Assistente-técnico do Flamengo, João Batista relembra lições do lendário Ary Vidal
Fábio Balassiano
05/02/2013 11h40
Por Fernando Hawad
FERNANDO HAWAD: Para você, qual foi a característica mais marcante do trabalho de Ary Vidal?
JOÃO BATISTA: Eu destaco duas características muito marcantes no Ary. A primeira era a capacidade que ele tinha de mudar o jogo em uma substituição. Às vezes passávamos por momentos difíceis e em uma troca ele mudava completamente a cara da partida. A outra característica era o poder muito grande que ele tinha para gerir o grupo, não apenas dentro da quadra, mas fora também. Ele sempre ficava atento às coisas que podiam atrapalhar o grupo e fazia de tudo para contornar essas situações.
FH: Algumas pessoas dizem que ele não gostava muito de dar treinos, isso é verdade?
JB: Ah, realmente é verdade (risos). Ele sempre tinha alguém que o acompanhava nas equipes. Lá em Santa Cruz do Sul essa pessoa era o Waldir Boccardo, que muitas vezes assumia os treinamentos. O Ary ficava de longe, coordenando as atividades, e de vez em quando nos passava alguma instrução. Quando chegava o jogo, aí sim, era o momento dele.
FH: Qual foi o principal legado que o Ary deixou para o basquete brasileiro?
JB: Sem dúvida nenhuma foi a vitória histórica no Pan de Indianápolis. Aquele resultado mostrou ao mundo que o Brasil era capaz de enfrentar e vencer uma equipe tão qualificada como aquela dos Estados Unidos. Também teve o terceiro lugar no Mundial das Filipinas, em 1978, outra conquista que deve ser muito valorizada sempre.
JB: Tem uma história boa, que tem tudo a ver com aquilo que eu disse sobre a habilidade dele para gerir o grupo. Eu joguei com ele quatro anos naquela equipe do Pitt/Corinthians. Em 94, quando nós fomos campeões brasileiros, eu era titular absoluto e jogava quase 40 minutos por partida. Em 95, a mesma coisa. Em 96, foi montado um time muito forte. Chegaram reforços de peso, como o Pipoka, o Josuel e o Marc Brown. Eu sabia que naturalmente perderia alguns minutos de quadra, não jogaria mais tanto tempo como antes, estava ciente disso. Lembro que antes de um jogo no começo daquela temporada, o Ary chegou no vestiário e começou a falar. No fim da preleção, ele de repente se dirigiu a mim e quando eu achava que ia tomar uma bronca daquelas, ele disse para todo mundo ouvir: "O capitão é o João Batista". E eu não estava nem entre os cinco titulares. Ou seja, ele quis mostrar para o grupo inteiro o quanto ele me respeitava e o quanto eu ainda era importante para o time, mesmo não tendo mais o tempo de quadra que eu tinha nos anos anteriores.
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