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Raio-X do Basquete Feminino: Hortência e sua incapacidade administrativa

Fábio Balassiano

21/08/2012 00h34

Comecei aqui ontem o Raio-X sobre o basquete feminino brasileiro. Critiquei, como não poderia deixar de ser, a Confederação Brasileira de Basketball, responsável maior pela derrocada do departamento das meninas deste país. Hoje a vez é de avaliar o trabalho de Hortência, diretora de seleções femininas da CBB (aqui no organograma da entidade máxima).

É inegável que, como disse ontem, a grande parcela de culpa pela queda do basquete feminino brasileiro seja da Confederação Brasileira, que deveria formatar um programa decente, minimamente decente para a modalidade (homens e meninas, diga-se). Mas também é óbvio que esperava-se muito mais de Hortência. Carlos Nunes venceu a eleição no dia 4 de maio de 2009, e no dia seguinte a Rainha foi confirmada como diretora do departamento feminino. Em sua chegada, como que num prenúncio de outras frases e atitudes infelizes, disse o seguinte sobre o piloto Rubens Barrichello (relembre aqui): "O Rubinho Barrichello, por exemplo, tem estrela, apesar de muitos dizerem que não. O problema é que a estrela dele fica na bunda. Quando ele senta no cockpit, ela apaga". "Baita" começo, não?

Foi uma frase infeliz de uma gestora infeliz. Hortência canta aos quatro ventos que garantiu todas as seleções de base em Mundiais. Na verdade, a seleção Sub-17 não foi ao Mundial de 2010, mas isso pouco importa. Na gestão anterior, tão péssima e opaca quanto a atual de Carlos Nunes, times nacionais de base tinham a mesma ou maior facilidade para dominar o continente americano (exceção, claro, aos Estados Unidos). O que se esperava, e ainda se espera porque nada foi feito, era um plano para fazer com que o basquete voltasse a revelar grandes jogadoras como foi a Rainha.

Mas nada, além da famigerada e atrasada ideia da seleção permanente, sustentada por um caminhão de dinheiro público do Ministério do Esporte, foi feito. E nada é nada mesmo. Não houve nenhuma iniciativa para a iniciação de meninas na modalidade, nenhuma aproximação dos clubes, que anunciam a falência quase que semanalmente (Catanduva, Araçatuba etc.), nenhuma capacitação de técnicos da base, mudança alguma nos patéticos circuitos de base da Confederação Brasileira (seleções estaduais até quando?) e pouca, pouquíssima evolução técnica das jogadoras das divisões inferiores (citemos Damiris e mais quem?).

Com isso, a qualidade técnica interna caiu assustadoramente, e sem surpresa alguma os resultados nos torneios Classe A têm sido uma prova de quão ruim é o nível do basquete brasileiro. Isso tudo, claro, sem gerar revolta, inconformismo algum de uma entidade tão passiva que chega a assustar. São duas Olimpíadas e um Mundial no mais alto grau da mediocridade técnica e absolutamente nada é feito, absolutamente nada é modificado em termos estruturais no departamento feminino da entidade máxima, que, sabemos, vive em um mundo irreal, um mundo que não existe.

Falei da parte de gestão, da parte de administração de Hortência, que é em minha opinião bem fraca, e é impossível não mencionar as trapalhadas dela na escolha de técnicos da seleção brasileira. Começou com Paulo Bassul, mas a queda de braço entre o treinador e Iziane fez com que Bassul saísse. Veio o espanhol Carlos Colinas, que não resistiu ao péssimo Mundial de 2010. A tesoura de Hortência tampouco suportou Ênio Vecchi, que deu lugar a Luiz Cláudio Tarallo, comandante tão insosso quanto inexperiente na Olimpíada de 2012 (foi o quarto técnico em quatro anos de mandato dela). Isso tudo, claro, com a promessa de que Janeth assumiria o cargo para o ciclo que culminaria em 2016 com os Jogos do Rio de Janeiro. Ou seja: organização e planejamento passaram longe do mais alto comando da seleção adulta feminina de basquete.

Sinceramente não esperava muita coisa de Hortência como diretora de seleções da CBB, mas é impossível não se entristecer com sua gestão (ou falta dela). Espremendo, analisando friamente e com senso crítico, há muito pouco que se possa elogiar do trabalho da Rainha na Confederação (o bronze no Mundial Sub-19 de 2011 e…). E falo isso com dor, com tristeza, porque quando a Rainha entrou na entidade ao menos era o indício de que alguém com um mínimo de conhecimento de causa do basquete feminino estaria por ali. Mas faltaram preparo, ideias, planejamento e coragem para renovar uma seleção adulta há seis anos que se arrasta em quadra com nomes que jamais conseguirão algo pelo país.

Se é bem verdade que Rainha está no lugar errado, não é possível deixar de criticá-la por uma administração que não trouxe evolução alguma ao basquete feminino brasileiro que ela tanto ajudou, dentro de quadra, a ser grande, a ser imenso. O problema é que, fora de quadra, Hortência caminha a passos largos para colocá-lo cada dia mais perto do fundo do poço. Do jeito que as coisas caminham, há boas chances de isso acontecer rapidamente.

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