Em entrevista exclusiva, campeão Dirk Nowitzki abre o jogo
Fábio Balassiano
26/07/2011 07h00
BALA NA CESTA: Neste momento você começa a sua preparação para o Eurobasket, certo? Qual a expectativa para a competição? Será que a Alemanha consegue, de cara, carimbar a vaga para as Olimpíadas de Londres?
DIRK NOWITZKI: Será a competição mais equilibrada entre seleções européias dos últimos anos, mas esperamos ir bem. Com a adição do Chris Kaman (pivô do Los Angeles Clippers), ganhamos em força e técnica no garrafão. Faremos de tudo para chegar às Olimpíadas. Se não agora, no Eurobasket, ao menos via Pré-Olímpico Mundial, como foi em 2008 na Grécia. Queremos muito jogar em Londres.
BNC: Não sei se você sabe, mas este lado de querer sempre defender a Alemanha te faz ser ainda mais admirado no Brasil. Por aqui, por incrível que pareça, a mão é invertida, e alguns atletas preferem não jogar pela seleção. É possível explicar isso?
DN: Não posso falar pelos outros, mas eu amo jogar pelo meu país e sei da importância que isso tem para a modalidade na Alemanha. Não é que seja o melhor germânico no basquete, mas pela popularidade que adquiri na NBA sei exatamente quão bacana é para os que me acompanham durante nove, dez meses nos EUA me verem com a camiseta alemã. E eu curto demais isso. Jogar uma Olimpíada sempre fez parte dos meus sonhos, e fico feliz em ter atuado há três anos na China. Ainda estou me recuperando da lesão no dedo que tive nas finais da liga contra o Miami, mas acredito sinceramente que estarei na lista final para ir ao Eurobasket. É meu desejo maior neste momento.
BNC: Uma das críticas mais comuns a você de cinco, seis anos pra cá é que de que você não decidia partidas importantes, que não conseguiria ser campeão. Com o anel, você espera que este tipo de raciocínio se dissipe de vez?
DN: De verdade? Nunca dei ouvido para isso. Se fosse me preocupar com tudo o que dizem de mim… Sério: é uma sensação indescritível ganhar um título da NBA. Poderia citar algumas coisas para comparar, mas seria irreal. Posso te dizer que sou o cara mais feliz do mundo em trazer o título para Dallas, uma cidade que me viu crescer e sempre me apoiou. Foi uma conquista de equipe, e de uma equipe que nunca deixou de acreditar em sua capacidade. Costumo dizer que seria um cara muito triste caso não tivesse conseguido conquistar um título da liga. Conquistá-lo pelos Mavs, a franquia que me abraçou desde o meu ano de estreia, foi gratificante demais.
DN: Equilíbrio emocional é importante na hora de decidir as partidas, mas você só dá valor a isso quando começa a perder e não consegue explicar o porquê. Não gosto de falar muito sobre isso, mas o aspecto psicológico foi algo que, sim, trabalhei para evoluir. Além disso, a experiência com os anos te leva a aprender com os erros e a desenvolver técnicas para não repeti-los. Um jogador precisa ter em mente que errar faz parte da vida, mas que apenas aprendendo com os erros será um grande atleta. Acho, também, que o fato de termos uma equipe experiente em Dallas nesta temporada ajudou bastante a suportar a pressão dos playoffs. Isso contou muito.
BNC: Você fala sobre aprender os erros, ser mais forte mentalmente, mas o momento que mais me marcou da comemoração do Dallas foi quando o cronômetro ia zerar e você decidiu sair de quadra para chorar. Consegue relembrar aqueles segundos, e o que passou pela sua cabeça?
DN: De verdade? Não. Muitas emoções juntas me fizeram sair correndo de quadra. Nem sabia para onde estava indo para ser sincero. Naquele momento eu pensei em todo o árduo trabalho que tive até realizar o meu sonho, que era ganhar o troféu da NBA. Senti que as lágrimas estavam chegando e precisava de um momento sozinho no vestiário para chorar e me recuperar em paz. Posso te dizer que depois de tudo o que passei que valeu a pena.
