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Após recusar Spurs no Draft, Scott Machado projeta carreira com o Houston Rockets na NBA

Fábio Balassiano

12/09/2012 03h00

O dia 28 de junho foi um turbilhão de emoções para o brasileiro Scott Machado, de 22 anos. Melhor armador do circuito universitário norte-americano, ele vivia a expectativa de ser escolhido no Draft daquele dia no Madison Square Garden que ele conhecia tão bem ("já vi muito jogo do Knicks e atuei ali em meus tempos de colégio e pela Universidade de IONA também). A primeira rodada passou ("eu suava e nada acontecia"), as primeiras escolhas da segunda rodada vieram, seu nome não era chamado e a frustração aumentava.

Até que na penúltima escolha (a 59ª) o San Antonio Spurs foi conversar com seu agente, o ex-jogador Aylton Tesch. Aylton, em seguida, foi anunciar para Scott que, sim, havia um time interessado em seu basquete. Acostumado a pensar rápido, o rapaz disse: "Não quero. Vão me mandar pra Europa. Pode declinar que vamos tentar via Liga de Verão". E assim foi feito. Os Spurs selecionaram Marcus Denmon e Scott Machado ficou esperando o telefone tocar. Não demorou muito, e naquela mesma noite o Houston Rockets perguntou se ele não gostaria de jogar a Liga. Ele aceitou, foi muito bem e logo depois assinou contrato com os texanos (rivais do Spurs, diga-se) por três anos. Sem saber com que número ele estreará na NBA ("eu quero o 4 ou o 14 – este, data de nascimento de sua mãe-, porque os outros já estão escolhidos – o 3, sem preferido, está com Omer Asik, outro recém-chegado). Na noite de ontem ele deu a sua primeira entrevista como jogador da NBA ao Bala na Cesta.

BALA NA CESTA: Onde você está no momento e como tem sido a sua rotina desde que você assinou contrato de três anos com o Rockets na semana passada?
SCOTT MACHADO: Já estou aqui em Houston treinando com quase todo o time. É uma ralação absurda, e não termina na quadra. Tem treino físico, fisioterapia, tudo. A estrutura é impressionante. E depois que os treinos acabam eu preciso procurar um apartamento pra morar. Vou ficar longe dos meus pais, mas vai valer a pena. Não há muita diferença entre o basquete universitário e o da NBA. O jogo é o mesmo, mas os talentos são diferentes e você acaba se forçando a jogar melhor. Isso é que é o mais diferente, o mais complicado. Mas, na realidade, não tem muita escolha. Quando você sai da escola para a universidade é a mesma coisa – só que na NBA os jogadores são melhores. Você acha que é diferente, mas não é tanto assim.

BNC: Poderia explicar como será a situação do seu contrato? É parcialmente garantido, certo?
SM: Sim, é parcialmente garantido, sendo que o terceiro ano é opção do time. No primeiro ano o valor total é de US$ 400 mil, no segundo, de US$ 600 mil e no terceiro, de quase US$ 1 milhão. E funciona assim a situação da garantia. Eu começo a temporada 2012-2013 recebendo a metade do valor do primeiro ano. Caso eu fique até janeiro, recebo a outra metade. A mesma mecânica se repete no segundo e terceiro anos.

BNC: E como foi a sensação de não ter sido escolhido no Draft? Imagino que a frustração tenha sido grande, mas ao mesmo tempo a alegria pelo convite do Houston foi imensa.
SM: Por incrível que pareça, não ter sido escolhido no Draft acabou sendo melhor pra mim. A intenção era a primeira rodada, e como não aconteceu, preferi que na segunda rodada eu fosse escolhido. Foi até engraçado, porque o San Antonio Spurs me queria com a escolha 59, e eu acabei recusando. Disse ao Aylton (Tesch, seu agente) que preferia tentar a sorte nas Ligas de Verão, porque sabia que os Spurs iriam me mandar jogar fora dos Estados Unidos, algo que eu não queria. Foi uma decisão rápida, na hora mesmo, e que acabou dando certo. Logo depois o Houston Rockets me chamou pra jogar.

