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Sobre o nível técnico do basquete interno e o NBB

Fábio Balassiano

13/12/2013 09h18

A rodada de ontem do NBB teve seis jogos. O site da Liga Nacional fez (e faz) reportes muito bons das partidas, mas as atenções acabaram se concentrando mesmo em Brasília x Pinheiros, vencida pelos brasilienses por 84-82 (arbitragem muito ruim e com algumas marcações absolutamente contestáveis no fim) e com transmissão da televisão.

Depois da peleja houve (como tem havido) um debate acalorado e interessante sobre o nível técnico desta e demais partidas do NBB atual. Pontos interessantes de quem acha que a qualidade é baixa (eu) e de quem pondera que é boa. Vamos a alguns pontos interessantes:

1) Em primeiríssimo lugar: jornalista que é jornalista não deve tomar partido ou "jogar contra ou a favor" de absolutamente nada. Analisa-se, elogia-se quando é bom e critica-se quando é ruim. Com respeito e educação, vale tudo. Tão simples quanto isso.

2) Acho, ainda, que quando se discute um assunto com seriedade é um grande começo para melhorar um tema. Usar terminologias como "não gosta, não assiste" ou "tá ruim? Vai ver NBA" também não ajuda em nada e mascara um problema que, sim, há e precisa ser minimamente debatido para que o esporte como um todo melhore. Amplificar a discussão, em um nível saudável, é sempre um ótimo caminho e demonstra vontade de seguir crescendo. Quem encara uma crítica apenas como uma forma de "acabar com tudo" perde boas oportunidades de tirar lições para evoluir o basquete (e na vida também).

3) Utilizar termos como "lixo" ou "merda" para descrever o trabalho de alguém não ajuda em nada também. Fazendo uma analogia com o que disse Alex, do Coritiba (futebol), ninguém que joga na elite de uma modalidade esportiva do país pode ser "muito ruim". Críticas vazias ou empíricas assim ajudam pouquíssimo.

4) Estou pra escrever isso com mais calma, mas vamos lá: sou um amante de estatísticas (assino dois programas para acompanhar melhor a NBA, por exemplo), mas não é possível balizar as análises pelos números que a Liga Nacional apresenta. Para ficar em apenas dois: bolas de três pontos e desperdícios (principalmente este último) quase nunca condizem com o que se vê em quadra. Não estou dizendo que é pra não usar os números, mas chancelar TODA a análise do NBB com eles é uma grande furada.

5) Outra coisa importante: a pessoa tem que ser muito cega, ou recheada de picuinhas, para não ver evolução no NBB (como campeonato) em relação há 10, 15 anos atrás. Se os avanços não são os que todos desejávamos (e não são mesmo), não detectar a melhora no produto é um absurdo, um disparate. Para ficar em apenas um exemplo: quando que imaginávamos ver uma Liga para jovens com menos de 23 anos (uma das grandes críticas que fazia-se a CBB) com mais de 20 times jogando inúmeras partidas? E nem falei, aqui, da criação da segunda divisão, que saiu do papel e será realizada a partir do começo do próximo ano. Desqualificar o que a Liga Nacional fez em cinco anos por causa de um problema técnico (que é muito mais estrutural do que de qualquer outra ordem, diga-se) é de uma miopia atroz.

6) Há fatores que ajudaram o nível técnico a não piorar muito nos últimos anos (algo que se previa com o sucateamento recente das divisões de base e falta de estudo das comissões técnicas brasileiras). Com o crescimento econômico do país e a crise financeira endêmica nos platenses, jogadores gringos que antes migravam para a Argentina acabam vindo pra cá (David Jackson, Osimani, Shamell, Goree etc.). Se isso não bastasse, alguns hermanos de sucesso também jogam/jogaram por aqui (Figueroa, Kammerichs, Laprovittola etc.). Com essa capacidade de investimento, se tratar melhor o produto a Liga pode envelopá-lo como o grande campeonato das Américas (ao menos em termos de nomes que atuam nele). Não enxergar isso, bem como os recentes títulos Sul-Americano e Continental, não me parece límpido e justo também.

