Especial 20 anos do Dream Team: Biógrafo abre o jogo e conta detalhes daquele timaço
Fábio Balassiano
27/07/2012 11h20
Mas não foi só isso. Também escalada pela Sports Illustrated para cobrir a cerimônia de entrada do time no Hall da Fama em 13 de agosto de 2010, Jack não se contentou "apenas" em registrar o momento para a revista e para o site da publicação. Naquela tarde de sexta-feira em Springfield ele pensou em juntar todas aquelas histórias em um livro. E deu certo. Dois anos depois, na comemoração dos 20 anos daquele timaço, Jack lançou "Dream Team: How Michael, Magic, Larry, Charles, and the Greatest Team of All Time Conquered the World and Changed the Game of Basketball Forever" (Dream Team: Como Michael, Magic, Larry, Charles e o melhor time de todos os tempos conquistou o mundo e mudou o jogo de basquete para sempre), obra que merece ser lida e desgustada.
Sobre o livro e o timaço, o autor conversou com o Bala na Cesta pouco antes de embarcar para Londres, onde acompanhará o time de basquete masculino dos EUA que, segundo Kobe Bryant, poderia bater o Dream Team de 1992. E Jack tampouco deixou de responder a essa pergunta. Confira o papo!
JACK MCCALLUM: Eu percebia que estava ao lado de algo grandioso, estonteante e inédito do ponto de vista esportivo. Mas o que costumo dizer é que os Beatles eram "apenas" quatro. Ali eram 12, 13 feras de um esporte maravilhoso. Então eram os Beatles, os Rolling Stones e Eric Clapton tocando guitarra em uma turnê com shows maravilhosos. O mais bacana é que aqueles rapazes eram impactantes dentro de quadra, mas também eram fantásticos de conviver fora dela. Acho que faz parte não do grande jogador, mas dos grandes atletas, dos grandes ídolos. Nenhum outro time conseguirá reunir ícones tão fortes de uma década como aquele grupo de 1992.
BNC: Recentemente Kobe Bryant disse que o time atual dos EUA poderia vencer um jogo contra o Dream Team de 1992. Michael Jordan, Charles Barkley e Scottie Pippen disseram que ele, Kobe, estava louco. O que você tem a dizer sobre isso?
JM: Entendo o raciocínio, mas não concordo com o Kobe. No garrafão, o time de 1992 acabaria com o time atual dos Estados Unidos, de verdade. E digo isso mesmo se Dwight Howard estivesse no elenco. Quem marcaria Charles Barkley? E Karl Malone? E Patrick Ewing? E David Robinson? Ainda que se muita gente possa dizer que o perímetro seja equilibrado, o que eu sinceramente não concordo por causa de um rapaz chamado Michael Jordan, o garrafão do time de 1992 aniquilaria o do time atual dos EUA.
BNC: Muitas pessoas dizem o Dream Team foi mais um símbolo do que uma equipe. Foi a primeira vez que uma seleção dos EUA teve jogadores da NBA nas Olimpíadas, e um prelúdio da NBA internacional que conhecemos hoje em dia. Você concorda com isso?
JM: Concordo em parte. Aquela seleção era um símbolo, como você bem menciona, mas era uma baita equipe. Confie em mim, eles se preparam como qualquer equipe em termos de estratégia, rotações, motivação, tudo isso. O fato de eles permanecem um símbolo é devido à maneira como eles jogaram. E acho que este foi o grande mérito de Chuck Daly, um baita general. Colocar todos aqueles talentos para exibições "solo" seria o mais fácil – e talvez até desse o mesmo resultado final (a medalha de ouro). Mas o lindo daquele time é que todo mundo estava ali pra ganhar, pra trazer o título olímpico para os EUA, e ninguém reclamava de nada. Eu vi cenas de Michael Jordan pegando bola para Christian Laettner depois de treinos em Monte Carlo, de Magic Johnson ajudando John Stockton a marcar, de Patrick Ewing e Charles Barkley disputando o melhor posicionamento de rebotes com as luzes do ginásio de Badalona apagadas. Nenhum time que não tivesse comprometido a ganhar como um time faria isso.
BNC: Imagino que cobrindo a equipe em 1992 você percebia que estava vendo a história ser escrita na quadra? Deu pra separar o lado torcedor do lado jornalista naquela situação?
JM: Era preciso ser um lunático para não se emocionar com Magic Johnson, um cara que anunciou o vírus HIV um ano antes, em quadra. Era impossível não franzir os olhos ao ver Larry Bird todo contraído por dores nas costas em quadra disputando seus últimos minutos de vida no basquete. Mas, sim, deu pra separar as coisas, sim. A única coisa que a gente que esteve lá não conseguiu prever foi o efeito absurdo que aquela seleção fez com o jogo de basquete como um todo. A partir daquelas Olimpíadas o basquete se tornou muito, muito mais popular no mundo inteiro. E o Dream Team tem muita coisa a ver com isso, evidentemente.
JM: Em 1992 ele era um jogador diferente, e disso ninguém tem dúvida. Era mais lento, e já em uma curva descendente, o que era natural. Lembremos: Magic Johnson já era um gênio em 1979. E estávamos em 1992. Mas uma coisa precisa ser dita: ele foi um ícone cultural, social naqueles Jogos. Magic mudou a maneira como toda a sociedade falava sobre o vírus da AIDS. Antes era "ele vai morrer por causa dela". Depois de Barcelona, foi "que baita maneira de se viver com o HIV". Isso se deve a maneira corajosa como ele encarou a doença e obviamente ao seu extraordinário carisma.
BNC: Uma pergunta delicada. É verdade que Michael Jordan vetou a presença de Isiah Thomas naquele elenco? E outra: por que Dennis Rodman não foi convocado para aquele time?
JM: Já que você foi direto, serei claro: quando da formação do Dream Team em 1991, Michael Jordan insinuou várias vezes que se Isiah Thomas fosse convocado ele não aceitaria participar do time. Tão simples quanto isso. Como o desejo da USA Basketball era ter Jordan mais do que qualquer coisa, Isiah acabou sendo preterido. A relação dos dois era terrível, e a maneira como eles encaravam o basquete e a vida faria daquele ambiente maravilhoso um inferno. Sobre Dennis Rodman, duas considerações: 1) naquele time todos eram fantásticos no ataque e na defesa, e sua parte ofensiva era uma lástima, todos sabemos; 2) a cota de seres alucinados daquele elenco já estava preenchida por Charles Barkley (risos).
BNC: Para terminar: o Dream Team foi o melhor time da história de TODOS os esportes coletivos?
JM: Não creio que tenha havido outro time em quadra ou campo em que se tenha podido dizer: "Eles não poderiam ser vencidos". O Dream Team era um destes. Poderia haver lesão de quatro, cinco jogadores fundamentais e ainda assim destroçar seus rivais. Isso, claro, se Michael Jordan não estivesse entre os lesionados (risos).
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