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O saldo do jogo da NBA - sem Rose, vaias a Nenê e aplausos a Oscar

Fábio Balassiano

13/10/2013 01h57

Cheguei agora em casa de um dos dias mais emocionantes da minha vida de jornalista. Pra quem cobre basquete (e vocês devem imaginar como é de alguém que cobre basquete no e do Brasil) a gente sabe que não é toda hora que a NBA vem pra cá. Conversei neste sábado, lá na HSBC Arena, com Sharon Lima, da Comunicação da liga norte-americana, e lembrávamos, nós dois, de 2003 e 2004, quando houve o Latinos Unidos e o Basquete sem Fronteiras, primeiros eventos da NBA no Brasil em 2003 e 2004 (sim, eu já seguia essa galera há uma década).

Mas, bem, voltando, este sábado teve um jogo da NBA por aqui, o primeiro na América do Sul, e o Chicago Bulls venceu o Washington Wizards por 83-81. Como todo jogo de pré-temporada, não dá pra tirar análise alguma (todos são assim), já que os técnicos rodam bastante seus elencos e colocam algumas estratégias para serem testadas (o Chicago treinou uma jogada de corta-luz entre Boozer e Deng que deu certo três vezes e pareceu bem boa mesmo). Vamos a alguns pontos interessantes:

1) Ninguém esperava que Derrick Rose, astro maior do Chicago Bulls, ficasse de fora. Joakim Noah, o pivô, era dúvida a semana toda a até a comissão técnica havia dito que ele poderia não atuar. Mas Rose foi um susto pra todo mundo. Depois do jogo o técnico do Chicago, Tom Thibodeau, disse que foi apenas precaução. Mas foi frustrante demais para quem comprou ingresso principalmente pra ver o cara. Thibs vê o lado do seu time, eu se fosse treinador faria o mesmo, mas foi terrível a reação da torcida quando anunciaram que ele não jogaria. Um casal atrás de onde eu estava sentado começou a discutir: "Eu disse que ele poderia não jogar. Olha quanto dinheiro nós gastamos", disse a moça. E o rapaz, com a camisa 1 do Chicago, a de Rose, disse: "Mas ele treinou bem a semana toda, jogou os 2 da pré-temporada antes deste. Desculpe". Foi triste.

2) Sobre a estrutura do evento, mais uma vez nota 10 pra NBA. Sabem realmente transformar um jogo em um espetáculo, deixando o basquete por alguns momentos em segundo ou terceiro plano (o que não necessariamente é ruim). Iluminação, dançarinas, mascotes (Benny the Bull é sensacional!), gincanas, guia da partida, telão, tudo funciona.

3) O público foi de cerca de 14 mil pessoas, chegando a quase lotar a HSBC Arenas. Muito bacana, mas como havia alertado ontem a questão do caótico trânsito na região atrapalhou os torcedores. Quando a partida começou mais da metade do ginásio estava vazio. No final do primeiro tempo estava a 70, 80% e no começo do terceiro período as arquibancadas estavam lotadas. Arnon de Mello, presidente da NBA no Brasil, disse uma verdade: "Quanto a infra-estrutura de fora do ginásio a NBA não pode cuidar de muita coisa. Da grade pra dentro a gente cuida e resolve". Ele tem razão.

4) O momento de maior saia-justa, como já havia sido pensado pelo pessoal da NBA, foi quando Nenê foi vaiado (bem vaiado mesmo). Seus companheiros olharam para a arquibancada quando seu nome foi anunciado, mas o pior (ao menos pra ele) ainda estava por vir. Oscar Schmidt entrou no ginásio, foi reverenciado pela torcida e depois, no meio da quadra, a ovação se multiplicou. Todos os jogadores dos dois times, com exceção de Nenê, o aplaudiram efusivamente. Em entrevistas, Oscar e Nenê trocaram farpas (embora, pra ser justo, o jogador não tenha citado nominalmente o Mão-Santa em NENHUM momento), mais farpas, e eu, no dia 13 de outubro de 2013, não vou entrar aqui nesta discussão se o pivô do Wizards deveria ou não ter jogado a Copa América. Quanto a isso, me incluam fora dessa.

