Mais experiente, Adrianinha exalta jogo coletivo na seleção feminina
Fábio Balassiano
20/09/2011 07h35
BALA NA CESTA: A fase de preparação está terminando, e agora o Pré-Olímpico está chegando. O que vocês estão esperando? Cuba e Canadá são os principais rivais?
ADRIANINHA: Esperamos nos classificar agora. Da outra vez (Madrid-2008) nos classificamos na repescagem, mas quanto antes melhor, né. Deixar para o Pré-Olímpico Mundial, com equipes européias e provavelmente longe de casa seria muito complicado. É melhor fazermos o nosso papel logo de cara. Sobre os adversários, Cuba, Canadá e Argentina, contra quem sempre fazemos jogos amarrados, independente do elenco que elas irão (nota do editor: as hermanas irão com elenco muito renovado).
AMP: Pode parecer bobeira o que vou falar, mas a nossa referência aqui é o grupo. Não tem vaidade, não tem estrelismo, não tem nada. Mesmo estando faz tempo na seleção, temos meninas experientes como Micaela, Chuca e Silvia, que me ajudam muito nessa parte de mostrar os caminhos. Não dá para comparar a geração anterior a esta em termos de "puxar" um grupo. Helen, Alessandra, Janeth, Claudinha, tiveram uma escola muito grande. Mas em quadra não tem essa de idade, né. Uma menina, como foi a Clarissa nos dois amistosos em Americana, pode se destacar, e a gente precisa entender que quem está no melhor momento precisa receber a bola.
BNC: Você pensa em continuar com a seleção depois de Londres? E te pergunto isso porque a sua posição (armadora) é uma das mais carentes do basquete brasileiro.
AMP: Com certeza não. Precisa renovar, né. Acho que precisamos saber quando termina um ciclo. Depois de Londres, chega. E nem sei se estamos tão mal assim de armadora. Temos a Tássia, temos a Babi, que são muito boas. É uma questão de oportunidade apenas. É que a gente nem vê porque há poucos clubes por aqui, pouca divulgação, pouco apelo na modalidade. Acho que isso vem com o tempo. Temos agora o projeto das seleções de desenvolvimento da Hortência que pode render frutos também (ela aponta para a diretora de seleções da Confederação, que acabara de chegar ao hall do hotel). É preciso ter paciência. Eu até brinco com as meninas que ninguém quer ser armadora porque é a posição mais chata que tem. E pra começar é complicado também. Ganhar a confiança do grupo, saber ler e entender o jogo, mostrar que você pode liderar uma equipe em quadra não é fácil.
BNC: Você tocou em dois pontos fundamentais, ao meu ver. O da falta de equipes e o da falta de referências no esporte. Você foi "puxada" pela Hortência, Paula e Janeth, por técnicos brilhantes, e hoje as meninas acabam se ressentindo um pouco disso em seus clubes. Na seleção, há pouquíssimas experientes. Como você enxerga isso?
AMP: Concordo inteiramente com a análise. Para ser justa, isso tem melhorado, mas com exceção do vôlei, o esporte feminino em geral tem menos divulgação mesmo, menos patrocínio, menos tudo. Vamos ver se a classificação dos rapazes acaba puxando o produto basquete para cima. Nós temos ido às Olimpíadas desde 1992, mas não mudou em muita coisa, não. Sobre o que você fala de referências, eu acho que fui privilegiada por ter treinado desde muito cedo com Maria Helena Cardoso, Eleninha, Paulo Bassul e Barbosa, e minha geração viu nossos ídolos jogarem. Joguei com a Paula, joguei contra a Hortência. Isso ajudou muito, fez a gente crescer. Eu tive a oportunidade de ver os maiores ídolos do basquete. Paula, Alessandra, Hortência e Janeth, todas elas escreveram a história do basquete brasileiro e foram exemplos não só dentro de quadra, mas principalmente em termos de atitude.
AMP: Eu era muito novinha, quase não joguei (marcou apenas dois pontos em um jogo), mas fazer parte daquele grupo, ter uma medalha em casa, isso tudo é muito emocionante. E com os anos você passa a valorizar ainda mais aquela conquista, sabe. Entende que fez parte daquilo tudo, de um momento importante na história do país, de um momento bacana da história do basquete. Isso vale muito. Guardo ótimas recordações daquelas Olimpíadas.
BNC: Você jogou na WNBA, em Phoenix, atua na Itália e está sempre com a seleção brasileira. São estilos muito diferentes?
AMP: Completamente. Nos Estados Unidos parece basquete de rua. É mais corrido, mais físico, mais brigado. Na Itália, muito cadenciado, pensado, e lá eu tenho que orientar a equipe a cada segundo. O Brasil é o meio termo disso aí.
BNC: Muita gente diz que o Brasil deveria pender mais para o basquete europeu do que para o norte-americano para conseguir resultados internacionais. Você concorda?
AMP: Acho que o Brasil tem que ser o Brasil. Jogar como equipe, como foi a seleção masculina, defender muito e ter alegria no ataque. Temos uma escola de basquete de muitas conquistas. Lógico que precisamos olhar para o mundo, mas temos qualidades que quase ninguém tem no improviso, na ginga, e precisamos usar isso para vencer.
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