Ex-armador do Sonics, Gary Payton quer levar NBA de volta a Seattle
Fábio Balassiano
24/02/2014 12h30
* O blogueiro viajou a convite do Canal Space
BNC: Você é visto como um dos maiores ídolos de Seattle não só pelo que fez em quadra com os Sonics na década de 90, mas principalmente pelo que tem tentado fazer agora para levar a NBA de volta para a cidade. Como tem sido isso?
PAYTON: Olha, depois que parei de jogar eu confesso a você que recebi inúmeras propostas para ser assistente-técnico ou técnico de armadores, algo parecido com o que o Sam Cassell tem feito com o John Wall no Washington Wizards. Mas isso eu não quero, não. Meu negócio, agora, é tentar fazer com que Seattle receba de novo jogos da NBA, tenha um time na NBA. A cidade ama basquete, eu sei porque eu joguei lá quase 15 anos. Desculpe, mas é insano um lugar como aquele não ter os melhores jogadores de basquete do planeta. O povo ama basquete. Você já esteve lá?
PAYTON: Entendo. Nada contra algumas cidades que têm times na NBA atualmente, mas a energia de Seattle em um jogo de basquete não é muito fácil de se encontrar por aí, posso lhe garantir. Hoje estou no grupo que faz de tudo para tentar fazer os Sonics voltarem a existir. Quase aconteceu nessa temporada (quando o Kings por pouco não saiu de Sacramento), mas irá acontecer em pouco tempo. Tenho certeza disso.
BNC: Foi por essa razão que você não aceitou ter seu número retirado pelo Oklahoma City Thunder?
PAYTON: Sim e não. Não tem relação com o que estou tentando fazer pela cidade de Seattle, e muito menos uma falta de respeito com a franquia Thunder. Eles estão lá e trabalhando muitíssimo bem. Respeito muito o que eles conseguiram fazer com o time, com a comunidade e com os jogadores que atuam pelo OKC. Mas eu acho que não faz sentido algum eu ter minha camisa 20 aposentada em uma cidade, em um ginásio, para uma torcida que nunca me acompanhou, que jamais me aplaudiu, entende? Quando você coloca uma camisa no teto do ginásio o objetivo é muito simples: que os torcedores olhem para cima, vejam um número/camisa e pensem assim "caramba, esse cara jogou muito AQUI". E eu fui um jogador bacana em Seattle, não em outro lugar.
PAYTON: De verdade não. Kevin não saiu de Seattle porque quis, mas sim porque houve uma decisão de negócios. É algo que não passa pelo atleta, pelos jogadores. É óbvio que bate um sentimento nos torcedores de que Durant, Westbrook e todo o ótimo elenco do Thunder poderia estar lá jogando no Seattle, sendo um Sonic, mas isso não é bacana de se pensar. Tivemos um ótimo time na minha época, chegamos às finais uma vez, a cidade já fez festa para um time campeão anos atrás (em 1979, com Dennis Johnson como MVP) e sabe que quando tiver novamente por quem torcer os sentimentos irão voltar. Não há frustração quando se vê Kevin Durant ter trocado de cidade simplesmente porque ele não teve escolha.
BNC: Falando especificamente de quando você jogou, algumas coisas me chamavam a atenção. Posso perguntar de tudo?
PAYTON: Claro.
PAYTON: (Risos) Eu? Mas eu falava tão pouco em quadra… (Risos) Mas, bem, era algo que eu precisava para me motivar, para elevar o meu jogo para outro nível. Não era fácil jogar naquela época. Era Stockton em uma noite, Jordan na outra, Magic na seguinte, Drexler na esquina. Manter-se forte mentalmente era importante. E eu precisava daquele combustível. Mas não era nada que outros não fizessem, não, hein…
BNC: A outra é que a sua dupla com Shawn Kemp é até hoje uma das mais conhecidas de todos os tempos. Como era a química com ele?