5) Só tem uma coisinha importante: se o jogo era para Nenê, o que diabos a organização da NBA esperava que acontecesse? Não se chama ex-namorado/a para festa de casamento. Por mais homenagens que mereça (e merece mesmo), Oscar é o maior crítico de Nenê, e colocá-lo em um evento que tinha o pivô do Washington Wizards como anfitrião só traria os aplausos da torcida para o lado de um ídolo (Oscar) e as vaias para quem o ídolo não gosta (Nenê). Meio elementar isso, não?

6) As palavras de Oscar Schmidt foram: "Não quero ver o Nenê perto de mim. O povo entende tudo, não prescia falar nada. O Tiago tem todo direito de pedir um ano de descanso, Anderson a mesma coisa. Anderson já fez merda no ano passado, mas é um menino bom. Leandrinho e Nenê, não. De novo pediram dispensa. Sobre meus aplausos, foi apenas o reconhecimento, não senti nada. Sobre as vaias, é o Brasil que está vaiando. O Nenê falou do 'meu país' em seu discurso antes da partida e mês passado não jogou pela sua seleção. Aí tem um jogo de pré-temporada da NBA e ele vem jogar aqui. Ele não tem direito nenhum de falar em 'meu país'. Não tenho historia com o Nenê, e não critico ele. Eu critico a atitude dele. Não há chance de conversar com eles. Leandrinho e Nenê jogaram a Olimpíada por milagre".

7) Todo mundo sabia que Nenê poderia ser vaiado (Leandrinho, presente ao ginásio, também foi vaiadíssimo…). E aí acho que faltou um pouco de comunicação prévia entre NBA (Nenê) e o público. Não sei exatamente como isso poderia ter sido feito, mas as arestas poderiam ter sido resolvidas, ou aparadas, antes para evitar um barulho tão ruim como o que foi ouvido neste sábado. Ninguém queria ouvir vaias ao jogador brasileiro que há mais tempo e melhor representa o país na liga. E foi justamente o que aconteceu.

8) Na entrevista coletiva eu confesso que fiquei triste por Nenê. Sem querer defendê-lo, porque ele não precisa disso (e, de novo, NÃO estou entrando no mérito das questões de dispensa), mas foi muito chato ver o cara que é brutalmente respeitado na NBA ser vaiado no país dele. Não estou dizendo se ele merecia ou não as vaias (quem sou eu pra decidir isso), mas que foi chato, chatíssimo, foi. Ele não admitir isso nunca, mas ficou claro que ele saiu muito chateado com o que aconteceu. No final de sua entrevista coletiva ele deu um longo abraço em Arnon de Mello, presidente da NBA no Brasil, e saiu. Sua coletiva, aliás, uma das mais ferozes que eu já presenciei.

9) Ponderado, Arnon de Mello disse que estava triste pelas vaias, mas que entendeu a manifestação do público como um pedido para que Nenê jogasse pela seleção pois o país precisa dele. É um ponto de vista pra lá de interessante.

10) Mas cabe reflexão: será que foi a melhor maneira de pedir isso? Será que vaiando Nenê a torcida o aproxima ou o afasta da seleção? Será que Nenê precisa mais da seleção, ou a seleção precisa mais dele? Não vou entrar no tema, já disse, mas acho que falta um trabalho grande aí de comunicação entre as partes (Confederação, que representa a seleção, e atletas), isso está muito claro pra mim. Nenê é um dos melhores pivôs do mundo há uma década. O Brasil, não está no primeiro escalão do basquete há uma década e meia. Podemos mesmo escantear o cara? Só pra pensar.

Viu o jogo? Se impressionou com as vaias a Nenê? E as palavras de Oscar?

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