Genial, Olajuwon relembra carreira e crê no título do Houston
Fábio Balassiano
20/02/2014 13h34
BALA NA CESTA: Você saiu da Nigéria para vencer nos Estados Unidos, um país com cultura e regime completamente diferente do que você vivia na África. Qual é a sensação que fica quando você olha pra trás e vê que literalmente venceu na terra do basquete mais competitivo do planeta?
HAKEEM OLAJUWON: Acho que quando D's te dá um dom, você precisa potencializá-lo ao máximo. Nasci na Nigéria, sou orgulhoso disso, mantenho minhas raízes com o país e com a minha religião, mas eu só joguei o melhor que joguei porque vim aos Estados Unidos para treinar com os melhores treinadores e jogar contra os melhores do mundo. Desenvolver esse talento fora de seu país, longe de sua família e afastado de sua zona de conforto, requer coragem, concentração e muito foco. Acho que sempre me mantive firme, disciplinado para atingir meus objetivos, para maximizar minhas habilidades e para ganhar o que acabei conquistando por aqui.
HAKEEM: Tudo na vida muda. No basquete não poderia ser diferente. Hoje os atletas são mais físicos, mais atléticos e muito, mas muito mais treinados em todos os fundamentos. Antes éramos mais focados em fazer bem algumas coisas. Hoje quase todos os atletas sabem fazer tudo. Então é natural que a variação das jogadas seja maior, que o número de jogadas no perímetro, que tende a ser menos povoado, aumente. Não me assusta, mas é óbvio que eu gosto de ver pivôs dominantes, pivôs que conseguem ser o centro das atenções. Quando você tem um pivô e também um ala-pivô de alto nível certamente você tem muito a oferecer não só em termos de pontuação, mas de defesas e pelo que a marcação do outro lado terá que fazer de ajustes para lidar com isso. Intimidação, rebotes, tocos, corta-luzes e algumas vantagens intangíveis do jogo. Rebotes ofensivos, por exemplo, te dão segundas oportunidades para pontuar, algumas vezes de pertinho da cesta, e ainda por cima impedem que o rival vá ao ataque. Como mensurar isso? Os grandes fundamentos do jogo você não muda. Você simplesmente os adapta para a realidade de um determinado momento. Na minha época houve alguns dos melhores alas e pivôs jogando juntos. Então era natural que os times procurassem suas melhores armas – que jogavam perto da cesta. Mourning, Robinson, Malone, Barkley, McHale, Jabbar etc. Todos em uma mesma década, geração fantástica. Quem domina o jogo hoje? LeBron, Kobe, Durant, Wade, Paul George, Harden. Quantos pivôs eu citei? Nenhum. Acho que tem muito mais a ver com os principais nomes que estão comandando as ações do que com qualquer outra coisa. As regras influenciam, sim, mas na atualidade os melhores jogadores estão no perímetro. E precisamos nos acostumar a isso com naturalidade.
HAKEEM: Sim, isso você tem razão. Mas veja duas coisas: 1) Nos últimos playoffs o Indiana, com um time bem inferior, conseguiu levar o Miami a sete jogos devido a força de David West e Roy Hibbert perto da cesta; 2) Spurs e Thunder, que chegaram às finais nos dois últimos anos, possuem jogadores fortíssimos de garrafão. O que significa que ainda há espaço para se vencer na NBA com jogadores fortes, que atuam perto da cesta.
BNC: Qual o melhor pivô da atualidade então? E quais foram os seus maiores rivais?
HAKEEM: Dwight Howard, claro. Ele trabalha comigo e no meu time (risos). Os maiores que enfrentei? Shaquille O'Neal, que era difícil de marcar por causa de sua força, David Robinson, Karl Malone e Alonzo Mourning.
BNC: Sabemos que você foi um dos responsáveis por trazer Dwight Howard para o Houston, e está trabalhando para tornar o pivô um dos melhores da liga. Acha que os Rockets são candidatos ao título já nessa temporada?
HAKEEM: Definitivamente sim, sem dúvida que sim. O time está se acostumando com as mudanças que houve antes da temporada, ficando mais à vontade entre si. E certamente os resultados serão melhores nesta segunda metade do campeonato. E todo time que tem dois grandes pontuadores (James Harden e Chandler Parsons) e um grande pivô (Howard) é um candidato, sim, ao título da NBA.
BNC: Você fez parte de uma geração que influenciou muitos meninos a começar a amar basquete. Você foi, inclusive, o primeiro nome a ser pronunciado por David Stern, que começava como comissário-geral, a ser pronunciado no Draft de 2014…
HAKEEM: Verdade, o primeiro nome foi o meu mesmo. E agora o David Stern está saindo tendo feito tudo o que o basquete norte-americano poderia pedir. Ter feito parte dessa geração que você cita só pode me alegrar, me honrar, porque é algo que eu jamais esperava, que eu jamais poderia imaginar que seria. Hoje quando viajo, principalmente com o Houston, muitas pessoas se aproximam de mim e dizem que começaram a gostar de basquete por minha causa. Não sou muito de me emocionar, mas fico feliz com isso.
HAKEEM: Olha, essa é uma pergunta difícil. É claro que quando ganhamos o primeiro troféu de campeão, em 1994, foi uma explosão de felicidade que achei que jamais sentiria novamente na vida. Você pensa em tudo o que já passou, em todas as frustrações, quando aquele troféu chega às suas mãos. Mas posso te garantir que nada se compara a defender um título, como fizemos em 1995. Todo mundo na NBA quer te vencer, você é o alvo de todos. E ter sido bicampeão (de forma seguida) com o Houston em 1995 foi fenomenal, lindo, realmente maravilhoso. Aquela temporada toda, com os playoffs mais intensos que joguei em minha vida, jamais me saem da memória. Batemos o Utah, de Malone e Stockton, no quinto jogo fora de casa. Logo depois o Phoenix, do Barkley, no sétimo jogo no Arizona. Na final do Oeste, o Spurs de David Robinson e Dennis Rodman em um jogo 6 inesquecível (Hakeem fez 39 pontos neste). A final contra o Orlando, que fizemos 4-0, foi maravilhosa também e coroamos um campeonato que não iniciamos muito bem com muita categoria e defendendo o nosso título do ano anterior.
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