PAYTON: Olha, somos duas pessoas completamente diferentes, de formações diferentes e de filosofias de vida diferentes. Não temos muito contato hoje, para você ter uma noção. Mas quando jogávamos éramos como irmãos, nos entendíamos perfeitamente em quadra. Eu era mais pensador, e ele, mais explosivo. Defendíamos muito bem, conseguíamos correr bem a quadra e sempre que eu precisava fazer um passe ele estava preparado. Era bom jogar com ele…
PAYTON: Ah, cara, aquela final de 1996 foi muito especial, muito legal para todos nós. Era a primeira vez que Seattle via um time na final em quase 20 anos, era o retorno de Michael Jordan à decisão da NBA, era um momento bacana para George Karl, nosso técnico também. Na quadra o cara (Jordan) falava muito, era difícil de jogar contra ele. Naquele ano MJ ainda estava revoltado por eu ter sido escolhido o melhor defensor naquele ano. E isso me trouxe problemas, né, porque naquela final o indivíduo pediu para me marcar quase a toda hora. E você deve imaginar que isso está longe de ser uma situação confortável. Hoje, olhando friamente, eu vejo que foi uma honra ter dividido com ele a mesma quadra, embora sempre bata uma tristeza grande quando eu vejo que perdemos o título.
BNC: Título que você também não conseguiu conquistar quando foi jogar no Lakers em 2004. Temporada confusa aquela, não?
PAYTON: Olha, foi bastante confusa, sim. Mas eu sempre gosto de lembrar para quem conversa comigo o seguinte. Vamos ver tudo o que tivemos naquele ano: Kobe Bryant sendo acusado de um estupro e tendo a sua vida devassada pela imprensa e torcedores, Shaquille O'Neal com seus problemas e deixando dirigentes e técnicos à beira de um ataque de nervos, Karl Malone e eu machucados com gravidade e por muito tempo e (o técnico) Phil Jackson com alguns problemas de saúde. Sabe no que deu isso? Este time ainda conseguiu ir a uma final de NBA. Não considero um fracasso por tudo o que nós passamos. O objetivo era o título, mas pelo que vivemos lá naquele ano até que saímos no lucro.
PAYTON: Foi a coroação de todo o meu esforço, de tudo o que passei em minha carreira. É óbvio que minhas funções eram menores, eram mais modestas, mas eu ainda me sentia útil, eu ainda tinha com o que contribuir ali. Seja ensinando aos jovens Jason Williams ou Dwyane Wade, seja com arremessos ou passes em alguns jogos decisivos em playoff. É um período da minha vida que certamente está bem guardado comigo.
BNC: E qual é o melhor sentimento que fica quando você vem a uma festa como esta, aqui em Nova Orleans?
PAYTON: Ah, o melhor são as amizades que fica, a camaradagem, o respeito que temos um pelos outros. Fomos rivais, competidores até o último nível, grandes rivais, a maioria que está aqui nessa sala (ele aponta para Mourning, Malone, Hakeem Olajuwon) ficou mais de uma década em seu respeito time, mas sempre tivemos um grande respeito pelo trabalho do outro. Isso é o que mais sentimos falta quando retornamos, como agora, a um All-Star. Era, e ainda é, bacana sentar e conversar com essa galera
PAYTON: Imbatível não é, claro, mas pouca gente reconhece neste time do Miami o trabalho de um grande cara, que é o Pat Riley. O que ele conseguiu montar, os jogadores que ele conseguiu contratar, tudo o que ele fez para cercar o Big 3 (LeBron James, Wade e Chris Bosh) de talento foi inacreditável. Basquete não se ganha com três, com quatro. Na NBA você precisa ter elenco, você precisa ter um grupo forte. O Miami tem o trio, que é o melhor da liga atual, mas tem Shane Battier, Mario Chalmers, Norris Cole, Chris Andersen, Rashard Lewis, Ray Allen, Greg Oden. Veja que elenco, veja quanta peça a comissão técnica tem para rodar. A grande lição que eles deixam é que não adianta só você ter grandes craques. É preciso ter grandes peças ao redor também para vê-los brilhando – e ganhando o tempo todo. Um jogador não ganha nada sozinho. Nunca ganhou e nunca vai ganhar na NBA.
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