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Cuidadosa, diretora Hortência faz balanço de seu trabalho na Confederação

Fábio Balassiano

26/09/2011 00h30

Da diretora espalhafatosa que chegou na CBB para assumir o basquete feminino brasileiro resta muito pouco. Hortência Marcari está mais cuidadosa com as palavras, tem medido o que fala e parece ter se acostumado melhor ao cargo que exerce. Mas uma coisa ainda está lá: a sua paixão pela modalidade. Em papo aberto em Americana, a Rainha conversou com o blog sobre o seu trabalho na Confederação Brasileira.

BALA NA CESTA: Muita gente reclamou da falta de amistosos de peso da seleção brasileira para este Pré-Olímpico. O que de fato aconteceu?
HORTÊNCIA: Tivemos problemas terríveis para marcar amistosos. Os Estados Unidos estão com a WNBA em andamento, os times da Europa já jogaram o Pré-Olímpico e Canadá e Argentina não quiseram marcar amistosos contra a gente. Ficou complicado. Mas jogamos contra Cuba, fizemos jogos-treinos bacanas e estamos preparadas para a conquista da vaga olímpica. O time vai ganhar ritmo durante a competição, tenho certeza disso.

BNC: Muita gente, inclusive eu, cobrava a contratação de um técnico de renome para comandar a seleção feminina. Como você enxerga isso, e como você avalia o trabalho do Ênio até aqui?
HM: Concordo e respeito essa análise (de um técnico de renome), mas isso foi tentado. Infelizmente ainda não foi a hora, mas houve conversas – que não evoluíram (nota do editor: Tom Maher, técnico australiano, foi sondado pela Confederação). Estamos satisfeitos com o Ênio, com quem ficaremos até o final das Olimpíadas de Londres, em 2012. Até lá ele fica exclusivamente conosco. Depois disso faremos uma análise mais apurada do trabalho dele.

BNC: No hall do hotel, quando conversamos rapidamente, você disse que não convocaria Nenê e Leandrinho para a seleção masculina que vai às Olimpíadas. O mesmo raciocínio não se aplica ao caso da Iziane?
HM: Não, não se aplica. São coisas completamente diferentes. E te digo o porquê: os rapazes estão aí, um de férias e o outro já treinando em seu novo clube. A Iziane tem contrato com seu time na WNBA, a melhor liga do mundo, e pode não ficar no Atlanta na próxima temporada. Ficaria complicado para ela pedir para sair assim. Entendo a posição da atleta, de verdade. O que acho, sinceramente, é que o basquete brasileiro passa por um momento tão difícil que precisa de união e de pessoas dispostas a comprar um projeto de mudança que está tentando ser implantado há quase dois anos. Precisamos de mais do que atletas. Precisamos de pessoas comprometidas com a melhora e o desenvolvimento da modalidade.

BNC: Eu noto que um dos seus grandes focos de trabalho na CBB é na base. O que está projetado para o próximo ano? Teremos novamente uma seleção permanente?
HM: Uma, não. Teremos três, se os nossos projetos forem aprovados pelo Ministério do Esporte. Teremos a Sub-17, que disputará o Mundial na Holanda, a Sub-18, que se prepara para o Mundial de 2013, e também uma Sub-20 ou Sub-21. E penso nesta última seleção porque as meninas precisam ganhar experiência, vivência de quadra. Não pode uma menina chegar numa seleção adulta com 25, 26 anos e ter feito dez, 15 jogos internacionais. Você olha pro vôlei e vê uma menina de 22 anos com mais de 100 partidas internacionais de alto nível. Você acha que isso não pesa na hora da decisão? Pesa, e pesa muito. Por isso temos tentado acelerar o processo de amadurecimento dessas meninas, e as seleções de desenvolvimento vão nos ajudar muito nisso.

BNC: Você não teme que a relação da Confederação com os clubes fique cada vez mais complicada? Cito, para você, o exemplo de uma atleta de Americana que sei que você gosta muito, a Izabella Sangalli. Ela esteve com a seleção permanente Sub-19 neste ano, estará com a Sub-17 em 2012 e provavelmente com a Sub-18 em 2013 também. Como fica a situação de Americana, que formou a jogadora e a terá apenas em parte do ano?
HM: Sua pergunta é boa e pertinente, mas a minha relação com os clubes é ótima. Eu pego a jogadora e devolvo a atleta com uma série de treinamentos no exterior, jogos de alto nível, tudo. Só acho que os campeonatos regionais e seus respectivos calendários precisam se ajustar para que ninguém seja sacrificado.

BNC: Em uma de suas seleções de desenvolvimento você teve a Damiris e a Tássia, que foram muito bem no Mundial Sub19 (medalha de bronze no Chile). Elas são os pilares dessa renovação que você pensa para a seleção feminina?
HM: Sim, mas não são só eles. Você citou duas jogadoras, mas temos outras. A Izabella, que você citou, por exemplo, é outra que olhamos com um carinho imenso, e é com este argumento de renovação que falamos para o Ministério dos Esportes nos auxiliar. Estas poderão ser as meninas que farão o Brasil brilhar em 2016, não? Acho que o trabalho tem sido feito, e bato de novo na tecla: essas jovens precisam jogar, jogar e jogar. Quando fomos campeãs mundiais, Paula, Janeth e eu já tínhamos passado por muita coisa – e a Janeth não tinha 26 anos. Também não sou louca de achar que só treino resolve, né. A minha ideia é chegar em 2016 com um número maior de jogadoras com experiência boa em termos internacionais.

BNC: Você acha, então, que o processo das seleções de desenvolvimento é irreversível?
HM: Não, não é. Quando os clubes voltarem a ter um papel um papel destaque, de retomada de investimentos, de competições organizadas, as seleções obviamente perderão força. Mas hoje, querendo ou não, todo mundo fala da conquistar olímpica dos rapazes, da conquista do bronze pela seleção Sub19. Aqui no Brasil, cara, esporte só se sustenta com resultados internacionais fortes das seleções. E é isso que estamos buscando. Eu não tenho problema com os clubes. Nenhum mesmo.

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