Já passou da hora de valorizar Erik Spoelstra, técnico do Miami Heat, invicto há 26 jogos
Fábio Balassiano
25/03/2013 00h35
Spoelstra ficou conhecido por deixar um ataque bem solto na mão de suas estrelas, o que acabou confundindo em alguns momentos a análise. No primeiro ano do Big 3, aquele da derrota contra o Dallas nas finais, eu realmente criticava pra caramba o cara e detestava seu sistema ofensivo. No ano passado já houve uma evolução absurda com a chegada do inteligente Shane Battier e o amadurecimento de LeBron e Wade. Neste ano, o Miami Heat chegou ao auge não só em termos técnicos, mas em entrosamento e entendimento do que se deve fazer em quadra quando jogadores acima da média estão jogando juntos (embora o trio chute 46 dos 76 arremessos do time por noite, 58%).
Na semana passada o Bola Presa resumiu bem o que penso sobre este time do Miami e sobre o trabalho de Spo no comando técnico da franquia (ele está lá há cinco anos – antes, portanto, da formação do Big 3 e levou a equipe aos playoffs com mais de 42 vitórias em todos os anos). Ninguém imagina, mas ele tem um respeito absurdo dentro da organização, carta branca de Pat Riley e é rigoroso quando precisa com atletas. Um técnico brasileiro que viu um treinamento recente do Miami me contou uma história deliciosa e que mostra muito bem como funcionam as coisas por lá. Em um determinado treino, LeBron James chegou com a mão na coluna e disse que não iria treinar devido a dores. Spoelstra olhou, coçou a cabeça e disse: "Muito bem, não tem problema. Pega uma bolsa de água quente e traz uma cadeira para o meio da quadra. Você vai ficar jogando as bolas para seus companheiros começarem as ações ofensivas". LeBron entendeu o recado, sentou lá, ficou jogando as bolas mas em quinze minutos disse que estava bem, tirou o agasalho, e foi para a atividade com seus companheiros. No final, Spo disse aos repórteres: "Não preciso brigar. Vi o que ele queria e fiz justamente o que ele mais detesta – ficar tacando bola para os outros (risos)".
É bem óbvio, também, que Spoelstra poderia ser o maior dos gênios do mundo se LeBron James não estivesse por lá. O melhor jogador da atualidade facilita tudo pro chefe, deixa as coisas mais fáceis para qualquer um. Com ele em quadra a tal (lá vou eu de novo) função de armador meio que fica em segundo plano, pois LeBron consegue desempenhar muito bem algo que Phil Jackson cansou de fazer com Scottie Pippen no Chicago, o tal point-forward (quando Ron Harper, o "armador", não fazia o que se espera de um "armador" – isso tudo, claro, somado ao Sistema do Triângulo). E há a grande vantagem de que, mesmo sendo muito mais forte que 99,9% de seus defensores, LBJ não parte para o um-contra-um em todos os momentos, fazendo o jogo de equipe fluir quando as dobras chegam e passando quando deve ser. Ter um craque altruísta ajuda, claro.
É o que o Erik Spoelstra conseguiu em dois anos de árduo trabalho. Um trabalho que sofreu críticas, mas que foi entendido por seus atletas e que agora chega a seu auge. Não dá pra saber se o Miami será campeão da NBA (acho que será), mas independente disso é bacana demais ver que Spo, aquele cara que metade da crítica especializada chamava de "banana" pra baixo, tinha um plano na cabeça, sabia exatamente o que estava fazendo.
Colocá-lo no grupo dos grandes treinadores da liga já faz muito sentido ao meu ver, não sei se vocês concordam. Dar a Spo o prêmio de melhor técnico da temporada regular (em que pese o brilhante trabalho de George Karl em Denver e de Lionel Hollins no Memphis), também.
Concorda comigo?
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