BNC: Falando em momentos difíceis, é inevitável lembrar da perda do título de 2006, quando o Dallas ganhava a série por 2-0 e tinha uma confortável vantagem no jogo 3, em Miami. O que você lembra daquela decisão, e quais foram as lições aprendidas para a deste ano?
DN: Foi a maior decepção da minha vida esportiva sem sombra de dúvida. Chegar tão perto de uma conquista e do nada perder foi bem difícil de superar. Foi complicado acreditar que seria possível atingir o objetivo de ganhar um título depois daquilo que passei, mas quando a oportunidade chegou, nós sabíamos que estávamos mais fortes e experimentados para aquele tipo de situação. Valeu a pena.
DN: Não posso te responder isso, mas posso dizer que foi excepcional ganhar um título tão importante tendo como alicerce principal o espírito coletivo. Nós acreditamos muito na qualidade do grupo e nos ajudamos para que isso acontecesse.
BNC: Quando você se tornou agente-livre ao final da temporada passada muita gente disse que você deveria procurar outra equipe para ganhar um título. Você também pensou nisso?
DN: Sim, de fato pensei em outras alternativas e possibilidades. Mas quando me encontrei com o Mark Cuban não tive dúvidas de que ficar em Dallas era a coisa certa a se fazer.
BNC: Você conseguiria falar um pouco sobre a transformação que aconteceu em seu estilo de jogo? Você começou na NBA como um ala (3), abusando dos chutes de três pontos (em 2001 arremessou 390 de longe), mas depois acabou migrando para um jogo mais sólido e consistente no garrafão (em 2010-2011, apenas 168 bolas de longe tentadas). Como foi esse processo?
DN: Você tem razão quando descreve essa minha mudança, mas ela foi natural e baseada em muito trabalho (foram horas ralando e treinando sozinho no ginásio). Acabei percebendo com o tempo que não precisava de tiros longos para ser um jogador dominante e que precisaria me tornar mais versátil se quisesse ter vida longa na NBA. Quando cheguei na liga precisei me acostumar com o jogo de contato que há por lá, e acabei me esquivando um pouco disso nos tiros de três pontos. Além disso, tive que me tornar um passador e um defensor melhor, além de adquirir técnicas de infiltração, coisa que não tinha quando era um novato.
DN: Não posso falar muito sobre isso, mas espero sinceramente que toda a situação seja resolvida rapidamente. Torço para que as duas partes conversem e se entendam. Tenho três anos de contrato com o Dallas, e espero cumprir. Caso a temporada de fato não ocorra terei que pensar no que fazer. Mas, sinceramente, isso nem passa pela minha cabeça. Quero voltar aos Estados Unidos e defender meu título com meus companheiros.
BNC: Você poderia falar sobre quatro pessoas importantes nesta conquistar do Dallas Mavericks? Mark Cuban, o excêntrico proprietário da equipe, Rick Carlisle, o treinador, Tyson Chandler, o pivô e "cadeado defensivo" do time, e Dwane Casey, assistente-técnico que montou a defesa por zona de vocês.
DN: Mark é um grande dono de franquia e um grande amigo. É apaixonado por basquete, e exatamente por isso talvez passe do ponto. O título significou muito pra ele, não tenho dúvida. O Casey montou a nossa defesa, é dele o mérito total de termos conseguido entender quão importante era marcarmos com sabedoria e paciência. Tyson foi, como você disse, o nosso melhor defensor durante todo o ano e um dos nossos líderes e atletas que mais lutaram para que conseguíssemos o anel. Sobre o Carlisle, ele teve o mérito de ter fechado e unido o grupo como nunca havia visto na liga. Além disso, e isso vejo pouca gente falar, deu grande liberdade para o Jason Kidd armar – e acho que isso deu resultado, né.
BNC: Para fechar: você jogou em grandes times do Dallas que não foram campeões. É possível compará-los? Dá pra dizer que este Dallas Mavericks, campeão da NBA, não é melhor do que muitos outros que você fez parte?
DN: Pergunta complicada a sua. Não vou dizer que sim nem que não, mas posso te afirmar que de atletas não foi o melhor de que fiz parte. Mas foi o que melhor encontrou soluções para vencer. Acho que isso faz, e fez, bastante diferença e mostra muito da grandeza de espírito e de atitude deste grupo do Dallas.
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