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Sobre as revelações, recomendo: devagar com o andor

Fábio Balassiano

28/01/2014 01h35

O dia de ontem foi especialmente agitado para quem acompanha o basquete brasileiro devido a um nome: Bruno Caboclo. Revelação do Pinheiros que ainda nem completou 19 anos de idade, o ala deu, no domingo contra o colombiano Bambuqueros pela Liga das Américas, uma demonstração daquilo que poderá ser em um futuro próximo. Bolas de três, infiltrações, enterradas, defesa forte, o pacote completo. Como diriam os mais jovens, o jovem "trendou" nas redes devido ao vídeo que você pode ver abaixo.

Quem esteve na etapa final da Liga de Desenvolvimento (escrevi sobre e entrevistei o rapaz) já tinha visto o tamanho do potencial de Bruno (2,04m, mais de 2,30m de envergadura), mas ontem eu confesso que me assustei um pouco com as reações que li e ouvi. Foi um tal de "esse cara é NBA", "titular da seleção em 2016", "Magnano tem que levá-lo pro Mundial de qualquer maneira" e "a solução da ala brasileira pelos próximos dez anos" que eu fiquei refletindo um pouco a respeito do tema, dos prognósticos, dos pitacos, da ansiedade mesmo (e quem escreve é um cara ansioso – pra vocês verem como eu fiquei bolado…).

Isso acontece também no feminino, onde o universo de meninas praticando a modalidade é bem menor devido a anos de má gestão. Quando surge uma jovem razoavelmente talentosa os quatro que ainda teimam em acompanhar a modalidade (Bert, Nando e Gabi) trocamos mensagens com ávida torcida por uma evolução rápida, consistente e forte por parte da atleta para que o rumo de um barco que está à deriva mude (e mude para melhor, claro).

Além de ser injusto colocar pressões imensas em jovens que sequer têm fundamentos de basquete formados (o que é natural), há (entre tantos) três grandes problemas nisso tudo aí: a) A maioria das pessoas que acaba falando sobre os rapazes viu muito poucos jogos das figuras em questão, deixando a "análise" muito superficial, emotiva e no calor do momento (ao contrário da NCAA, que tem jogos correndo nas TV's e vídeos brotando na internet com velocidade imensa, partidas das divisões de base no Brasil são de dificílimo acesso). Pergunte-se assim: quantas partidas COMPLETAS você viu de Bruno Caboclo, Ramona, Joice etc.? Poucas, certamente poucas. Do Caboclo eu vi, inteiras, oito pelejas, não mais do que isso, motivo pelo qual não me considero apto a fazer uma análise absurdamente profunda sobre ele; b) Há uma carência (de ídolos, de bons resultados internacionais, de querer ver o basquete de novo por cima das carnes secas) muito grande nisso tudo também. Projetar os 10 próximos anos de um esporte por causa de uma cesta, ou de duas ou três atuações esfuziantes destas revelações, não me parece um bom caminho. |Mudando de esporte mas fazendo um paralelo pertinente: Quantos craques de ocasião, daqueles que fazem três gols em um domingo, surgiram e não deram em nada? Pois é. c) Em tempos de redes sociais cada vez mais fortes (e com usuários atuantes), elogios e críticas superlativos (beeeeem exagerados) são cada vez mais frequentes – e nem um (elogio) ou outro (crítica) deve ser levado tão a ferro e fogo assim. Como diria o Tite, o melhor ainda é ter equilíbrio e paciência antes de emitir qualquer veredicto.

Bruno Caboclo, assim como outras dezenas de meninos que estão por aí no Brasil, é muito talentoso e tem um potencial absurdo. Seu futuro pode ser brilhante (apostaria que sim, até). Mas também pode não o ser por uma série de questões (física, mental, técnica, o diabo). Fazer suposições sobre como serão os próximos 10 anos de meninos que não completaram nem duas décadas de vida é muito delicado, cruel, pouco inteligente e é algo que tenho tentado correr cada vez mais de fazer justamente para não criar expectativas exacerbadas em cima de (insisto) jogadores que ainda nem formados estão em suas categorias de base.

Sei que a maioria faz com boas intenções, com vontade que surjam novos ídolos (Oscar, Paula, Marcel, Amaury, Hortência, Janeth, Wlamir etc.) para que os tempos de vacas magras de medalhas e conquistas termine logo, mas o melhor ainda é ter calma, esperar mais um pouco, segurar a emoção, aguardar não por atuações fora da curva, mas sim por uma série de exibições ótimas que colocariam, aí sim, essa molecada em um outro patamar.

Por enquanto, Caboclos, Sangallis, Humbertos, Joices, Lucas e Ramonas são apenas ótimos meninos em busca de espaço, em busca de um lugar ao sol, em busca de seus 20 minutos por jogo, algo que eles ainda NÃO têm em NBB ou LBF (eles ainda sequer titulares de seus times são, e é bom refletir sobre isso também). A tentação em chamá-los de "craques", "(W)NBA" ou adjetivos carinhosos é grande, legítima, mas se eu pudesse eu recomendaria: devagar com o andor.

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