BNC: Como foi a Liga de Verão que você atuou, e como você recebeu a notícia de que eles queriam assinar um contrato com você?
SM: Cara, foi uma sensação muito estranha, posso definir assim. Nos dois primeiros jogos com o Houston eu não estava jogando bem, estava preso, ansioso, pensava muito para fazer qualquer jogada. Meus irmãos e meus pais me ligaram, disseram para eu relaxar e comecei a atuar como estava jogando em IONA. Apareci e a oportunidade surgiu. Eu recebi a notícia na semana passada, mas até sair de nova Iorque minha ficha não tinha saído. Mas na última quinta-feira passada comecei a chorar e vi que era real, que não era um sonho. Realizei que as coisas iriam acontecer mesmo. Fiquei muito mais feliz, minha família também e agora estou de corpo e alma com os Rockets. Posso te dizer que o momento mais emocionante foi quando minha mãe avisou ao meu avô paterno, que está hospitalizado aqui nos EUA, que eu tinha conseguido atingir meu objetivo, concretizar meu sonho. Ela chorou e eu também. Sinto como se estivesse conseguindo vencer na vida.

BNC: E o que você espera da concorrência para ser o armador reserva do Jeremy Lin? Tem Toney Douglas, Shaun Livingston, Courtney Fortson e você…
SM: Vou ter que jogar muita, muita bola, conquistar meu espaço a cada dia, a cada treino. O time é jovem, todos vamos ter muitas oportunidades de mostrar o talento. O bom é isso. A equipe está sendo construída, e teremos muitas chances para aprender, evoluir como uma equipe. Eu não gosto de ficar falando dos outros, porque armador tem que se dar bem com todo mundo, tem que ser amigo de todo mundo.

BNC: Se você pudesse se definir como atleta, como seria?
SM: Sou um armador que gosta de ajudar meu time a achar o arremesso mais fácil, sou um passador que adora achar o melhor chutador na quadra. Sou um líder, um passador e amo jogar esse jogo. É minha vida. Quando era mais novo, tinha o John Starks, do Knicks, como ídolo, mas também gostava muito do John Stockton, cujo estilo é mais parecido com o meu, e do Tim Hardaway. Talvez por causa desta questão da visão de jogo eu pense em ser técnico depois que parar de jogar.

BNC: Pouca gente o conhecia até que você estourar aí na Universidade de IONA. Poderia contar um pouco mais sobre seu lado familiar, seus irmãos, tudo?
SM: Claro. Nasci aqui, pois meus pais, Solenir e Luis Mauro, vieram viver nos Estados Unidos logo que se casaram. Tenho cinco irmãos: um é médico, o outro é assistente-social, o mais novo, Juninho, joga basquete no colégio, o outro é cantor de Hip-Hop (ouça aqui a canção Sunshine, de Greg Machado, irmão de Scott) e a minha única irmã, Stephanie, quer ser modelo. Esta vai dar trabalho pra família, mas todos aqui cuidamos muito dela (risos). Como tem muito brasileiro, conseguimos manter os laços com o país. Torço pro Internacional, de Porto Alegre, e gosto de dançar e ouvir forró e samba. Minha mãe sempre tenta ensinar a gente a dançar. Gosto do Revelação, do Zeca Pagodinho, gostava do Alexandre Pires no Só pra Contrariar e curto muito Tim Maia e Raça Negra.

BNC: Por fim, uma pergunta sobre seleção brasileira. Você nasceu aí, seus laços todos estão aí, mas você diz que pensa em jogar pelo Brasil. Qual é a sua expectativa em relação aos próximos anos? Já chegou a falar com o pessoal da Confederação?
SM: Ainda não falei depois que assinei com o Houston Rockets, mas ainda não estou preocupado. Tem tempo para resolver a situação, mas quero jogar pela seleção. Já defendi o país na Universíade de 2011, e foi muito bacana. Em 2016 quero estar com o Brasil jogando a Olimpíada do Rio de Janeiro. Seria muito emocionante pra mim e pra minha família.

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