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Conheça Bruno Caboclo, revelação do Pinheiros

Fábio Balassiano

09/01/2014 01h16

Ouvi falar de Bruno Caboclo pela primeira vez no começo de 2013. "O cara é alto, os braços dele batem no joelho, físico perfeito para jogador de basquete. Um espanto". Era o que me diziam. O tempo passou, a Liga de Desenvolvimento veio, os números dele começaram a pipocar (terminou a competição com a média de 14,8 pontos, 6,8 rebotes, 2,4 tocos e 16,6 de eficiência) e eu ficava ansioso para vê-lo. A minha primeira impressão, porém, não foi das melhores. No dia 31 de agosto, em uma das fases preliminares da LDB, Bruno foi sacado da partida por seu técnico no começo do terceiro período, não voltou mais e seu time, o Pinheiros, perdeu de forma surpreendente para o Espírito Santo. O tempo passou mais um pouco, o D da Liga fez o seu papel de desenvolver a molecada e encontrei Caboclo na fase final disputada na semana derradeira de 2013.

Não fui à rodada inicial, mas no segundo dia, diante de Bauru, eu vi uma das atuações mais espetaculares de um jovem em muito tempo de basquete. Foram 19 pontos, 9 rebotes, 4 tocos, 2 assistências e uma jogada de tirar o fôlego no começo do segundo tempo. Na defesa Caboclo deu um toco sensacional numa tentativa de enterrada de um atleta de Bauru, saiu correndo em desabalada carreira para o ataque e completou o passe de Georginho com uma enterrada em uma ponte-aérea magnífica. O ginásio inteiro aplaudiu, e no final daquela partida eu conversei com ele ("o lance foi maneiro, né. Dei o toco e fiquei empolgadão. Queria completar do outro lado!"). No final da LDB, ele levou o Pinheiros, time mais jovem da competição, ao bronze e foi certamente um dos jogadores mais bem avaliados do campeonato (o Território LNB, um dos melhores blogs de basquete da atualidade, o definiu como "Absurdo e Assombroso" – e o Bernardo acompanhou o torneio INTEIRO).

Jogar, ele sabe, mas conversar com Caboclo não é das coisas mais fáceis, não. Nascido em Osasco há 18 anos e criado em Barueri e Pirapora do Bom Jesus (interior de SP) como Bruno Correa Fernandes Caboclo, o ala de 2,06m é tímido pra caramba, de fala mansa, baixa, pausada e quase sempre pra dentro. Não é um defeito, mas sim um traço de sua personalidade (traço que o blogueiro, também tímido embora não pareça, se identifica pra caramba). Quando as palavras começam a falhar, o rapaz costuma dar um sorriso (tímido) e olhar pra baixo. Foi assim no papo comigo algumas vezes. Também foi devido a sua introversão que ele "travou", como ele mesmo definiu, duas vezes diante do repórter do Sportv que o entrevistou ao vivo na decisão de terceiro lugar vencida pelo Pinheiros contra Brasília.

Mas nada disso esconde o absurdo talento do jovem de 18 anos, MVP do Basquete sem Fronteiras (foto à direita), realizado pela NBA na Argentina (vídeo aqui), e dono de um estilo que combina bom arremesso de fora com força e explosão física para ser dominante perto da cesta. Vamos ao papo com uma das maiores revelações do basquete brasileiro!

BALA NA CESTA: Você tá com cara de nervoso. Fica calmo, beleza?
BRUNO CABOCLO: Tô tentando (risos).

BNC: Pra quem não te conhece, quem é o Bruno? De onde você vem, como começou a jogar, essas coisas.
CABOCLO: Sou de Osasco, mas cresci em Pirapora do Bom Jesus, interior de São Paulo, e Barueri. Comecei no basquete mesmo nas escolinhas do Barueri. Joguei lá por cinco anos, dos 13 anos 17 anos. Jogo há muito pouco tempo, quatro anos. Aí no começo de 2013 o José Luis Marcondes, das categorias de base do Pinheiros, me chamou para jogar no clube. Mas eu não gostava muito do Pinheiros, não. Era rival nosso, a gente sempre jogava contra (risos). Mas eles conversaram comigo, com minha família, apresentaram o projeto pra mim e também para minha família, decidi aceitar e estou muito feliz. O Zé (Luís) me dá muita força, me ensina bastante, sou muito grato a ele. Hoje moro em um apartamento perto do clube com o Humberto e é bem bacana. Me formei no colégio, mas ainda não estou na faculdade. Minha vida é treino e casa. Eu não gosto muito de sair, não. Fico em casa, jogo um videogame e é isso. No basquete do videogame eu sou ruim, curto mais é jogo de tiro mesmo (Call of Duty, no Xbox).

BNC: E em termos de basquete, é possível ver que seu arremesso melhorou bastante daquela primeira fase aqui no Rio de Janeiro (em agosto) para esta última, em dezembro, melhorou bastante, mas há espaço para evoluções mais profundas ainda. Em que aspectos você precisa melhorar?
CABOCLO: Em todos, né.  Preciso melhorar em velocidade, defesa, domínio de bola, arremesso, muita coisa. Meu sonho é ir pra NBA, é chegar o mais longe possível. NBA é meu sonho desde pequeno, desde que comecei a jogar. Eu sonho, sonho mesmo. Preciso treinar muito pra chegar lá porque estou um pouco atrasado, né.

BNC: Atrasado em quê? Você só tem 18 anos…
CABOCLO: Ah, eu ainda não estou pronto ainda, cara. Nos Estados Unidos os garotos são preparados desde muito cedo pra chegar na NBA. E se eu quiser chegar lá preciso evoluir demais ainda em todos os aspectos do meu jogo. Falta muito.

BNC: E sua família, como fica no meio disso tudo? Você mora longe dos seus pais, é muito novo…
CABOCLO: Minha mãe, Regina, e meu pai, Walter, moram em Pirapora mesmo.  Sou de família humilde, e graças ao basquete já consigo dar uma ajudinha pra eles. Tenho duas irmãs mais velhas. Sou o caçula. As duas jogam vôlei (uma, a Valquiria, em Jundiaí e a outra, Angelica, em Araraquara, disputando, inclusive, a Superliga Feminina) e sempre me incentivaram no esporte. Elas começaram primeiro e me falavam muito para eu fazer algum esporte. Sempre moraram fora, em república, e foi assim que comecei. Conversamos muito sobre o que passamos pois as realidades são parecidas. Apesar da distância somos muito unidos.

BNC: E nos treinamentos…
CABOCLO: Poxa, eu preciso ir. Me desculpe (e Bruno abaixa a cabeça, dá um sorriso, um suspiro e segue em direção ao ônibus).

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