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Após bom Mundial Sub-19, qual o futuro das meninas no basquete brasileiro?

Fábio Balassiano

28/07/2013 01h58

No dia 31 de julho de 2011, Damiris teve uma atuação magistral (26 pontos e 13 rebotes), o Brasil venceu a Austrália por 70-67 e terminou com o terceiro lugar no Mundial Feminino Sub-19 do Chile. A ala-pivô foi escolhida a MVP da competição e o futuro parecia brilhante pra ela e para uma geração absurdamente talentosa. Dois anos se passaram, outro Mundial Sub-19 veio e o resultado, embora não tão bom quanto o do Chile em 2011, foi bem satisfatório (disputa logo mais o quinto lugar com a China, o que não deixa de ser uma posição honrosa).

A questão central, porém, é que há uma semelhança bem básica entre as duas gerações (Ramona – na foto à direita -, Izabella Sangalli e Sassá disputaram as duas competições citadas acima): a falta de aproveitamento dessas meninas que surgem na base em competições adultas. Daquele time de 2011, apenas Damiris teve tempo de quadra e alguma evolução no basquete profissional (já tendo sido escolhida, inclusive, pelo Minnesota Lynx, da WNBA). As outras, muito, muito pouco. Joice e Ramona jogaram a LBF passada por Guarulhos (Ramona já havia disputado a anterior também, pela Mangueira), Tássia operou o joelho mas mal entrava em Americana e as outras nem isso. Triste, não?

E este não é um caso novo, não. Em 2003, o Brasil foi vice-campeão Mundial Sub-21 e no time de Paulo Bassul despontavam meninas muito talentosas e que pareciam que manteriam o alto nível dos resultados das seleções adultas (medalha de prata e bronze nas Olimpíadas de 1996 e 2000). Dez anos se passaram, algumas já pararam de jogar e outras não vingaram (Érika é a exceção que confirma a regra). E vocês sabem quem foi terceiro lugar naquela competição da Croácia? A França. Daquele time de dez anos atrás, cinco estiveram na Olimpíada de Londres e conquistaram a medalha de prata (Godin, Gomis, Dumerc, Ndongue e Lepron). Ou seja, houve sequência de trabalho, persistência e investimento. Explica muita coisa, não?

Uma solução básica, bem básica (e nem falarei no bizarro calendário brasileiro pra não me alongar muito neste texto), seria a Confederação fazer um investimento bacana, montar um time com as revelações do basquete brasileiro (isso já foi feito antes, em 2001, nem é tão novidade assim) e colocá-lo pra jogar a próxima LBF em alguma cidade. Para aumentar o desenvolvimento das meninas, este mesmo time poderia terminar o campeonato e viajar pelos Estados Unidos pra fazer clínicas e terminar uma temporada que começou com treinos específicos de Janeth Arcain (ela poderia ser a técnica deste time Sub-21 na Liga Feminina, visto que não possui time pra treinar), um Mundial Sub-19 e um campeonato adulto no miolo e uma chave de ouro com lições dos melhores da modalidade.

E não seria tão difícil assim montar, não. Com exceção da Isabela Ramona, que assinou com São José e terá espaço no adulto, a maioria das meninas não jogará muitos minutos nem no Paulista e nem na próxima LBF (três das meninas, aliás, jogam em clubes que não atuam em nenhuma das duas competições, uma lástima). Se juntar com as jogadoras da geração passada (a do Mundial do Chile), é possível pinçar 12, 15 atletas de bom valor e que ajudariam a formar mais do que um time, mas também uma massa de novas atletas pra abastecer o mercado interno (algo escasso por aqui).

Como disse na sexta-feira, o ranking de forças do basquete feminino mundial parece bem definido. Estados Unidos, França (vice-campeã olímpica e europeia no adulto e finalista neste Mundial Sub-19), Austrália e Espanha (campeã europeia no adulto) comandam as ações que há menos de dez anos eram dos EUA, Brasil e Rússia (as russas nem pro Mundial 2014 irão). E o que há em comum com os quatro países que atualmente dão as cartas na modalidade? Trabalhos de base fortíssimos, ligas fortes, investimento por parte das Confederações e técnicos absurdamente competentes.

Se a Confederação Brasileira trabalhasse bem só um pouquinho (não peço muita coisa, não), a situação poderia ser diferente. Espanha e França têm talento, mas não são nada de outro mundo (Alba Torrens, alçada como a nova maravilha espanhola, não é melhor que Damiris nem brincando). E mesmo jogado às traças, com divisão de base sucateada e com uma LBF de oito clubes, atrasada e sem returno (trevas máxima, portanto), ainda surgem jogadoras, ainda aparecem revelações do quilate de Damiris, Izabella Sangalli (foto à esquerda), Isabela Ramona, Tássia e Joice Coelho.

Um pouco mais de cuidado com essas meninas, com a Liga de Basquete Feminino e com os treinadores (principalmente os da base) e certamente o Brasil pode entrar naquele seleto grupo que comanda as ações da modalidade no mundo. O problema é um só: a CBB trabalhar como manda o figurino. Enquanto continuar terrivelmente administrada, a situação do esporte continuará péssima. A notícia ainda é pior para as meninas, pois com a criação do NBB o basquete masculino caminha bem melhor. Que pena.

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