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O legado de David Stern na NBA

Fábio Balassiano

03/02/2014 13h20

Chegou ao fim a Era David Stern na NBA. Comissário-Geral da liga desde fevereiro de 1984, o nova-iorquino deixa o comando da liga com uma única sensação: de ter revolucionado a liga (o texto do meu xará Sormani fala mais ou menos isso também). Os números, aliás, falam por si (é só ver no quadro abaixo).

Nem que eu fosse o cara mais crítico do mundo eu conseguiria dizer o contrário, né.

Stern, da linhagem dos estudiosos ao cubo, nasceu em Nova Iorque há 71 anos, formou-se em direito e teve algumas decisões polêmicas (a Wikipedia lista várias) desde que assumiu a NBA. Recordo-me bem de duas: quando obrigou os jogadores a se vestir com terno e gravata baseado em uma pesquisa de mercado que mostrava que o consumidor da liga era o americano de classe média e meia idade e a outra quando tomou partido dos donos de franquias e foi negociar diretamente com os jogadores no locaute de 2011 – em uma das "animadas" conversas Dwyane Wade chegou a colocar o dedo em sua cara, vejam só) mas seu saldo é absurdamente positivo (e não só nos números acima).

Stern conseguiu perceber rapidinho em que buraco a liga se encontrava quando assumiu e tratou o enfermo com tratamento de choque – na época, pouca gente lembra, mas os atletas que praticavam basquete nos Estados Unidos eram frequentemente vistos como usuários de drogas, criadores de confusão e péssimos elementos, o que era, para sua tristeza, a mais absoluta verdade. Para vocês terem uma ideia, em 1977 Rudy Tomjanovich, depois técnico bicampeão com o Houston Rockets e então armador da equipe texana, levou UM SOCO NA CARA durante uma partida contra o Lakers (a surra foi tão forte que Rudy ficou cinco meses fora das quadras e jamais se recuperou completamente). O vídeo é forte e você pode ver clicando aqui caso queira.

Assim, a primeiríssima coisa que fez quando chegou à NBA foi encomendar uma pesquisa para entender como melhorar a imagem de sua mão-de-obra e para que público eles (os atletas) estavam se comunicando, dialogando (pessoas inteligentes não tomam decisões de forma empírica, mas sim baseado em alguma coisa). A segunda coisa foi punir fortemente brigas entre jogadores e atletas com problemas com drogas. A terceira foi dar "um banho de loja" no produto, embalalá-lo melhor, tratá-lo como se fosse (e acabou sendo) não um evento esportivo, mas uma baita forma de entretenimento para (bingo!) toda a família americana.

Depois de dois meses analisando o material, Stern sentou com sua equipe diretiva e traçou um plano de trabalho para transformar a NBA em um produto com alguma credibilidade, com mais grana e um mínimo de respeito dos fãs. A regra para as franquias era bem clara: sigam o manual (Jerry Buss, o agora finado dono do Lakers, conta que os times ficavam assustados com o volume de regras – algumas até de etiqueta e comportamento – que o baixinho que sentava na Quinta Avenida mandava semanalmente para todos os times da liga).

Mas os resultados logo foram sentidos, logo foram vistos. Stern investiu terrivelmente em marketing e comunicação, fez os jogadores serem mais conhecidos e reconhecidos, gerou uma série de novas linhas de receita e aumentou, assim, os vencimentos de sua força de trabalho. Tratou a NBA como um produto de ponta, de elite, o melhor produto de basquete do planeta e colheu muita grana, muita grana mesmo. O cara de Manhattan sabia que tinha em mãos os melhores artistas (Magic Johnson, Larry Bird e Kareem Abdul-Jabbar há alguns anos e Michael Jordan chegando), mas precisava mostrar ao mundo que os talentosos rapazes eram, também, ótimas pessoas (o que para a sociedade americana é bem importante, hoje sabemos bem).

Os jogadores passaram, portanto, a serem vistos não só como atletas, mas principalmente como modelos, como porta-vozes da liga. Todos eles receberam um voto e passaram a dar mais credibilidade ao campeonato e a classe de atletas também. Stern resolveu dois problemas de uma só vez: melhorou a imagem dos caras, e os caras melhoraram a imagem da NBA.

O interessante disso tudo é o seguinte e bem claro de se notar. Magic Johnson e Michael Jordan seriam grandíssimos jogadores de basquete com ou sem Stern no comando da NBA, isso é um fato. O mesmo aconteceria com LeBron James e Kobe Bryant. Mas todos os atletas que passaram pela NBA desde 1984 tornaram-se não só mais bem pagos, mas sobretudo mais reconhecidos como os melhores jogadores de um dos esportes mais apaixonantes e praticados do planeta (e aí foi outra das sacadas geniais de Stern – internacionalizar a marca NBA ao redor do mundo para… ganhar grana ao redor do mundo). O responsável por isso tem nome e sobrenome: David Stern.

Stern sai de cena e passa o bastão para Adam Silver (ambos na foto à esquerda) como o melhor presidente que as ligas americanas já tiveram (disso a imprensa americana mesmo não tem a menor dúvida). Estudioso, meticuloso, o nerd de Nova Iorque conseguiu transformar um produto falido em um dos mais conhecidos e valorizados do planeta, merecendo, portanto, ser valorizado como tal.

Michael Jordan é o melhor jogador de basquete do planeta. Mas sem David Stern, que começou a fazer com que as transmissões de TV dos jogos da liga começassem a ser exibidos ao redor do mundo, ele não seria tão conhecido, reconhecido e cultuado assim por pessoas como a gente aqui do Brasil (na época que comecei a gostar de basquete a Band exibia os feitos de Jordan ao vivo…). Diminuir ou subestimar a importância do agora antigo comissário-geral não é o mais recomendado. MJ tem 5 MVP's de temporada em sua carreira. Stern deveria ter 30 troféus de MVP em sua estante pelo brilhante trabalho realizado.

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