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Líder, Huertas projeta medalha olímpica e admite: 'Não perco o sono por causa da NBA'

Fábio Balassiano

27/07/2012 00h10

No dia 24 de maio, Marcelinho Huertas teve uma tímida atuação pelo Barcelona na primeira partida das semifinais da Liga ACB contra o Valencia (cinco pontos e cinco assistências nos 84-57 de seu time). No final do jogo, encontrei-o na porta do vestiário e pedi uma entrevista. "Bem rápida, pode ser? Meus amigos estão me esperando ali fora". Não era antipatia, como eu cheguei a pensar na hora, mas sim porque ele faria 29 anos naquela sexta-feira e iria sair para confraternizar com seus amigos e familiares que na Catalunha estavam.

Mas o papo rendeu. Sincero e simpático, Marcelinho Huertas, o grande líder da seleção brasileira masculina que estreia domingo nas Olimpíadas de Londres contra a Austrália (7h45), não deixou nenhuma pergunta sem resposta: falou sobre NBA, seu desempenho no Barcelona, a evolução do basquete brasileiro e da possibilidade de medalha nos Jogos. Confira o papo com o armador, que vem sendo chamado de Steve Nash da Europa por analistas norte-americanos, impressionados com a sua desenvoltura em quadra, e provavelmente a peça mais fundamental do time de Rubén Magnano na competição.

BALA NA CESTA: Como você chega para essa Olimpíada de Londres e o que você está esperando da competição?
MARCELINHO HUERTAS: O nosso grupo é forte, muito forte, e a gente não pode esperar outra coisa que não voltar com uma medalha. Sabemos que será difícil, há rivais fortíssimos, mas demoramos muito tempo pra realizar o sonho de jogar uma Olimpíada e agora conseguimos. Já que estamos lá, e com o time que temos, estou certo que temos capacidade técnica, atlética e uma comissão ótima para brigarmos pelas melhores colocações. Temos é que estar focados no trabalho, só isso. O Rubén Magnano tem as coisas muito claras na cabeça dele, e tenho certeza que ele saberá nos orientar da melhor maneira possível. Vontade não falta e pra ganharem da gente vão ter suar muito, muito mesmo.

BNC: Você joga com muitos atletas internacionais (Joe Ingles, da Austrália, Navarro, da Espanha, etc.) no Barcelona. O que eles falam sobre o Brasil pra você?
MH: Eles respeitam, sempre falam muito bem, mas durante a temporada procuramos não falar muito sobre seleções nacionais. Procuramos focar apenas no clube, mas todo mundo sabe que hoje em dia o Brasil é uma realidade. O nosso país sempre teve história, e agora temos jogadores com currículo pra ir bem. Todo mundo sabe disso, e meus companheiros não poderiam ser diferentes.

BNC: Invariavelmente no Brasil seu nome é colocado como possível reforço de times da NBA. Aos 29 anos, você ainda pensa em atuar na liga norte-americana, ou já deixou de ser uma prioridade em sua vida?
MH: Engraçado é que aqui na Espanha não se fala muito sobre isso, não. Estou muito, muito feliz no Barcelona, ainda tenho dois anos de contrato e a possibilidade de eu sair é muito pequena. Não perco meu sono por causa da NBA, sinceramente. Acho que as coisas precisam acontecer naturalmente, tranquilamente. Vou seguir trabalhando, e prefiro manter meus pés no chão. Se um dia acontecer, preciso analisar friamente, e não no ímpeto de "Ah, quero ir jogar lá, que bacana". Não é mais assim. A gente conhece inúmeros atletas consagrados que saíram daqui (Europa) e foram pra lá ficar no banco, sem tempo de quadra. O melhor exemplo talvez seja o Sarunas Jasikevicius (Nota do Editor: coincidentemente, novo companheiro de Huertas no Barcelona), três vezes MVP da Euroliga e banco durante quase toda a sua carreira na NBA. É uma pena. Um talento que as vezes você acaba desperdiçando. Todo mundo que falo sempre diz a mesma coisa: é uma grande incógnita atuar lá. Se você pega um treinador que te ajuda, te explica as suas funções, ótimo. Se isso não acontece, ou você é trocado no meio da temporada, já era. Não é tão fácil quanto as pessoas pensam. É difícil ter a estabilidade que eu tenho aqui.

BNC: Tem acompanhado dos jogos do NBB? Tem gostado?
MH: Ver, ver, eu não consigo, porque aqui não é exibido, mas sempre acompanho os resultados, e sei que o NBB tem evoluído maravilhosamente bem. Vejo os números, vejo os placares e sempre leio as notícias. Soube que o Shammel se machucou, o que é uma pena, mas agora por você eu fico sabendo que o Pinheiros renovou com ele, o que é uma bela atitude. Mostra profissionalismo do clube e respeito pelo atleta.

BNC: Você já joga na Europa há algum tempo e atualmente atua por um dos times que melhor marca no mundo. Você concorda que para um brasileiro que olha o jogo de vocês e outro do Brasil é muito estranho, já que as diferenças na marcação são muito grandes?
MH: Isso é algo que sem dúvida a Europa me ensinou demais. O basquete, hoje, é muito estudado, marcado, todos os movimentos ofensivos do adversário são conhecidos. Por isso, quanto menos espaço, ou chance de pontuação, você der ao adversário, melhor. Nosso time é muito físico, e a recomendação da comissão técnica é sempre marcar todas as linhas de passe, pressionar desde a saída de bola e sufocar o maior número de minutos que a gente conseguir. Não consigo comparar com o Brasil, porque tenho visto pouco, como te disse, mas a seleção do Rubén utiliza muitos dos conceitos que a gente aqui na Europa conhece muito bem. No basquete se ganha atrás. Na frente quase todo mundo tem jogadores talentosos pra decidir, essa é que é a verdade.

BNC: Poderia detalhar um pouco mais como é feito este planejamento tático no Barcelona?
MH: Aqui o Xavi Pascoal (técnico) é um alucinado por vídeos e correções de posicionamento. Não sei, de verdade, quantas horas a gente fica em uma sala de vídeo olhando jogada atrás de jogada para saber como marcar todas as possibilidades do rival do fim de semana. Vou te contar um caso, mas não vou contar o jogador. Estávamos viajando, e o Xavi mostrou para mim o armador que enfrentaria. Pra se ter ideia do nível de detalhes, havia uma estatística sobre em qual lado o cara fazia mais bandeja. O nível de detalhes é absurdo, absurdo mesmo, mas acho que é assim que se ganha um jogo, um duelo de mata-mata, uma final de campeonato. Temos todos os tipos de marcação, seja de garrafão, de perímetro, de quadra toda. Fora as jogadas de ataque, que são inúmeras (temos mais de 80 jogadas pra você ter ideia). Por ser armador, eu preciso saber de todas, né. Então você imagina como não fica a minha cabeça com as informações. Aqui não perdemos tempo. Treinamos demais, e nos tempos livres vemos vídeos.

BNC: Pra fechar: sobre o basquete brasileiro fora da quadra, você consegue, de longe, enxergar alguma evolução?
MH: Acredito que o trabalho nas categorias de base esteja sendo bem feito. Ano passado muitas seleções foram treinar em São Sebastião do Paraíso, e isso está correto. O trabalho vai surtir efeito, e está sendo bem supervisionado pelo Rubén, que conhece bastante. A gente sempre quer que o Brasil ganhe – principalmente nos torneios sul-americanos -, e eu confio que o planejamento esteja sendo bem traçado.

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