7) Mas, bem, o texto é sobre o nível técnico, né. O que acho é bem claro: a qualidade do espetáculo é bem ruim ainda. Joga-se um basquete sem intensidade, sem troca de passes no ataque, com marcações frouxas pra caramba, quase sem jogadas no setor ofensivo e com um vício absurdo para as bolas de três pontos. Emocionante, quase todo jogo é pois as equipes atuam abaixo de suas capacidades, nivelando a partida (por baixo) em duelos que acabam por se decidir apenas em quem tem melhor aproveitamento nos tiros de fora. Jogos não tão bons podem ser emocionantes também. Utilizar o atributo 'emoção' para descrever a qualidade (razão) de algo não me parece um bom caminho, não.

8) Não irei utilizar números aqui pelos motivos apresentados acima (estatísticas da Liga Nacional normalmente não "narram" o que se vê na quadra), mas algo precisa ser feito, ou repensado, no jogo que se tem visto no Brasil. Ninguém é maluco de pedir para um time não chutar de três pontos e/ou só jogar com os pivôs, não é isso e não se resolve uma situação complexa como esta assim. Como dizem o Tite, ex-técnico do Corinthians, e o Parreira, o fundamental é ter equilíbrio (sendo um pouco mais filosófico, ter equilíbrio é fundamental não só no esporte, como na vida como um todo).

9) Não sou fã número 1 do basquete que se pratica e nem acho que tudo o que se faz na Europa deve ser replicado no Brasil. Há um potencial físico grande por aqui, uma maneira mais criativa de atuar, e isso deve ser respeitado, levado em conta. De todo modo, um pouco mais de leitura de jogo, intensidade para marcar, calma na hora de decidir e utilização de todas as peças de um tabuleiro de xadrez que é um jogo de basquete (se quiser ler como "os cinco que estão jogando na quadra" tudo bem) não fariam mal – pelo contrário, engrandeceriam o nível técnico interno e ajudariam, até, a preparar as seleções brasileiras para embates mais complicados.

10) A solução para melhorar o panorama (sombrio) técnico em que se encontra o basquete nacional é muito óbvia e não há como fugir: treinamento apropriado desde a base e capacitação dos treinadores (os professores). Podem citar 37 outros argumentos, mas sem estes dois sustentáculos mencionados (treino + técnicos) não se anda pra frente em qualquer modalidade esportiva neste planeta.

11) Sei que muito do desenvolvimento dos técnicos passaria pela Confederação Brasileira, mas acho que nenhum ser humano deste país que acompanha basquete pode esperar algo da CBB, atolada em dívidas e com uma falha de gestão que parece eterna. Se quiser melhorar o seu produto rapidamente, de forma sustentável e a longo prazo, a Liga Nacional terá que tomar ainda mais as rédeas da situação, capacitando os treinadores do país e bolando competições que em teoria nem lhe caberiam (LDB e Segunda Divisão, por exemplo). Se o caminho é o crescimento, que a LNB arregace ainda mais as mangas e cave fundo, lá na base da pirâmide, para sanar a questão técnica também. Pode ser muita responsabilidade em cima dos caras? Pode. Mas da entidade máxima é que não vai sair nada, nada mesmo.

Minha conclusão é muito clara: o nível técnico é preocupante, mas desqualificar o trabalho da Liga Nacional em virtude disso é uma atrocidade. O basquete saiu da lama com a criação do NBB. Ainda está com um pé nela (a LNB não tem um patrocinador grande para a competição há dois anos, é bom lembrar), sem dúvida alguma, mas em cinco anos de boa transparência e credibilidade resultados práticos já foram alcançados.

Ufa, texto longo, mas acho que vale o debate. Concorda comigo? Qual a sua opinião? O nível técnico é muito ruim mesmo? Como melhorá-lo?

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