Sobre Érika, WNBA, basquete feminino e preconceito
Fábio Balassiano
01/10/2013 11h20
Lembro como se fosse hoje de uma bola de Teresa do meio da quadra para ganhar o jogo para o New York Liberty e empatar a decisão contra o Comets (que ano foi aquilo? 1999?). Eram tempos de começo da liga norte-americana, de uma efervescência que acabou não se concretizando nos Estados Unidos (a W ainda rateia em popularidade e saúde financeira, é um fato isso), mas pros brasileiros era fenomenal pois podíamos ver a melhor jogadora em atividade brilhando no melhor campeonato do planeta (tem gente que esquece, mas, em 2001, Janeth teve 18,5 pontos e 4,3 assistências, um desempenho tão absurdo que fez com que ela entrasse no time ideal do campeonato e ganhasse, também, o prêmio de maior evolução de uma temporada para outra). Era uma atração possível, visível, mas nem o produto e nem a atleta foram massificados por aqui, infelizmente. Poucos viram Janeth Arcain arrebentando no Houston, o que foi uma pena porque era um momento especial da carreira de um dos mitos do basquete, mas não dava para culpar muita coisa (o trabalho de comunicação da Confederação já era horrível desde aquela época e, como disse acima, ter acesso àquele mundo não era tão fácil assim).
E alguém sabe disso? E alguém liga pra isso? O trabalho de comunicação da Confederação Brasileira continua horrível (como era há 15 anos), lento, rasteiro, sem criatividade, tatibitate total. A emissora que detém os direitos do campeonato ignora solenemente o que acontece em um produto que é exclusivamente seu (no domingo, ao invés de transmitir a partida com a brasileira, preferiu Lynx x Mercury – e nem vou falar quando a ESPN não passa as partidas) e os meios de comunicação do Brasil, com raríssimas e honrosas exceções, mantêm-se fieis a ignorar o basquete feminino mundial (mas agora, com Érika na final, certamente vão perguntar o que diabos está acontecendo com uma, céus, brasileira na final – "mas que surpresa, hein", dirão).
Ninguém precisa ser o PVC do basquete feminino, o Melchiades do século XXI quando o assunto for a modalidade das meninas. Falo do cheiro de vômito (perdão) que sinto quando leio no Twitter, no Whatsapp ou Facebook pérolas infantilóides e/ou boçais do gênero: "Basquete Feminino não é basquete" (o que é então? Peteca?), "Pra melhorar o basquete feminino tem que diminuir a altura do aro" (como se a beleza do jogo estivesse apenas na enterrada…) ou "Mano, só você liga pra WNBA ou Copa América, deixe elas pra lá".
As coisas não irão mudar, certamente não irão se modificar por aqui (o site da Confederação, por exemplo, não a destaca no carrossel inicial com 4 assuntos…). A partir de amanhã, como disse acima, certamente vão pipocar matérias com Érika de Souza falando em como uma brasileira estará jogando a final da WNBA (como se fosse novidade pra ela – não, não é…). Depois, a ignorância (no sentido de ignorar, desconhecer) continuará por parte de quem assiste, escreve ou comenta basquete (principalmente por parte destes dois últimos setores, que deveriam minimamente conduzir o primeiro, o público).
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