jogo, sim. Mas no geral não me parece que isso seja uma característica de times seus…
HERNANDEZ: Um pouco mais, pode ser, pode ser. Mas não é nada que me martirize, que me machuque, não.

BNC: É mais difícil treinar jogadores brasileiros que argentinos devido a uma questão cultural de jogo coletivo e defensivo que há mais por lá e menos por aqui?
HERNANDEZ: Não vejo assim. São culturas diferentes, isso é um fato. Mas eu gosto. Pode ser que os brasileiros tenham uma cultura diferente, pode ser que tenham um pouco menos de sensação de jogo coletivo, mas há uma vontade imensa de querer aprender, de querer corrigir, de querer jogar melhor coletivamente. Isso é lindo. Eu gosto de ganhar, eu já ganhei muitas coisas, mas eu gosto mesmo é de ensinar.

BNC: Você gosta mais de ensinar do que de ganhar, é isso?
HERNANDEZ: Certamente. Sim, certamente que sim. É algo que me encanta. É algo que é lindo você mostrar ao jogador como fazer, e ele (o atleta) entender aquilo que você quer. É como pegar um bebê e criá-lo, desenvolvê-lo. É a minha grande paixão na profissão, com toda certeza. Mais que ganhar.

BNC: Já dá pra saber qual será o seu futuro? Voltar a Argentina? Europa? Ficar em Brasília?
HERNANDEZ: Ah, meu desejo é ir a praia todos os dias (risos). Falando sério agora. Ainda não decidimos nada. Precisa saber se Brasília quer ficar comigo também, né. Quando terminar o NBB faremos avaliações e aí decidiremos. Gostaria muito de permanecer, sem dúvida que sim. O Brasil hoje tem uma liga forte, de primeiro nível em âmbito mundial.

BNC: A comparação é inevitável, mas a liga brasileira já está em um patamar melhor que a argentina?
HERNANDEZ: Similar, similar. Há vantagens de um lado, há vantagens para o outro. Argentina tem mais times jogando, mais divisões, por aí vai. Eu gostaria de ver o basquete voltasse a ser o segundo esporte por aqui, no Brasil. Se eu puder ajudar, ficarei lisonjeado com isso.

BNC: Última pergunta. O que aconteceu no Jogo das Estrelas? Os dirigentes da Liga Nacional ficaram chateados que você não compareceu ao evento. E uma foto sua circulou na web. Você estava na Argentina…
HERNANDEZ: Sim, estava lá mesmo. Vou explicar detalhadamente o que aconteceu. Foi um problema de comunicação. Simples. Eu nunca soube que seria o assistente-técnico do Gustavo de Conti no time dos estrangeiros. Nunca recebi um e-mail ou uma ligação. Então me preparei para ir a Argentina pois tinha problemas pessoais para resolver. Dois dias antes, meu assistente falou: "No site da NBB fala que você será o assistente do Gustavo". E aí fiquei assustado, mas olhei a foto da capa e aparecia o Neto de um lado e o Gustavinho do outro. Bem, um problema de comunicação. Isso passa. Deveriam ter me ligado, me mandado um e-mail. Sou novo por aqui, não sei exatamente como funcionam as coisas. É uma coisa de consideração, respeito. Mas nenhuma mágoa. Gostaria muito de ter participado, mas aconteceu. Irei no próximo.

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