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Após visita ao Barcelona, a óbvia constatação: esporte brasileiro ainda patina no amadorismo

Fábio Balassiano

31/05/2012 01h50

(Este não é um texto exclusivamente sobre basquete, mas achei que valia a pena escrever. Espero que gostem.)

Como alguns de vocês devem saber, voltei pela primeira vez a Espanha, onde havia morado em 2006, na semana passada. Sei de todos os problemas econômicos que o país (e o continente e o mundo) tem passado, dos defeitos do povo de lá e de tudo mais que quisermos dizer dos caras. Este, portanto, não é um texto de um carioca-idiota-que-vai-a-Europa-e-volta-babando-de-tudo.

O que chama a atenção, de verdade, é a parte estrutural da coisa. Já que o nosso assunto aqui é esporte, vou me ater apenas a ele, sem tocar, portanto, nos aeroportos ("parecem os nossos shoppings", ouvi da minha esposa), metrôs, ônibus e aqueles transportes turísticos que são uma mina de dinheiro (quem quiser tentar essa sorte aqui no RJ pode ficar bem rico).

Em um dos dias eu fui ao FC Barcelona, que dispensa grandes apresentações. O clube é o máximo, e além do decantado futebol, há hóquei (bem mais popular do que supunha), basquete (isso você já sabe e leu aqui ontem), futebol de salão (ou futsal) e outras modalidades. Ou seja: o carro-chefe é o time do Messi, mas há espaço pra tudo.

De todo modo, isso chama menos a atenção do que a forma como o clube está estruturado financeiramente. Li recentemente que as receitas do Barça estão igualmente divididas entre Televisão, estádio e marketing (foram R$ 1,1 bilhões em 2011). E aí é que a porca torce o rabo.

Vivemos aqui uma "ditadura das TV's" que assusta. No Barcelona, há alguns cálculos simples pra entender a força que a comunicação/marketing exerce(m) no orçamento do clube (sem torná-lo, portanto, refém de nada) . Uma visita guiada (museu, Camp Nou, o diabo) tem o singelo valor de €22. Perguntei ao guia, e ele me disse que, em média, cerca de 4 mil pessoas passam pelo tour diariamente (em meses de férias isso aumenta muito, me garantiu). Só no passeio a agremiação catalã fatura €2,6 milhões/mês.

E você deve imaginar onde acaba o tour, não? Pois é. A parte final acaba com você subindo uma escada rolante que cai dentro da loja do clube. Lá você encontra tudo: de camisas e shorts a lençóis, copo, tudo. Dá gosto. O carro-chefe, já disse, é o futebol e foi assustador ver o número de pessoas que pediram pro vendedor "a dez do Messi". Tudo muito rápido: a camisa custa €60 (com desconto porque estão lançando a nova, que, aliás, achei horrível). Pra colocar nome e número, mais €18.

Sobre a loja oficial, também é possível comprar franquias. Empresários, dizem lá, fizeram muita grana com as tais "Botiga do Barça". Já repararam aí o volume de grana envolvida, não?

Mas se quisermos um cálculo simples, vamos lá. Esquecendo as camisas falsas (há aos montes, claro), são cerca de 700 camisas/dia de acordo com dados oficiais. A um preço de €78 (preço normal, sem o desconto citado acima), daria €1,6 milhões/mês só em venda de camisa (sem falar dos outros produtos). Dividindo igualmente a conta entre Nike e clube, o Barça lucra cerca de €10 milhões de euros por ano (lógico que há o repasse percentual pros franqueados, mas eu não tenho ideia de quanto é – e nem o guia sabia).

Sei, é verdade que em SP o São Paulo, o Corinthians e o Santos têm tentado investir nessa área (de licenciamento), mas ainda acho pouco. Falando apenas do meu clube (pra não acharem que estou puxados brasa pra sardinha da mesa ao lado), o tamanho e os produtos da Loja do Flu são de dar vergonha a qualquer um – do torcedor ao consumidor.

Deu pra entender o quero dizer, não? Nossos clubes são atrasados, atrasados demais em termos de profissionalismo, gestão e planejamento estratégico. Enquanto pensarmos pequeno, nossas receitas serão… sempre pequenas e nossos trabalhos, seja em campo ou fora dele, diminutos.

Sei que muita gente terminará este texto (se terminar de ler, claro) dizendo: "Gostou tanto assim? Vai morar lá, Bala, seu chatola". Não é isso, evidentemente, o que quis passar e quem ler assim, só lamento.

O Brasil era o "país do futuro" nos anos 60. Era o "país da Copa e das Olímpiadas". Era pra ser o que não será tão cedo.

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