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Referência, comentarista Álvaro José relembra com saudade começo da NBA em TV aberta

Fábio Balassiano

24/10/2012 00h29

No começo da década de 90, quem via as partidas da NBA na TV Bandeirantes ouvia aquela voz forte e empolgada nos comentários. Era de Álvaro José, que, ao lado do narrador Luciano do Valle, trazia as emoções da melhor liga de basquete do mundo pela primeira vez para o Brasil. Era a época de surgimento de Michael Jordan, Magic Johnson, Shawn Kemp, Karl Malone, Patrick Ewing e de toda efervescência que cercava aquele campeonato que cativava o público daqui e de lá. Por isso o blog decidiu, seguindo a sugestão de um leitor (não vou me lembrar de quem, sinceramente), ouvir aquele que foi uma espécie de "padrinho" de todos aqueles que tiveram a sua iniciação no basquete em TV aberta com aquela magnífica fase da NBA (eu me incluo neste grupo).

BALA NA CESTA: Para quem começou a acompanhar a NBA na década de 90 (o meu caso), sua voz sempre foi a do comentarista naquelas transmissões da Rede Bandeirantes. Passados quase 20 anos, qual é a sensação que fica? Dá saudade?
ALVARO JOSÉ: A sensação é de muita saudade. Sei que aqueles tempos não voltam e também não sou de olhar para trás, mas sei que poucos viram a alguns metros de distância Michael Jordan, Larry Bird, Patrick Ewing e Magic Johnson. De lá para cá muita coisa mudou, mas o talento deles é incontestável.

BNC: Já parou pra pensar que grande parte desta molecada que hoje escreve e consome tudo sobre NBA te tem como grande "padrinho" quando o assunto é a iniciação no basquete norte-americano lá naquela década de 90?
AJ: Será? (Risos) Começamos a transmissão da NBA com o VT da temporada anterior, em 1987, e sentimos a repercussão. O primeiro jogo, defasado há mais de um ano, foi o terceiro das finais de 1986 entre Houston e Boston, confronto vencido pelos Celtics. Nos anos 80 foram muitas as transmissões de Boston e Lakers, isso me lembro bem. Em 1988, fizemos ao vivo do Fórum de Inglewood os dois últimos jogos da série Lakers x Detroit naquele que acabou sendo o adeus de Kareem Abdul-Jabbar. Eram 12 televisões do mundo inteiro. Hoje são mais de 200 canais diferentes. Naqueles tempos vimos o crescimento da NBA. Nos anos 90 a consolidação. Os anos do Chicago Bulls de Michael Jordan e do bicampeonato do Houston de Hakeem Olajuwon. Creio que ali todos que olharam a TV foram contaminados com a magia de Jordan. Tivemos audiências com pico de 16 pontos, médias altas e muita promoção. Isso fez com que surgisse uma legião de fãs da NBA e eu fui apenas um elo, um condutor.

BNC: Como era para um profissional brasileiro trabalhar na e com a NBA no começo daqueles anos 90 em que a globalização da liga não era tão forte e nem as tecnologias eram tão avançadas (sem internet, sem estatísticas tão apuradas e sem TV a cabo)?
AJ: Lá nos EUA e na Europa tinha TV a cabo e os jornais locais forneciam boas informações quando viajávamos. Por aqui vivíamos a caça de revistas americanas e montávamos cadernos com recortes. Eram outros tempos. Veja só, eu estava habituado a marcar pontos e rebotes, mesmo comentando as partidas. A partir de 1991 , passamos a contar com um sistema de estatísticas igual ao atual num monitor na posição de transmissão. Isso foi o divisor de águas.

BNC: Você acha que é possível traçar um paralelo entre a saída da NBA da TV aberta na Bandeirantes e o declínio do basquete brasileiro como um todo? Digo isso porque era através da TV Aberta que muita gente começou a se interessar pela modalidade.
AJ: Justiça seja feita, creio que sim. Luciano do Valle revolucionou o esporte. Primeiro com o vôlei, depois com o basquete. O feminino teve muito apoio da TV aberta e hoje quando você conversa com Paula e Hortência elas reconhecem o que foi feito pelo esporte campeão mundial em 94 e prata olímpica em 96. O masculino teve seu auge no Pan-87 e era para ter ido muito mais longe em 1984 e 1988. A TV Aberta democratizou os outros esportes. Olhando para trás vejo que o basquete perdeu sua chance. Agora é um esporte de TV por assinatura. Uma pena.

BNC: Por mais contraditório que possa parecer, quando o Brasil não tinha representante na NBA havia TV Aberta para exibir as partidas, e agora, quando há quatro, cinco atletas, não há exibição para o grande público. A que se deve isso? E você acha que é um cenário que pode mudar em breve?
AJ: Acho que não vai mudar. Os direitos e obrigações da transmissão da TV Aberta são muitos e além de pagar, tem que engolir um comercial da NBA. É difícil.

BNC: Dos jogadores que você viu em quadra naquela época que comentava, conseguiria fazer o seu quinteto ideal?
AJ: Essa é fácil. Os titulares do Dream-Team (Magic, Jordan, Barkley, Malone e Ewing), com Bird como sexto homem.

BNC: Depois que deixou de comentar, você ainda gosta de acompanhar a NBA? O que tem achado da liga nos últimos anos?
AJ: Acompanho pouco, assisto só as finais. Acho bacana o número de brasileiros por lá, o desenvolvimento que eles fizeram na web e o crescimento do número de estrangeiros, mas está mais distante do público brasileiro.

BNC: Por fim, uma pergunta bem fácil: de todos os momentos como comentarista de NBA, qual é o mais inesquecível para você?
AJ: Atuando como comentarista, as finais do Chicago contra o Seattle Supersonics em 1996. Coloquei as possibilidades em três jogos e o que falei deu certo. Inclusive a vitória do Seattle graças ao Gary Payton e sua marcação. Como narrador, em 1998, o adeus de Jordan em Salt Lake City, quando ele roubou a bola do Karl Malone e foi para o ataque e fez os dois pontos . Eu estava no Delta Center. Eu vi: 87-86 para o Chicago com 45 pontos de Jordan. Fiquei arrepiado naquele dia com o poder de decisão dele. O mundo se rendeu a vossa majestade.

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