Dono do time, 'espiritual' Joakim Noah lidera Chicago Bulls
Fábio Balassiano
10/03/2014 13h32
Foi aí que fiquei pensando na importância de Noah para o Chicago e rabisquei algumas filosóficas linhas a respeito. Poderia, até, citar seus maravilhosos números na temporada (12 pontos, 11,3 rebotes, 4,8 assistências – TODAS melhores marcas de sua carreira de sete anos na liga), mas seria muito pouco (tipo, o cara tem 20 jogos com 6 ou mais assistências no campeonato – os outros pivôs, somados, têm 18). E explico.
Todo mundo sabe que este núcleo do Chicago, comandado pelo BRILHANTE Tom Thibodeau, foi pensado e moldado para ser o time de Derrick Rose. O armador, talentoso ao extremo, foi preparado para devolver os dias de glória aos Bulls, com um título que já não vem há 15, 16 anos. Pois muito bem. O elenco de apoio estava lá, a comissão técnica também, mas por inúmeras razões (inclusive as lesões de Rose) o anel de campeão não veio (ainda).
Sem Rose e Deng, o camisa 13 assumiu o comando do Chicago. Não o comando técnico, de pontuação, mas sim o de liderança. Não é, insisto, uma liderança técnica, de habilidade, mas sim de luta, quase que espiritual (de alma mesmo). O que Noah conseguiu incutir na cabeça dos jogadores que a diretoria do Chicago não trocou foi: "Nós vamos correr, nós vamos brigar, nós vamos nos matar em quadra. Se não temos todas as peças que queremos, temos mais peças do que a maioria". E aí, na raça, ele lidera por exemplo, lidera mostrando como se faz mesmo.
Quem vê um jogo do Chicago consegue detectar as dificuldades para pontuar (93 pontos e 46% nos arremessos/jogo, piores marcas da NBA), mas o time colocou na cabeça que, defendendo muito, tem chance de minimamente incomodar os rivais do Leste (e também de toda liga). O jogo fica feio? Dane-se. O jogo está longe de ser plástico? Dane-se. É isso que Noah conseguiu colocar na cabeça dos caras do Bulls. É pra correr, é pra se matar em quadra. E ninguém que ganha do Miami sem Deng e Rose pode dizer que não tem dado resultado, que a visão de mundo de Noah está errada (porque não está mesmo!). A atuação do Chicago de um modo geral, e de Noah em especial, neste domingo foi maravilhosa, histórica (chegaram a ficar 14 atrás e, sem surpresa, NÃO desistiram).
E não foi histórica pelo triunfo em si, mas por tudo o que cerca a rivalidade construída nos últimos anos pelos dois times, pelos perfis dos dois líderes (o "midiático" LeBron e o "explosivo-porém-recatado" Joakim Noah) e pela maneira como a turma de Illinois tem atuado. O mundo não é feito só dos gênios técnicos, dos extra-classe em termos de habilidade. A grandeza, ou beleza, do mundo (do basquete principalmente) está, também, em quem consegue fazer mais com menos. Em quem, contra todos os prognósticos, consegue jogar até contra o que o próprio chefe (no caso a diretoria do Chicago) queria. Para os dirigentes do Chicago era cômodo, até esperado, perder. E perder com força. Para Noah, e Thibodeau, o técnico, não. Foram dois dias de luto pela saída de Deng e nada mais. Bola pra frente. Os caras estavam prontos para lutar, guerrear, defender como nunca e se matar como sempre.
Não sei se eu, como torcedor do Chicago (algo que não sou, que fique claro), poderia pedir alguma coisa a mais para um jogador do meu time. Joakim Noah está longe de, tecnicamente falando, ser um virtuoso, um gênio como foi Michael Jordan ou Scottie Pippen (para citar dois ex-Bulls). Mas ele faz tudo o que o cara que está sentado na arquibancada faria se estivesse na quadra – corre, pula como um doido, defende como um tarado e joga com sangue espumando na boca. Dá pra ver as suas veias saltando a cada rebote, dá pra ouvir um rugido a cada bloqueio, dá pra sentir o tesão que o cara tem atuando. Tesão, talvez seja esta a palavra. Em uma liga cada vez mais perfeitinha, moldada a padrões pré-estabelecidos da sociedade, vem um cara com com a camisa 13 do Chicago e mostra um tesão absurdo, uma vontade descomunal de tentar ganhar do impossível, de tentar superar TODAS as barreiras impostas. O que mais, amigos, você quereria de um atleta de seu time? Nada, né! Por isso dá gosto ver o Chicago Bulls de Joakim Noah (sim, este é o time de Joakim Noah) atuando.
Pouco importa. Com Noah, o Bulls é um time que dá gosto de ver justamente pela entrega, pela alma em quadra. Isso pode render frutos lá na frente, quando as peças que agora estão faltando (Rose e um ala que virá para o lugar vazio de Luol Deng) aparecerem. Aí sim. Com talento e alma de sobra o Chicago terá boas chances. Por enquanto é lindo admirar a alma do camisa 13 e seus liderados em quadra.
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